O acidente

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Acordei com um pressentimento ruim, como se algo de terrível estivesse para acontecer. Talvez fosse por causa do sonho que tive novamente com aquele triângulo detestável, Bill Cipher. Já se passaram cinco anos desde o Estranhagedom, aquele evento bizarro e assustador que marcou uma das maiores aventuras da minha vida.
Sentada na cama, penteei meus longos cabelos castanhos. Levantei-me e fui até o espelho do guarda-roupa, sorrindo ao ver meu reflexo. Hoje era o último dia de aula. Dipper terminou a escola mais cedo e recebeu seu diploma aos 16 anos! Ele entrou na faculdade dos seus sonhos, e eu não poderia estar mais feliz por ele. Agora era a minha vez. Faculdade de Artes, aí vou eu.Passei um gloss rosa nos lábios, admirando meus dentes finalmente livres do aparelho. Foi um alívio enorme quando me livrei daquele metal todo na boca.Olhei para a minha roupa: uma blusa regata preta que destacava meus seios pequenos, uma calça jeans azul-marinho rasgada e uma sapatilha preta básica. Estava pronta para a escola!Desci as escadas e fui para a cozinha, onde meus pais estavam. Abri a geladeira e peguei uma maçã e uma garrafa de suco.– Não vai almoçar, querida? – perguntou minha mãe.– Hoje não, mãe! Vou ajudar as meninas com a decoração do baile.Minha mãe sorriu, e meu pai abaixou o jornal, me lançando um olhar curioso.– Com quem você vai ao baile?Ele levantou a sobrancelha, demonstrando um pouco de ciúme e preocupação.– Estava pensando em ir sozinha.– Hum.Foi a única resposta do meu pai. Olhei para minha mãe, que segurava o riso.– Tenho que ir! Tchau, mãe! Tchau, pai!– Filha! Seu irmão vem passar o final de semana com a gente!Ela gritou enquanto eu corria para a porta. Sorri, fazia tempo que Dipper não nos visitava.– Maravilha!O caminho até a escola era curto, então caminhei devagar, comendo a maçã e tomando um gole do suco de vez em quando. O sonho ainda estava fresco na minha mente, especialmente as palavras de Bill."Estrela Cadente, você vai precisar de mim! E eu vou tomar tudo o que você tem! Inclusive sua pureza."– Minha pureza é minha e de mais ninguém – murmurei para mim mesma enquanto andava.Ao me aproximar dos portões da escola, vi que tudo estava enfeitado e uma faixa gigante dizia "Bem-vindo, formandos". Sem querer me gabar, mas eu que fiz.Passei pelo portão, cumprimentando alguns alunos, e fui para o ginásio onde ocorreria o baile. Algumas das minhas amigas já estavam lá.Olhei ao redor e senti aquela sensação estranha novamente, só que mais forte. Tive a impressão de ver Bill, mas ele logo desapareceu entre as pessoas.– Bill?Senti meu corpo gelar. O que estava acontecendo?– Quem é Bill, Mabel? Seu novo namorado?A voz da minha amiga Ely me despertou. Virei-me para ela com um sorriso.– Ah, não! Achei que tinha visto um... amigo...Nunca foi tão difícil sair uma frase da minha boca. Olhei para a loira de olhos castanhos à minha frente. Por mais amigas que fôssemos, nunca contaria a ela sobre Bill. Primeiro, ela nunca acreditaria, e segundo, contaria aos meus pais que eu estava louca.– Como vai tudo, Ely?Perguntei, entrelaçando meu braço ao dela. Precisava me distrair.– A decoração está quase pronta! O DJ confirmou! As votações para rei e rainha da primavera estão bombando! Bebidas alcoólicas foram proibidas pelo diretor! Três caras lindos querem saber se Mabel Pines tem um par?– Eu vou sozinha!– O quê? Por quê, Mabel?– Achei melhor ir sozinha! Agora preciso ver o resto do pessoal.– Sua chata!Afastei-me dela e fui ajudar os outros colegas. Ajudei com as faixas, com os cenários para as fotos, a bancada do DJ e o palco onde seria a coroação do rei e rainha da primavera.Quando quase tudo estava pronto, percebi que estava atrasada para o jantar. Peguei o celular no bolso e vi a hora: quase sete da noite. Havia várias ligações perdidas do Dipper. Retornei a chamada.Não demorou muito para atenderem, mas a voz não parecia a do Dipper.– Oi, Dipper. Esqueci o celular no silencioso de novo.– Você é Mabel Pines, irmã do Mason? (Dipper)– Sim, algum problema?– Seus pais e seu irmão sofreram um acidente de carro. Eles estão no Hospital Saint' Claire.– ...– Senhorita, ainda está aí?– Eu... estou indo!Senti as lágrimas pesadas nos olhos caindo, uma sensação de dor no peito, aquela maldita dor.Corri pelo ginásio procurando Ely, ela era a única que poderia me levar ao hospital. Encontrei-a rodeada por garotas, rindo e conversando. Não me importava se estava chorando, só queria ver minha família bem!– Ely!Ela me olhou e seu sorriso desapareceu na hora. Levantou-se rapidamente, vindo até mim.– O que houve, Mabel?– Me leva ao Hospital Saint' Claire.– Claro! Aconteceu algo com sua família?– Sim...Fomos até o carro dela. Ely dirigiu até o outro lado da cidade e me deixou no hospital. Disse que não poderia ficar comigo, pois seus pais viajariam e ela teria que cuidar da irmã mais nova. Agradeci a ajuda e corri para dentro do hospital. Cheguei à recepção.– Sou Mabel Pines. Quero saber sobre minha família...As lágrimas já corriam novamente pelo meu rosto. A recepcionista me levou até um médico que estava em uma pequena sala.– Converse com ele, senhorita.Ela saiu, nos deixando a sós. Pressentia que o que estava por vir seria horrível para mim.– Senhorita Pines, tenho duas notícias para você. Não vou mentir, nenhuma delas é boa.– Diga... por favor!– Seu irmão está em estado grave...As lágrimas já se formavam nos meus olhos. O médico respirou fundo antes de prosseguir.– Seus pais foram socorridos, mas infelizmente não resistiram aos ferimentos. Eles faleceram no hospital.Senti as lágrimas correrem pelo meu rosto. A imagem da minha mãe segurando o riso veio à minha mente, assim como a do meu pai com ciúmes. Eles estavam tão bem quando saí de casa, não era possível.– Eu quero ver meus pais!– Creio que não será possível, senhorita Pines. A polícia está fazendo a perícia médica, você terá que esperar.– E meu irmão, posso vê-lo?– Você pode vê-lo através da janela. Ele está em observação para ver se terá alguma reação.– Reação?– Seu irmão entrou em coma. Estamos esperando alguma reação dele.Eu vi o Dipper naquela cama, com vários tubos nele, seu rosto cortado, um olho roxo, a boca machucada. Ele deveria ter perdido alguns dentes!Pelo que me disseram, ele estava vivo por estar usando o cinto, mas ainda bateu a cabeça com muita força na janela ao lado. Meus pais estavam sem o cinto e não resistiram aos ferimentos.Quando o legista liberou os corpos dos meus pais, tentei ir até lá, vê-los uma última vez, mas meu corpo travou na porta e não consegui entrar. Eu mesma cuidei do velório e do enterro dos meus pais. Meus familiares tornaram tudo ainda pior, com falsas palavras de conforto, lágrimas falsas, tudo era tão falso! Agradeci quando tudo chegou ao fim.

O acordoOnde histórias criam vida. Descubra agora