Um esbarrão

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O término de um dia e o início de um outro. Era meia-noite do dia 24 quando recebi a ligação dele.

— Oi, você está chegando? 

— Não, e-eu não vou pra sua casa, não peguei aquele ônibus.

Senti que sua voz estava um pouco trêmula e parecia que estava escondendo alguma coisa. Eu precisava saber o que estava acontecendo.

— Tem alguma coisa de errado? O que houve? Você perdeu a hora? Eu posso comprar outra passagem pra você se quiser.

— Eu não consigo mais fazer isso...

— Do que você está falando, Alê?

— Esse relacionamento. Será que só eu percebi o quanto está desgastado e o quanto isso tudo feriu a nós dois? Não dá mais pra continuar assim!

 — Calma, acho que você não está pensando direito! Eu to entrando agora no site, vou comprar outra passagem no seu nome e quando chegar aqui a gente...

De repente ele me interrompe como quem não aguentava mais ouvir uma palavra que saísse da minha boca. Como quem parecia não querer estar ao meu lado há anos.

 —PARA DE FALAR UM POUCO E ME ESCUTA! - disse ele alterando o tom de voz - Você não está mais aqui, tá bom? Não está sendo fácil sustentar esse relacionamento sozinho, eu não posso amar por nós dois. Começamos a namorar jovens demais e não me arrependo disso, mas eu não estou preparado pra te ver partir e não posso permitir que esse relacionamento venha ruir por causa da distância. Eu sempre disse que te apoiaria no que decidisse fazer do seu futuro, mas você nem sequer parou pra pensar em nós quando decidiu ir pra outro estado sozinha e tão de repente. Eu espero que você consiga entender. Sua vida agora é aí onde você está e a minha eu ainda não sei, mas vou continuar sem saber se eu permanecer com isso. Você não vai estar aqui pra mim e nem eu aí pra você. Você entende?

Eu não sabia bem o que responder, pois em todo momento eu só conseguia escutar. Cada palavra que ele disse ecoava pela minha cabeça e eu lutei pra segurar o choro, para pelo menos parecer forte.

 — Fala alguma coisa, por favor - insistiu Alexandre depois que ter esperado na linha por 2 minutos enquanto eu permanecia em silêncio.

Eu apenas desliguei o telefone, peguei um casaco e saí de casa. Andei pelas ruas com uma profunda tristeza de ter perdido um relacionamento de quase 2 anos por um motivo tão besta. Eu não tinha ideia de qual seria o meu destino final naquela noite, não conhecia aquelas ruas, nem as pessoas que passavam por mim me encarando ou qualquer uma daquelas casas. Depois de andar por 3 quadras, avistei um restaurante mexicano do outro lado da rua chamado El Burrito. Atravessei a rua, dando um passo de cada vez e comecei a me recordar de todos os momentos bons que já tive com Alexandre. Não me importei tanto em olhar para ver se não aparecia algum carro e é por conta disso que hoje eu estou contando essa história. Perto da porta do restaurante uma moto vinha em minha direção e eu não havia percebido, como se por um momento eu estivesse dentro da minha mente revivendo cada único dia daqueles últimos 2 anos. Quando me dei conta, a moto já estava perto demais, então dei um pulo em direção à calçada, o que me fez esbarrar em alguém.

— AI!!!!! - ouvi.

— Nossa, me perdoe, você está bem? - disse ao me virar para a pessoa que eu havia praticamente pulado em cima pra fugir da moto.

— Eu estou - disse ela se ajeitando e olhando para mim - mas acho que a pergunta que deve ser feita aqui é se você está bem.

— Eu estou sim, obrigada.

— Tem certeza? Vejo que está quase chorando, você quer conversar?

— Não precisa, acredito que esteja aqui só de passagem, não quero atrapalhar você. - falei abaixando a cabeça.

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⏰ Última atualização: May 14, 2020 ⏰

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