Capítulo 2

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Jasper seguiu Alice pelo ambiente, notando os olhares dos senhores sobre ela. Alguns disfarçavam, escondendo-se atrás de jornais. Outros a miravam abertamente, uma expressão abobalhada no rosto. Um recebeu uma cotovelada nada discreta de uma (provável) esposa. A mulher parecia chateada e voltou o rosto para Alice, fulminando-a com o olhar. Alice nem notou. A mesma mulher encontrou seu rosto, e sua feição mudou totalmente. O ar deslumbrado tomou conta de seu traços.

Jasper não ficou surpreso. Vampiros causavam enorme fascínio nos humanos. Era uma das formas de atrair comida. Encante a presa, e a presa só saberá que corre perigo quando for tarde demais para fugir.

Era uma bela tática de caça.

A veia no pescoço da mulher pulsou, seus batimentos cardíacos acelerando conforme ele se aproximava.

Jasper tentou não pensar nisso, mas era impossível.

Ele estava com fome e queria comer. Agora.

Não.

Não com tantos humanos, e não com Alice aqui. Ele precisava descobrir quem ela era, o que queria, e se recusava a fazer uma chacina. Não hoje.

Esperou que Alice se sentasse para acompanhá-la e notou que o ambiente não era exatamente o que parecia. Fazia tempo que não via casas de chá verdadeiramente, mas a estrutura insistia em permanecer quase alheia ao tempo e suas mudanças. Era uma das poucas que resistia, e Jasper não sabia dizer como não havia falido. Era possível notar as garras do tempo nos bancos de tecido sintético.

Observou-a por cima da mesa. A vampira segurava uma xícara de café com as duas mãos, soprando a fumaça para longe como se realmente considerasse tomá-lo. Ele se perguntou por um instante se ela realmente pensava em fazê-lo.

Depois, abandonou a xícara na mesa e pegou os talheres próximos ao bolo, sobre um pratinho de porcelana. Parecia uma humana nervosa com seu primeiro encontro. Talvez fosse, talvez Alice considerasse aquilo um encontro, mas também poderia ser tudo apenas um truque. Se para os humanos ou para ele, ele não sabia. Possivelmente os dois.

Ele se ajeitou na cadeira, usando o movimento como desculpa para curvar os ombros e puxou o chapéu ainda mais para baixo.

Hora de descobrir.

— Por que tem os olhos dourados?

Alice o analisou, o olhar deslizando de cima para baixo e voltando a encará-lo.

— Certo. — ela descansou os talheres não usados na mesa — meus olhos são assim porque só me alimento de animais - antes que Jasper pudesse abrir a boca para questionar, ela continou — E sim, isso é possível. Eu gostaria de dizer que é tão bom quanto o gosto de sangue humano, mas não posso. Nunca matei ou provei um humano, na verdade. — Isso o surprendeu — Você também conseguirá fazê-lo, apesar de ser mais difícil para você por, bem... — ela levantou a mão delicada num gesto que apontava para ele — seu passado. Mas tenho fé em você. — Havia empolgação na última frase. Um sorriso suave se desenhou nos lábios de Alice e ela cruzou as mãos por cima dos pulsos, num gesto delicado — Você não está sozinho como pensa e eu estarei lá para ajudá-lo.

Jasper ergueu uma sobrancelha, meio cético.

— É mesmo?

Não era como se estivesse acostumado a receber ajuda.

Alice deu de ombros.

— Eu não tenho nada para fazer nos próximos séculos. Você tem?

Jasper estava certo que aquilo era uma piada. Ela não poderia estar planejando passar os séculos seguintes com ele, poderia? Ela não seria tão louca...
Jasper a analisou. Sim, seria.

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⏰ Última atualização: Sep 13, 2021 ⏰

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