Bill Cipher

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Já havia escurecido há muito tempo. Eu seguia o caminho sem pressa, precisava de tempo para pensar no que ia fazer com Bill. Para invocá-lo, eu teria que cortar minha mão, pensar em seu nome e apertar a mão da estátua enquanto ela se quebrasse. Durante o processo, eu deveria decidir a forma que ele assumiria. Sua forma triangular era muito poderosa, então achei melhor usar outra, embora ainda não soubesse qual. Conferi o GPS, que mostrava que faltava meia hora até chegar à antiga Cabana do Mistério. Sorri ao lembrar das aventuras que vivi ali.Entrei no pequeno caminho de terra que levava até a cabana. Soos havia se mudado quando se casou com Melody, então a cabana estava vazia, o que era ótimo para mim, pois poderia ficar lá enquanto não me livrava de certo demônio triangular. A fachada estava caindo aos pedaços, mas tudo parecia igualzinho.Estacionei o carro em frente à cabana e liguei a lanterna do celular. Procurei debaixo do tapete, entre as pedras e os gnomos de jardim, até me lembrar que escondiam uma chave reserva no totem de madeira. Fui até lá, conferi o pequeno buraco no totem e peguei a chave para abrir a porta. Ao empurrá-la, vi que a cabana continuava a mesma, só que mais empoeirada. Soos havia devolvido os móveis do Tio Stan, ainda bem, pois senão eu dormiria no chão e passaria frio."Você consegue, Mabel," murmurei para mim mesma.Saí da cabana e fui até o carro, onde peguei o pequeno canivete que meu pai guardava no porta-luvas. Caminhei seguindo a foto do mapa que o Tio Ford fez. Era uma caminhada longa, mas nada demais, pois não queria andar pela floresta até tarde da noite. Isso seria fácil, contanto que não deixasse Bill assumir sua forma triangular física.Eu poderia invocá-lo de duas maneiras: na forma física, que limitaria seus poderes e seria mais fácil de matar, ou na forma espiritual, que lhe permitiria manter seus poderes completos e seria impossível de deter. Adivinhe qual optei? Se ele tentasse algo, eu poderia atacá-lo.Depois de 20 minutos de caminhada na escuridão, cheguei à clareira onde a estátua de Bill estava. Respirei fundo ao ver a estátua coberta de terra e raízes, mas com a mão quase limpa, como se me esperasse ali.Usei o canivete para desenhar alguns símbolos no chão, colocando meu símbolo, a estrela cadente, no meio do círculo em vez do triângulo. Respirei fundo e me preparei para fazer um corte na minha mão. Pressionei a faca contra a palma, pensando no nome do Triângulo Caolho. Senti a dor aumentar enquanto o sangue fluía, deixando-o cair sobre o círculo, que começou a brilhar com uma luz rosa escura. Apertei a mão da estátua."Pense na forma... qual forma... droga..." Como um lampejo, tive a ideia perfeita. "Forma humana."A estátua começou a rachar, e tudo ficou cinza. Uma luz dourada saiu da estátua, forçando-me a fechar os olhos. Quando a luz se tornou insuportável, resolvi abrir os olhos lentamente. Encarei um par de olhos dourados a centímetros do meu rosto. Me assustei e dei um tapa no rosto pálido à minha frente, mas ele nem se moveu."Ele é forte."– Isso doeu, Pines.Ele riu malignamente, mostrando seus belos dentes, e desceu o olhar pelo meu corpo, colocando a mão no queixo.– Quanto tempo fiquei preso?– Cinco anos.– Hmm, então veio fazer um acordo comigo?– Sim...– Por algum motivo, minhas memórias estão falhas! O que você fez...Ele se calou, olhando incrédulo para sua mão e depois para o resto do corpo. Observei suas expressões faciais. Seus olhos dourados ficaram negros de repente.– O que você fez comigo? Onde está minha forma esplendorosa triangular? Por que estou nessa forma de saco de carne e osso!?Sua voz aumentava cada vez mais, me deixando mais assustada.– Eu odeio essa forma humana fraca! Você vai pagar, Pines, por tudo que já me fez.Ele agarrou minha garganta, me levantando. Estava me sufocando lentamente.– Eu vim... fazer... um acordo, Bill...Tentava desesperadamente soltar sua mão do meu pescoço, mas era inútil.– Se me... matar, Ford virá atrás de você! E... me... sufocar não vai trazer... sua forma de volta...Senti seu aperto afrouxar, me deixando cair no chão. Recuperei o ar com dificuldade. Ele abaixou à minha altura no chão.– Eu fiz isso para garantir que não fosse me trair. Preciso que esse acordo não tenha nenhuma trapaça sua.– O que você quer?– Dipper está morrendo! Quero que você o cure e o deixe bem, sem qualquer trapaça, ou você voltará para a estátua!– Mas eu quero algo em troca! Sabe como funciona meus acordos!– Certo! O que quer?– Sua liberdade, Mabel Pines! Você me libertou da estátua, mas tomou meu corpo.Minha respiração se alterou e senti meus dedos tremerem. Estendi a mão para ele, mas antes de apertá-la, disse:– E sem planos malignos para dominar a Terra!– Assim você me deixa triste, estrela cadente!– Sem trapaça, Bill Cipher!– Certo! Não vou ganhar nada trapaceando mesmo.Apertamos as mãos, e uma chama azul se manifestou pelo meu braço, subindo para meu pescoço. Senti uma corrente se enrolar ali e seguir até a mão de Bill. Ele puxou para frente, fazendo nossos rostos se aproximarem. Seu hálito quente rebateu no meu rosto, me deixando levemente corada.– Minha escrava eternamente.– Cumpra sua parte! Agora!– Já está sendo feito!Ele sorriu diabolicamente. Estava numa enrascada, mas se Dipper melhorasse, já valeria a pena. Baixei os olhos para o chão, finalmente baixando a guarda. Então percebi que Bill estava nu. Senti meu rosto queimar e virei bruscamente o rosto.– Onde estão suas roupas, Bill?– Roupas?Ele se olhou como se nada estivesse errado e deu uma risada maliciosa.– Eu era um triângulo! Eu andava nu, não tinha nenhum adereço em mim! Agora tem!– Você precisa de roupas!Gritei, irritada, enquanto ele continuava rindo maliciosamente e examinando seu corpo como se fosse novidade.– Vamos, Mabel! Olhe para mim.Recusei, virando ainda mais o rosto. Senti a corrente apertar meu pescoço novamente, forçando-me a olhar para ele.– Quando eu mandar você fazer algo, você faz! Olhe meu corpo e diga o que acha? Não entendo muito de padrões de beleza humana.Fui forçada a olhar seu corpo nu. Nunca tinha feito isso antes. O único que vi pelado foi Dipper, e foi um acidente.– O que acha, estrela cadente?Os cabelos loiros bagunçados, os olhos dourados, a pele pálida, o corpo forte, a barriga tanquinho, ele era alto... evitei olhar para o resto.Eu tinha que admitir, ele era bonito demais. Se fosse um humano de verdade e não um demônio maluco, talvez eu até gostasse de ficar com ele.– Bonito...– O que? Não ouvi?– Você é bonito!– Eu sei! Ouvi da primeira vez!– Idiota! Ahh, vamos! Vou te deixar na cabana e voltar para a Califórnia.Seguimos a trilha de volta para a cabana. Minha mão doía muito, mas tudo bem, aquilo foi pelo Dipper. O caminho estava escuro demais, e eu tropeçava constantemente, fazendo Bill rir muito. Meu corte só tinha piorado por causa dos tropeços. Suspirei cansada ao ver a porta da cabana.– Você fica aqui! Eu volto para a Califórnia.– Você vai mostrar tudo e me ajudar antes de voltar pra lá! E você tem um tempo determinado para ficar lá e voltar pra mim, escrava.Engoli seco sem responder. Iria cumprir minha parte do acordo, pois se não, quem sofreria seria Dipper.Ele caminhou na frente e eu o segui. Vi ele bater de cara no campo de força que apareceu ali. Lembrei do vodu de unicórnio que protegia a cabana de Bill.Ri passando por ele no chão. Ele se levantou furioso, socando o campo de força, e eu ri ainda mais. Vi seu cabelo passar de loiro para vermelho vibrante e os olhos ficarem negros. Senti as correntes apertarem meu pescoço novamente, puxando-me com força. Quando estava fora do campo de força, ele colocou a mão no campo para se apoiar e empurrou meu corpo em direção ao campo de força, que foi aparado pelo mesmo.Ele colou sua testa na minha, com um sorriso mais que diabólico, e acariciou meu cabelo.– Não está mais rindo, Mabel? Por quê?Senti um arrepio descer pelo meu corpo. Era uma sensação que nunca havia sentido antes.

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