Ato I

146 14 10
                                    

Eu adoraria poder viver naquele instante!

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Eu adoraria poder viver naquele instante!

Repito na mente, como se fosse hoje, os braços dele ao meu redor, enquanto sua voz... sua voz apoteótica era o único caminho que eu conseguia (e poderia) seguir. Naquele momento, eu (Theo, não o Visconde de Chagny) me transportei para o teatro em Paris, para o mundo que passamos meses encenando, para dentro da música noturna que existia enquanto ele estava comigo.

O problema foi compreender que não era Benjamim que me cercava. O Ben de verdade... eu não sei se um dia cheguei perto do Ben de verdade.

Às vezes, acredito que eu já sabia que não poderia conhecê-lo desde a primeira vez em que o vi, outras vezes, sou capaz de reconhecer o truque de auto-defesa... mantenha as mãos à altura do rosto, Theodor. Siga em frente... deixe partir. E é difícil... parar de reconstruir a Nova York em que vivi há dois anos, parar de olhar para os prédios altos, para as estrelas artificiais das janelas, para aquela sombra sufocante que vagava pelo teatro.

Chovia forte, era cedo, os carros na rua eram poucos... poucos para o padrão novaiorquino. A Broadway é sempre movimentada, repleta de cores, com seus outdoors iluminados, mesmo nas primeiras horas da manhã (com o céu ainda escurecido, principalmente diante do tempo nublado).

Eu e Louise Diaz (nossa Christine) já estávamos na remontagem de Fantasma da Ópera desde o off-broadway. Durante este tempo, nos tornamos amigos... eu, o novato que interpretava Raoul, ela uma estrela que, inclusive, já havia concorrido a um Tony Awards.

Criamos, na pré-temporada, o hábito de esperar um ao outro com café. Daquela vez em específico, comprar as bebidas ficou a meu encargo — os nomes escritos nos copos nunca eram os nossos, e sim de nossos personagens, uma brincadeira interna.

Se tratava do primeiro ensaio da produção... o primeiro ensaio para a estreia na Broadway. Fariam modificações no espetáculo, dentre elas, o ator principal, pois o antigo, se demitiu devido a diferenças artísticas, com um dos diretores (eu e Louise apartamos a briga dos dois e quase apanhamos junto).

Eu ainda não conversara com o ator substituto, mas no instante em que Benjamin desceu do Táxi, eu soube que ele seria o novo Fantasma. Talvez, por causa do cabelo escuro e dos ombros largos, talvez, pela pose que ele já estampava... ou quem sabe, tenha sido uma premonição; um aviso de meu cérebro dizendo para eu manter distância.

Ele usava um moletom cinza meio largo e falava ao telefone. Nem olhou para o taxista, só desceu e passou por mim (deve ter me reconhecido como um colega de trabalho, pois abriu um sorriso torto no rosto e acenou brevemente, antes de continuar sua conversa no celular).

Louise chegou pouco tempo depois, toda atrapalhada com o guarda-chuva. Precisaria de, no mínimo, seis mãos para conseguir dar conta de tudo o que fazia ao mesmo tempo. Eu a ajudei, ela pegou seu expresso, fomos juntos para dentro do teatro e buscamos nossas cadeiras naquele círculo que consistia a primeira reunião para decidir o rumo do espetáculo.

O Canto do FantasmaOnde histórias criam vida. Descubra agora