Capítulo Um: Dante

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- Uma mulher e um bebê? Mas que merda de brincadeira é essa?

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- Uma mulher e um bebê? Mas que merda de brincadeira é essa?

  Porque só poderia ser uma droga de uma brincadeira de muito mau gosto. Talvez uma das brincadeiras de Nicholas Ferraço, um dos meus amigos do Bridge e francamente, o homem mais sempre disposto a pregar uma boa peça em qualquer pessoa.

  Afinal, que outra coisa poderia justificar o que Eric acabara de informar: Uma mulher e uma criança na minha sala de espera? Não. Eu não era nenhum adolescente tolo que não se cuidava ao se enrolar em cada par de pernas femininas que encontrava. Adorava sim, sempre que possível, me enrolar entre pernas femininas - principalmente de loiras esguias - mas sem dúvida, tomava todas as precauções para não terminar preso em um dos golpes mais antigos da humanidade.

- Sim, senhor. - Eric, meu assistente, prosseguiu. - E ela disse que não irá deixar o prédio sem falar com o senhor.

  Respirei fundo procurando por paciência. Segundos depois me lembrei de que não adiantava procurar pelo que nunca tive.

- Infelizmente para ela, não terá outra escolha senão acampar aqui então. - Enfiei os documentos de qualquer jeito na minha pasta, descontando neles um pouco da minha irritação. - Não tenho tempo para esmolas hoje, meu avião parte em uma hora.

   Não queria sequer pensar no risco de perder a adorada viagem para o meu santuário. Todo o clima natalino da cidade do Rio de Janeiro já tinha se tornado insustentável há dias. Não suportava mais as guirlandas, as árvores, o maldito conto sobre o maldito Ebenezer Scrooge!

   Tudo o que eu desejava era poder ficar estirado numa praia, muito bem acompanhado e esquecer o resto do mundo.

   Dane-se se havia uma louca na minha porta com um bebê, era lá que ficaria. E que passasse até o ano novo se quisesse!

- Não desejo esmolas, doutor Ávila.

  A voz feminina ríspida me fez parar o que estava fazendo. Não pelo tom, mas pelo reconhecimento imediato que acionou minha memória.

  Ah, ela.

  Eu devia ter me lembrado disso. Mas tinha a mania de afastar da memória assuntos desagradáveis. E Isadora Mariôto, com certeza, era um assunto muito desagradável.

- Isadora. - Disse, finalmente canalizando o que restava das minhas energias para fitá-la.

  E lá estava ela, nada surpreendente como sempre. Vestida com os usuais jeans puídos e uma camiseta dos Natiruts que já havia tido dias melhores. Na verdade, analisando-a bem, sempre me perguntei se ela já havia tido dias melhores.

  Morena, baixinha e sem dúvida mais curvilínea do que o meu gosto aprovaria. Os cabelos cacheados estavam presos em um rabo de cavalo alto, mas alguns fios se desprendiam do penteado e caíam sobre suas têmporas. Os olhos irradiavam irritação, mas também se acomodavam sobre olheiras um tanto quanto profundas, mesmo escondidas atrás dos óculos redondos de grau. Nos braços, estava o garotinho de pouco mais de um ano. Meu sobrinho, Gabriel Ávila, que anunciava sua presença no escritório com um choro estrondoso.

Mil Beijos de Natal | Um Conto (Apenas Degustação!)Onde histórias criam vida. Descubra agora