Nosso amor é vintage

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Almas-gêmeas. Um conceito pouco utilizado atualmente, talvez pela falta de fé de que tal coisa exista. As pessoas de hoje em dia não ligam muito para isso, não acreditam que existe uma pessoa especialmente para si em algum lugar do mundo, esperando por ti. A cada nova reencarnação, as almas continuam sendo destinadas uma para a outra, e os corpos donos dessas almas sempre se reencontram em um determinado período de nossas vidas.

Park Jimin e Jeon Jeongguk são duas almas-gêmeas que há dez séculos se reencontram das maneiras mais inusitadas possíveis. A cada nova vida, as almas correm em direção à outra, durante dias, semanas, meses ou anos; mas, no final, sempre acabam juntas. Eles nunca souberam de seus passados, que estão juntos há séculos e que sempre se amaram. Já chegaram a pensar, em uma época ou outra, que são almas-gêmeas, que foram feitos um ao outro.

Bem, eles estão certos.

Suas almas nasceram em anos diferentes – a de Jimin veio dois anos antes que a de Jeongguk – mas elas se completam da mesma forma, seja lá quem é mais velho ou mais novo em outro universo paralelo. As almas continuam se amando, mesmo que os corpos se odeiem. Eles continuam ligados um ao outro, querendo ou não. Em todos os casos, no final de suas vidas, eles querem continuar juntos. Afinal, foram feitos destinados um ao outro.

Já se encontraram inúmeras vezes durante esses dez séculos. Já passaram por variados corpos e idades de nacionalidade e sexualidade diferentes. Foram homens gays em muitas das situações em que se conheceram; foram mulheres lésbicas uma ou duas vezes; Jeongguk foi uma mulher transexual que conquistou o coração do coronel Park Jimin, este que, em outra reencarnação, foi uma travesti muito conhecido pela pequena cidade de Omelas – a qual ambos foram obrigados a fugir após a descoberta de seu relacionamento.

Também já passaram por vários países, já tiveram filhos e netos das mais variadas nacionalidades. Foram norte-americanos, ingleses, alemães, japoneses, coreanos – como são atualmente – e entre várias outras. Também se conheceram de diversas formas, desde os mais clichês até as mais estranhas e engraçadas. Como na vez que se conheceram através de uma briga de bar, no século XV, em que Jeongguk foi baleado e Jimin, desnorteado e confuso, saiu correndo pelas ruas com o desconhecido em suas costas em direção ao hospital mais próximo. Jeongguk sobreviveu, apesar de ter perdido muito sangue no meio do caminho.

Ou em outra vez, onde Jimin era uma mulher bela, latina, e dona de casa. Jeongguk era um homem esbelto, que por onde passava, arrancava suspiros de todos. Ele era novo na cidade e não conhecia ninguém; até conhecer a garota de olhos claros e cabelos escuros, com alguns traços asiáticos apesar de não saber falar nenhuma língua asiática. Se encontraram, naquele ano de 1912, quando Jeongguk fora assaltado – por ninguém mais, ninguém menos, que sua alma-gêmea.

Aquela encarnação foi a qual as almas mais demoraram para se juntarem novamente, afinal Jeongguk estava sendo assaltado pela belíssima mulher. Eles apenas ficaram juntos quinze anos após o dia fatídico, com Jimin – na época, com um nome feminino latino – desculpando-se de seus atos e prometendo nunca voltar a fazê-lo. Claro que demorou para Jeongguk confiar na mulher de olhos azuis, mas sua alma e seu coração foi aceitaram-na rapidamente.

Entretanto, primeira vez que se encontraram foi no final do século XIV (catorze), ambos já velhos demais para conseguir se lembrar dos acontecimentos do dia, mas vivos o suficiente para se apaixonarem perdidamente um pelo outro. Eles não se conheciam, nunca haviam se visto em sessenta anos de vida, mas uma manhã chuvosa com direito à granizo, nas noites escuras e frias de Seul, mudou tudo isso.

***

Estava frio. O inverno congelante fazia com que o senhor Park se enrolasse em duas cobertas grossas em frente de uma lareira improvisada, tudo para evitar que as pontas de seus dedos enrugados rachassem. Sua casa pequena tinha um velho aquecedor que não servia de muita coisa, talvez estivesse quebrado há anos sem ele ao menos notar.

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