Capítulo Dois - A Floresta

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Claire

A seda rosa escorregou pelo seu corpo como se fosse líquida. Claire amarrou o roupão na cintura enquanto preparava-se para dormir, e vislumbrou o seu reflexo no espelho. Afastou o cabelo molhado para longe do rosto enquanto escovava os dentes e o violeta de seus olhos era realçado pelos azulejos cor-de-rosa que revestiam a parede. Seus traços sempre a atormentaram, porque era um lembrete constante de quem ela era e o que precisava ser.

Matrine.

A palavra formigou em seu pulso, e ela afastou a manga do roupão para observá-la. Gravada na pele desde o seu nascimento, o nome do clã colocava uma pressão física e psicológica em todos os seus atos. Quando descobriu a sua legilimência, sentiu-se aliviada. Tinha medo de ser uma sem-dom, ou ter algum dom inferior, o que causaria vergonha à família.

Caminhou para fora do banheiro com passos leves, temendo acordar Duvessa. A amiga havia chorado o dia inteiro, e as lágrimas só sumiram quando ela finalmente adormeceu. Claire abriu as janelas e sentiu o ar frio da noite tocar o seu corpo enquanto o vento uivava lá fora. Com delicadeza, subiu no parapeito e sentou-se, com o joelho direito encolhido perto do rosto. Puxou um livro de bolso e começou a ler, com a ajuda do luar que o iluminava.

Foi quando sentiu sua cabeça formigando, e pontadas que pareciam agulhas abrindo-lhe o crânio. Depois que descobriu o seu dom, ela tinha presenciado coisas estranhas, como se ele estivesse aflorando, mas aquilo era diferente. Era quase como se tivesse avisando a garota que alguma coisa não estava certa. A menina fechou os olhos e respirou fundo, tentando esclarecer o que estava sentindo.

Por instinto, olhou para a floresta que ficava nos limites da escola. O internato decidiu por preservá-la, já que havia lá a presença de criaturas mágicas que não podiam perder o seu lar. Viu uma agitação entre as árvores, e logo em seguida alguns feixes de luz. Ela sentia, dentro de sua mente, que alguém ali estava precisando de ajuda.

Percebeu que estava fazendo barulho quando escutou Duvessa resmungando atrás de si e virou-se, em desespero.

- O que você está fazendo, Claire? – Duvessa estava de pé, levemente assanhada e com seu pijama infantil de gatos pretos. Esfregava os olhos com sono – Você pode, por favor, ir dormir?

– Receio que não seja possível – Claire mordeu o lábio inferior, como sempre fazia quando estava nervosa – Alguma coisa na floresta está falando comigo, Duvessa, e está em perigo. Precisamos ir.

– Você enlouqueceu? A floresta já é perigosa o suficiente de dia, eu não consigo nem imaginar o que é que pode ter lá uma hora dessas.

– Bom, então eu descobrirei. Você vem comigo ou não?

– Não – Duvessa deu de ombros.

– Tá – Claire saltou da janela, concentrando sua magia para que a queda de dois andares não a machucasse. Flutuou até que seus pés tocassem o chão.

– VOCÊ PERDEU O JUÍZO? – Duvessa gritou com as mãos no parapeito da janela, olhando para baixo com uma expressão que era a combinação perfeita de raiva com choque – Uma altura dessas pode te matar!

– Mas eu não morri, não foi? Eu preciso ir – ela sentia a cabeça formigar cada vez mais, e precisava criar coragem para ir até a floresta – e essa é a última vez que eu vou te chamar.

– Então não me deixe cair, ok? – a amiga bufou e então passou as pernas pela janela, pulando na direção dela, que focou todo o seu poder para que a amiga não sofresse o impacto da queda.

Quando se levantou, Duvessa ainda estava reclamando que Claire precisava parar de ser tão impulsiva, mas a menina não ligou. Tinha o seu objetivo em mente e começou a correr, atravessando o gramado do Instituto Saint Cyprian com medo de ser pega pelos guardas noturnos. Depois de correr metade do caminho, desejou que tivesse visto os guardas do que aquela pessoa para de braços cruzados na sua frente.

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⏰ Last updated: Nov 23, 2018 ⏰

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