I. Profundeza | Primeiro Capítulo de O Filho do Rei

O Filho do Rei | I. Profundeza

O FILHO DO REI

Moreira César

Epítome

— Mas, espere um momento. Se você não é de Kadov, de onde você é?

— Não tenho certeza. O que é Kadov?

— Todas as terras e águas são Kadov. — Ofin tentou explicar.

A garota mostrava no rosto que estava muito atordoada.

— Kadov é o que chamam de planeta. — Jônata foi mais técnico.

— Sério. Não estou mais na Terra?

— Não, agora você está na grama.

— Não é isso que quero dizer. Meu planeta se chama assim: Terra.

Bárbara é uma criança passando por problemas de falta de atenção com sua família. Numa tarde, ela é surpreendida pela aparição de um anjo dizendo que estão precisando dela, e que ela encontrará a entrada para um lugar chamado Kadov. Na manhã seguinte, enquanto procurava algo para se entreter durante a chuva, Bárbara encontra a entrada de um mundo belo como nos contos fantásticos, de animais, florestas, cavaleiros, castelos... Mas nem tudo são flores. Lá, o caminho dela se cruza com o de dois garotos: Ofin, um amável camponês, que é muito mais do que aparenta ser; e Jônata, de personalidade forte, com instabilidades. Os dois se conheceram por causa de sonhos que tiveram unindo-os no resgate do pai de Jônata, o rei daquele país, que desapareceu e, suspeitosamente, logo o gêmeo dele assumiu o trono.

O que está por trás do desaparecimento? Estariam os três sendo guiados pela mesma Força? Qual seria o objetivo final Dela? Com bravura e fortes emoções, os três passarão por situações que vão requerer deles honra, unidade, coragem e aprendizado. Juntos, descobrirão que há muito mais do que podemos conhecer, terão de ter força para combinar suas diferenças, ganharão a cooperação de novos amigos (Um muito especial), e o mais importante: descobrirão que, às vezes, quem precisa ser salvo somos nós.

***

1. Profundeza

Bárbara chorava atrás da casa, e as lágrimas desciam por seu fofo rosto branco como gotas de chuva no vidro. Sentia-se tão infeliz e já não sabia o que podia fazer. Uma borboleta pousou numa zínia.

Recém havia começado o verão, o céu servia de rede para as nuvens deitarem sob a calidez do sol. A borboleta foi enxotada por um grito vindo do interior da casa.

— Bárbara, cadê você!!?

Bárbara estava em um daqueles dias como os que nós temos quando estamos muito tristes por causa de uma pessoa que amamos. No caso dela, essa pessoa era seu irmão, embora não somente seu irmão, sua mãe e seu pai também. O irmão de Bárbara, Damião, é mais velho que ela, tinha dezesseis anos, enquanto ela tinha nove. Damião passava quase o dia todo em jogos eletrônicos, fechado em seu quarto, de onde vinham altos barulhos destes jogos. Sua mãe, Helena, mal tinha tempo. Ela era responsável por administrar uma rede de postos de gasolina e sempre estava saindo com seu carro, falando ao telefone ou digitando no computador. O pai, por sua vez, quase nunca estava em casa, podendo ficar semanas sem aparecer, ele tem uma fazenda em um estado vizinho. Assim, Bárbara passava os dias praticamente só, buscando algo com que se entreter e cada vez mais acreditando que, talvez, não haja uma saída, até que cresça.