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Do outro lado de uma janela embaçada, eu observava a pior época do ano se aproximando. Do outro lado da calçada, um pai e uma filha espalhavam luzes por toda a faixada da casa, enrolando ao redor de um grande pinheiro. Árvores mortas por toda a parte esperando a presença de um velho gordo vestido de vermelho. Grande coisa.

O cheiro de pão quente passeou da rua até a brecha da minha janela, invadindo o meu quarto. Ok, devo admitir, essa é a parte do menos pior do natal, talvez a única boa. As comidas servidas na mesa e ao redor dela, um número considerável de pessoas que se querem bem. Isso nunca foi real para mim.
 
Percebi que o meu celular estava vibrando e corri para atendê-lo, nada deveria ser pior do que ficar encarando o teto em um momento de tédio como esse. Era Vilde com um convite.

- É minha primeira festa de natal, minha mãe vai estar fora pela primeira vez! Por favorzinho? - Ela implorava, conhecendo o quanto eu desprezava datas como essa.

- Isak, Isak, Isak! - Várias vozes femininas começaram a gritar pelo telefone.

- Ei, eu não sabia que eu estava no viva-voz! - Reclamei, brincando.

- A Vilde chamou todo o grupo de teatro! - Ouvi a voz de Eva. - Quando eu digo todo, é todo.

- Isso é para significar alguma coisa? - Cocei minha nuca, me fazendo de desentendido.

- Em alto e bom som: Aquele loirinho vai vir. - A Chris falou, como se estivesse de boca cheia.

- Loirinho? - Fingi que não sabia de quem elas estavam falando, mas eu sabia muito bem. Na verdade, ele era a única razão pela qual eu tinha entrado no grupo de teatro.

Na primeira vez que ele passou por mim, ele carregava um cigarro acima de uma das suas orelhas, enfeitando seu cabelo mel. Seu casaco estilo colegial cobria a sua pele, que eu gostaria de desvendar. Era como se tudo ao redor tivesse parado.

Poderia ser só coisa da minha cabeça, mas depois que eu tinha descoberto seu nome através da lista para uma peça, ele parecia estar prestando mais atenção em mim. Apesar de ele ser um dos mais populares do colégio, ele não deixava essa fama torná-lo, de qualquer forma, antipático.

- Qual é, Isak, a gente sabe muito bem como você olha pra ele. - Sana disse, sincera.

- Ok, mas vocês acham que ele é...? - Quero dizer, ele só tinha olhado pra mim umas três vezes, eu não queria que fosse um engano. No fundo, eu sabia que não era.
 
- Eu tenho certeza. - Vilde falou um pouco alto.

Ao contrário do que eu esperava, tudo ficou bem mais fácil depois que eu me assumi para as minhas amigas. Bem, elas já sabiam o que eu era, mas a luta interna pela qual eu estava passando me fazia duvidar se eu realmente iria receber o apoio delas. Os garotos também se mostraram compreensivos, mas nada como a arma secreta que a Vilde tinha.

Para a minha sorte, seu "gaydar" é incrível e ela já me livrou de poucas e boas. É uma troca, digamos assim. Eu livro sua pele e acabo lucrando com isso, se é que me entende.

- Vamos, senhor arrumadinho? - Eskild adentrou meu quarto e logo depois se arrependendo, já que Eva tinha acabado de se jogar na minha cama. - Nada disso!

- Tão confortável... - Ela suspirou, como se tudo o que quisesse era acampar naquela cama com seus dois melhores amigos.

Mistletoe | Evak.Onde histórias criam vida. Descubra agora