"Prólogo"

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Sentado observo a calma noite no bairro em que vivo. As últimas noites se repetiram desta maneira: Um banquinho velho, a vista do centro, memórias e esperança. Esperança sempre esteve comigo, assim como algumas memórias agonizantes quais nunca me largaram de maneira alguma. Lá dentro está minha filha, dormindo como um anjo em minha cama. Os vizinhos estão sendo barulhentos como sempre. 

Há um rapaz ao lado que simpatiza comigo, seu nome é Juan. É um rapaz vivido e sábio. Sr. Juan me ajuda quando pode, seja com arroz ou leite. Eu jamais pedi algo para ele, mas ele faz de boa vontade. Ao entrar em seu apartamento, pode perceber de cara as imagens e quadros de Jesus estampados em sua parede. Eu admiro a sua forte crença, mas perdi a minha a um bom tempo. Fui assolado por um acontecimento que muitos consideram normal, mas para mim nunca será. A minha única esperança está dormindo em meu quarto agora, meu anjo, é nela em quem acredito, e lutarei para lhe conceder uma boa vida.

 Ainda acordado, garoto? – A voz de Juan me tira de meus profundos pensamentos. Ele se senta igualmente em um banquinho na sacada ao lado.

 O mesmo de sempre senhor, você sabe... – Abro um sorriso forçado para ele.

— Entendo. Você quer? – Me oferece um pouco de sua bebida.

— Ah não, obrigado senhor.

— Eu esqueço que você não gosta dessas coisas. Continue neste caminho! – Seu tom de voz é o mesmo de um senhor de idade comum: Rabugento. Mas por trás disso há uma bondade imensa escondida. Embora ele não mostre isso para os demais, eu o conheço bem.

— Como está a garotinha? – As fumaças de seu cigarro viajam pelos ares.

— Layla está descansando.

— Passe aqui assim que chegar amanhã! – Ele diz.

— Passarei senhor.

Este homem é uma simpatia em pessoa, mesmo escondendo isso ao máximo, ele mesmo sabe que seu dom de esconder já foi embora a um bom tempo. Juan serviu ao exército quando ainda era jovem, e ele tira horas de seu dia para me contar sobre as guerras e também de suas várias namoradas. O senhor consegue tirar gargalhadas de um rapaz vazio e carecido de sentimentos. Logo após o falecimento de minha esposa, me mudei para o Texas, foi quando Juan me acolheu com toda a sua bondade e simplicidade. Simplesmente não consegui viver na mesma cidade depois daquele dia... Minha filha, Layla, jamais conseguiu ver ou tocar o rosto de sua mãe, e isso me destrói.

Minha esposa Layla era uma mulher doce e de bom coração, trabalhava em uma floricultura perto da minha antiga casa, já eu trabalhava em um mercadinho como caixa. Hoje trabalho em um restaurante aqui perto. Sou a porra de um limpador de cozinhas e banheiros, enquanto isso tenho que ouvir baboseiras dos cozinheiros.

— O senhor já melhorou daquela gripe? – Retorno ao mundo real, enquanto ele ainda continua o seu cigarro, sereno.

— Essa gripe vai e volta filho... Já estou acostumado com isso!

Ele sempre diz para mim não se preocupar com a sua saúde, mas vê-lo fumando e bebendo desta maneira me entristece. Não consigo imaginar perder mais uma pessoa. Não posso ficar mais fodido do que já estou.

— Preciso entrar agora jovem, vá descansar! – Juan se levanta de seu banquinho e logo entra.

Entro para dentro assim que começa a ventar mais forte, e meu anjo ainda dorme, espalhada na cama. Um sorriso toma o meu rosto ao vê-la daquela maneira, tão pura. Como ela está toda atravessada pela cama, decido me aconchegar na poltrona ao lado. Dormir rápido não é algo que costumo fazer, por isso sempre vou para a sacada do apartamento, e assim converso com Juan quando ele está.

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