Castelo Branco

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Mas nem sempre é necessário tornar-se forte. Temos que respeitar a nossa fraqueza. Então, são lágrimas suaves, de uma tristeza legítima a qual temos direito. Elas correm devagar e quando passam pelos lábios sente-se aquele gosto salgado, límpido, produto de nossa dor mais profunda.

Clarice Lispector - A Descoberta do Mundo



Capítulo I

Castelo Branco



As estrelas queimavam.

No curso do rio qual separava o continente, via-se claro – mas indiferente aos olhos de outros – a separação natural que a água exercia em terra. Duas faces de uma mesma ligação; dois territórios para dois reis e irmãos.

Localizada no extremo noroeste, além das planícies e dos milharais, da floresta extensa de coníferas sustida próximas as montanhas, crescia e expandia o reino branco do mais jovem rei; mas poucos conheciam seu verdadeiro nome ou mesmo o pensamento vivo sob a noite em sua fortaleza.

Desde o ruir da esquecida unificação, ideologias espalharam-se face ao continente portados pelos corações dos homens. Logo, ao decorrer dos astros, províncias subsequentes surgiram, pequenas cidades e pequenos controles; e entre o caos do desentender e acirrar, duas sobrepujaram-se sobre os demais.

Na revolução por dias melhores, amaciados pelas promessas de paz, dois homens obtiveram poder. Os pequenos, à proporção em que a força crescia, foram massacrados. E quando o auge do acirramento proclamava guerra, os supostos líderes propuseram um pacto, uma ideia de apartação ou uma divisão entre as gerações que se sucedeu e iria. Dois reinos vivos pela geração dos irmãos.

No coração do extremo noroeste um rei refletia consigo, sozinho sob o luciluzir das frias estrelas da madrugada.

Os passos do monarca ecoavam secos pelo contraste branco do mármore e o negro da ardósia. O silêncio profanado por inerente agitação incomodava-o numa agressividade incoerente, pois repugnava qualquer sentido de ansiedade. Há tempos em que tem sonhos e pensamentos ilegíveis, acordando durante a noite alta, aspirando ou receando alguma coisa oculta das brumas da mente. Temia por espiões. Temia por sua vida. Não poderia morrer. O fato do perecimento casava-lhe náuseas como uma doença ainda sem cura. Não se sujeitaria a morte em porte da complacência e compreensão. Não. Nunca.

Ao auge do desatino, o rei ouve um suave gemido

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Ao auge do desatino, o rei ouve um suave gemido. A luz noturna derivada das janelas ovais e da sacada mesclava-se a luz alaranjada e silenciosa das tochas e velas. A oscilação quieta das cores refletia-se indiretamente ao fino tecido róseo de brilho opaco qual revestia a rainha de longos cabelos negros, mechas suaves do puro piche que caiam sobre os ombros em confronto à suavidade da vestimenta.

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⏰ Última atualização: Dec 12, 2018 ⏰

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