Primeiro Conto - Parte 1

264 19 6
                                    


E se...

E se você pudesse mudar o passado, o presente ou o futuro? Destruir um vida e construir outra? Se cada uma das suas ações fosse apenas uma reflexão do que te acontece, quem você seria? E se pudesse ter a vida que desejasse, o amor da sua vida os filhos do seu sonho? Seria feliz assim? Ou tudo não passaria de uma grande ilusão? Cuidado com o que você deseja pois pode muito bem virar realidade.

Não era do tipo supersticioso, não acreditava em nenhuma religião, nem em nada que não pudesse ver, tocar ou cheirar. Mas como com quase tudo na vida, nós podemos pagar pelas nossas línguas e até pelos pensamentos.

Era noite fria, e para variar eu não tinha sono, nunca dormi muito bem. Costumava ter pesadelos ruins, e depois que quase me imaginei sendo a causa da morte de Nicolas e Lunna, minhas noites não tinham melhorado em nada. Foi assim que me entreguei novamente a bebida, e Matteo foi concebido, no fim mesmo com todas merdas que eu fazia meu filho tinha sido meu acerto. Um dos poucos, ao menos ele seria feliz e teria a mulher que amava, e mesmo Nicolas tivera que se dobrar a isso.

Avistei um balanço se movendo ao sabor do vento, enquanto raízes retorcidas e sombrias projetavam sombras sinistras ao seu redor, em um minuto não tinha nada e no seguinte uma garotinha se balançava nele.

Talvez eu não tivesse olhado direito, a noite podia confundir os olhos. Era tarde para que uma garota daquela idade, talvez menos de doze anos, estivesse sozinha.

Caminhei na sua direção e antes que pudesse chama-la ela o fez.

- Olá Enrico. - ela tinha uma voz muito madura para uma menininha.

- Olá. Onde seus pais estão?

- Eles morreram, há muito tempo... antes de você nascer...

- Isso seria impossível.

Aquela garota estava começando a me dar nos nervos. Ela parou de balançar e me encarou seus olhos eram violetas, nunca tinha visto nada parecido, seus cabelos eram negros como uma noite sem estrelas e sua pele quase translucida de tão branca. E por mais que aquele fosse o corpo de uma garotinha, que não deveria ter mais do que doze anos talvez menos, seu rosto parecia já ter vivido e visto muito mais do que isso.

- Impossível é só uma palavra que as pessoas inventaram para coisas que não conseguem explicar.

- Parece muito filosófico para alguém da sua idade.

Ela riu, e foi como se milhares de sininhos tilintassem ao mesmo tempo.

- Eu sou mais velha que a filosofia também.

- Tudo bem, mas eu posso te levar para quem cuida de você. Pode me dizer um nome.

- Se pudesse ter a coisa que você mais deseja, qualquer coisa, não importa o quão absurdo, sem sentido ou impossível fosse o que você desejaria?

Por alguns segundo seus olhos pareceram brilhar de uma forma sedutora, terrível... mas não conseguia desgrudar meus olhos dos dela.

- Ter a mulher que eu amo. - sem meu consentimento meus lábios se abriram, proferindo as palavras que eu tinha tentado silenciar a todo custo.

- E como sabe que o que você quer é o mesmo que você precisa? - ela parecia divagar - O quanto quer? Me diga Enrico o quanto quer Lunna? Estaria disposto a sacrificar tudo o que tem por isso?

Parecia uma barganha maligna, e por mais que uma parte de mim soubesse, e outra se quer acreditasse naquilo, outra ainda mais sombria e profundo gritava que "sim".

Especial de Final de AnoWhere stories live. Discover now