Venha criança.

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Como sempre pela manhã acordo bem cedo, animada já que no dia anterior mamãe havia dito que teria uma surpresa me esperando assim que acordasse. Ansiosa contei os minutos até cair no sono e assim que o sol apareceu já estava de pé, arrumada da cabeça aos pés com uma camiseta branca de mangas compridas e uma saia rodada que cobria meus joelhos com o azul se destacando entre a fina linha branca que percorria todo o tecido. Mais do que depressa desci as escadas, ouvindo cada degrau ranger com o toque brusco dos meus pés no meio do caminho franzi o cenho ao ver o armário vazio e nem mesmo as fotografias estavam lá no lugar de todas as nossas coisas, haviam apenas caixas enfileiradas em uma fileira. Curiosa para saber o que tinha acontecido fui rapidamente atrás dos meus pais, ambos estavam na cozinha conversando em voz baixa quando me viram ambos sorriram cúmplices.

Me sentei na cadeira perto da mulher que me deu a vida, agarrei com rapidez um dos poucos pães a mesa e mordisquei com pressa enquanto os dois se deliciavam com um pouco do café fresco. Papai lia o jornal para tentar disfarçar seu desconforto já mamãe preferia a xícara entre os dedos, o silêncio logo acabou quando ouvi o som de tosse romper aquela atmosfera. Vejo mamãe virar um pouco o corpo em minha direção e sorrir de maneira gentil ao mesmo tempo em que seus olhos permanecem fixos em mim.

- Amélia, como sabe tinha uma surpresa esperando por você minha filha e bem, você sabe que a situação não está fácil...

- Vamos nos mudar. - Interrompeu meu pai, sua atenção ficava dividida entre mim e mamãe que não o olhava com a melhor das expressões. Diferente dela, ele não era tão delicado digamos que a relação entre os dois é o clássico clichê que os opostos se atraem. Engolico, ignorando temporariamente a fome que cada vez mais gritava para ser rapidamente atendida.

- Vamos voltar? - perguntei.

A princípio minha resposta demorou a vir, o homem a pouco centímetros de mim se ocupou em tomar seu café para só depois me responder com um sorriso triste no rosto.

- Não crie esperanças em coisas bobas Amélia, não vai te fazer bem viver apenas de sonhos quando a realidade é cruel. - Retrucou, após ouvir isso abaixei a cabeça e tomei meu café em silêncio sabendo que no fundo meu pai estava certo. Não tinha motivos para discutir, já que os adultos tinham decido tudo se fizesse só seria uma dor de cabeça a mais, sabendo que perdi aquele debate preferi o silêncio do que uma discussão desnecessária. Depois de duas horas, já estavamos no carro em direção ao "novo" lar.

A cada minuto via as casas se afastando, assim como os prédios e logo a paisagem passou a ser apenas árvores altas e algumas casas entre elas. Desgrudei o corpo do banco do carro e coloquei uma das mãos sobre o lugar do motorista. - Papai...

- Já estamos chegando. - Retrucou o mais velho, nem ao menos a chance de terminar de falar tive bufei com aquilo pelo visto conversar com esses dois seria uma coisa difícil, pensei depois de jogar meu corpo novamente sobre o banco do carro. Ao inclinar um pouco o corpo na direção de uma das janelas, pude perceber alguns cartazes pendurados nas árvores e nos portões de cada casa e ironicamente todos diziam a mesma coisa.

- Desaparecidos. - Murmurei baixo para que nenhum dos dois ouvisse, mesmo assim minha mãe virou o rosto na direção contrária com o cenho um pouco franzido. Sorrio um pouco nervosa, era impossível esconder algo dessa mulher, realmente Emily tinha uma audição de dar inveja a qualquer um.

- Disse algo? - questionou Emily.

Não retruquei exatamente com palavras, me limitei a mover a cabeça rapidamente para os lados em uma apressada negativa. Mesmo desconfiada a figura feminina a minha frente se virou novamente para frente, passando a observar a simpática cidadezinha do lado de fora.

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