Capítulo 2

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Noite de 9 de Abril de 1912, Southampton

Poppy continuava a me arrastar pelas ruas de Southampton ainda sem me dizer para onde íamos. Quando ela soltou meu braço para poder segurar a barra do vestido senti falta de seu toque. Imaginei como seria se nossas peles de fato se tocassem, sem a presença das roupas, mas nas circunstâncias atuais, não queria que ela pensasse que eu fosse um libertino qualquer.

E querendo ou não, eu ainda estava noivo e nem sabia qual era sua ligação com minha futura esposa.

_ Você e Elizabeth são amigas? – perguntei como se entrasse em um terreno desconhecido, um campo minado onde um passo em falso e minha cabeça iria para os ares.

Ela balançou a cabeça em negativa, sem me olhar para responder, apenas vidrada nos estabelecimentos abertos como se procurasse algo neles.

_ Nossas famílias tem alianças, meu irmão mais velho se casou com uma das irmãs dela – agora as coisas faziam mais sentido. – Temos bastante contato, mas digamos que não nos encaixemos nos mesmos padrões.

_ Não sei se consegui entender – apertei o passo para a alcançar quando ela começou a andar mais rápido. Poppy finalmente se virou para mim.

_ Ela é a pessoa mais santa e criada para casar que eu conheço – respondeu. – E apesar de eu não estar querendo dizer que sou uma mulher qualquer, acabei de sequestrar o futuro marido dela para ver se ele se ele esquece seja lá o que for que o está deixando com essa cara de cansado.

_ O casamento está me deixando assim – respondi com sinceridade. – Me juntar com Elizabeth foi ideia do meu pai, isso fará bem para nossos negócios que um dia serão apenas meus.

Poppy parou bruscamente no meio da calçada.

_ Então vamos fingir que você não está prestes a casar, que não tem nenhum negocio pra herdar e que está na cidade para se divertir.

Sorri, sem saber o porquê ela estava fazendo isso por mim.

Ela tomou minhas mãos mais uma vez e entrou no bar bem em nossa frente. Não imaginava que uma mulher como ela entraria em um local cheio de homens caindo de bêbados, mas lá estávamos nós, com roupas de gala no meio de pessoas que tentavam entender quem éramos e porque estávamos ali.

_ Aqui está, bebe – Poppy me entregou um copo grande de cerveja, cruzou os braços e esperou. Eu não tinha nada a perder mesmo. Virei a caneca com tudo, mas não consegui terminar nem mesmo metade. – É isso que você chama de beber?

Poppy pediu mais um copo cheio, sem que eu esperasse ela virou tudo de uma vez, derramando um pouco em seu vestido. Meu queixo caiu e os rapazes do lugar começaram a gritar em comemoração pelo que tinham acabado de ver.

Ela com certeza era corajosa.

_ Esse daqui meus amigos – ela falava alto. – É um grande colega meu, mas um marica que está prestes a se casar por obrigação e que não consegue virar um copo de cerveja.

Houveram gargalhadas altas. Em uma situação dessas, provavelmente qualquer homem teria se sentindo ofendido, mas não consegui segurar a gargalhada.

De repente uma musica escocesa começou a tocar alto, instrumentos e mais instrumentos que s misturavam em uma contagiante melodia alegre. Como se me conhecesse a anos, Poppy largou a cerveja, tirou os sapatos, pegou em meu braço e me arrastou para o meio do bar, onde começou a girar ao meu redor enquanto as pessoas batiam palmas no ritmo da musica. Eu já não sentia nada que não fosse alegria. Principalmente quando seus cabelos se soltaram dos grampos e voaram como uma tocha, como chama viva da qual eu não me importaria de colocar a mão. Seu vestido girava e girava e em câmera lenta eu via em seu rosto o mais belo sorriso que uma mulher poderia ter.

Eu não sabia nada sobre Poppy White, mas queria me perder em suas historias e em tudo o que ela poderia me proporcionar. Tudo o que provavelmente Elizabeth Wilson jamais me daria.

A música continuou, segurei suas mãos e amaldiçoei minhas luvas por não permitirem que eu sentisse sua pele.

_ Esse é só o começo da sua noite, Sr. Klaus – e eu sabia que era mesmo.

Não demoramos ali, ela ainda tinha muito o que me mostrar.

A Ultima Noite (conto)Onde histórias criam vida. Descubra agora