Palavras são capazes de machucar uma pessoa em níveis inimagináveis. Palavras são capazes de machucar uma pessoa mais do que socos e chutes. Muitas vezes, uma pessoa prefere ser violentada fisicamente do que verbalmente, afinal, a violência verbal dói em proporções muito maiores que a violência física: ela deixa cicatrizes.
Não foi a primeira vez em que alguém o julgou por sua condição financeira, pelo modo que se vestia, falava, andava e por sua sexualidade. Não foi a primeira vez em que ele chorou por isso. Não foi a primeira vez que alguém deixou seu coração despedaçado. Mas, dessa vez, ele tinha um porto seguro, uma pessoa com quem poderia contar, uma pessoa que poderia protegê-lo de todo o mal do mundo, uma pessoa confiável e amável: Christopher.
Peter afirmava para si mesmo que era um homem de sorte, e que tinha ao seu lado o melhor namorado de todos. As palavras de Megan ecoaram em sua mente e trouxeram lembranças de um dia avassalador e traumatizante, mas o Argent estava ali para acalmar o pobre coração do pequeno rapaz. Um simples abraço transmitia uma energia que fazia com que Peter imaginasse um lugar calmo, belo, com uma voz angelical que acalmava seus nervos: a voz do Argent, que não era a voz mais calma de todas, mas fazia com que o rapaz sentisse como se estivesse em um paraíso.“O milagroso e estrondoso som do sinal alegrava os ouvidos de Peter, que saía ansioso da sala de aula enquanto observava o corredor tumultuado. Pensava que toda aquela pressa era inútil, afinal, que diferença faria, já que ele chegaria em casa e sua mãe ainda estaria fazendo o almoço? O rapaz andava calmamente pela escola, enquanto observava a movimentação: alunos brigavam, alunos se beijavam, alunos estudavam, alunos choravam, alunos gargalhavam. Era um misto incompreensível de alegria e tristeza no qual o Hale estava inserido. Sair daquele lugar movimento era a meta do rapaz, mesmo que demorasse meia hora como de costume. O aglomerado de alunos diminuía a cada passo do rapaz, até que a luz do sol invadiu o ambiente e ele finalmente conseguiu chegar até a saída.
Peter sempre fazia o mesmo caminho até sua casa: primeiramente, ele pegava sua bicicleta no estacionamento; depois, ele pedalava pela avenida principal da pequena cidade de RedVille e assim seguia até sua casa, que ficava ao lado de uma locadora de filmes. Após atravessar a avenida com sua bicicleta, Peter percebeu uma estranha movimentação em uma das ruas, e conseguiu visualizar um garoto sendo espancado por outros três rapazes. O rapaz observava toda a situação de longe, pensando em uma solução para aquilo, até que o grupo de três rapazes se afastou um pouco e o Hale correu até o menino, que chorava incontrolavelmente, e disse:
— Por que fizeram isso com você? - perguntou o rapaz
— E-eu não s-sou o tipo de p-pessoa que merece o re-respeito desses c-caras - respondeu o menino, apreensivo
— Como assim, garoto? - questionou Peter
— Disseram que homossexuais são aberrações e que não merecem o respeito deles. Mas eu não posso contar essa situação para ninguém, se não eles virão atrás de mim e vão me matar - respondeu novamente, com a voz embargada, e prosseguiu - eles estão voltando! Corra!
Peter sentiu seus batimentos cardíacos se acelerarem, mas era tarde demais, o grupo tinha voltado.
— O que pensa que está fazendo, seu nerd idiota? - perguntou o mais alto
— Desculpem-me, mas eu me preocupei com o garoto. Vejam só, está todo machucado. Queria apenas saber se ele precisava de ajuda, mas já estou indo embora, podem ficar tranquilos. - respondeu o Hale, desesperado internamente.
— Você não é o namoradinho dessa aberração aí? - perguntou um deles
— Não, não mesmo. Eu tenho uma namoradA - disse, enfatizando a letra "a" no final da palavra namorada, buscando uma saída para aquela situação, mesmo que estivesse mentindo.
— Aham.... Mas, se você for gay e eu descobrir, pode ter a noção de que eu vou te socar até que você implore por clemência, seu nerdzinho impugnante. Pode ir, e fica de bico fechado, se não eu te mato. - disse o mais alto, com o maxilar trincado e encarando profundamente a delicada íris azul dos olhos de Peter.
Peter correu como louco até sua bicicleta azul bebê e pedalou rapidamente até sua casa, sem mesmo passar no supermercado para comprar os biscoitos que tanto apreciava. Estava com medo, com o coração acelerado e tremendo. Ao chegar em casa, o rapaz correu para seu quarto e respirou fundo, certificando se estava vivo.
"Isso vai se repetir?" era a pergunta que Peter fazia a si mesmo naquele momento. Ele estava nervoso e com medo do que poderiam fazer, encolhido no canto de seu quarto, observando sua mochila que fora jogada em cima do tapete que enfeitava o cômodo iluminado. O Hale não via problema nenhum em ser homossexual, afinal, ele era assim e isso não era nenhum crime, pelo menos no lugar em que ele morava.
Peter se perdia em seus pensamentos, ele estava confuso e aterrorizado. Amanhã ele estaria no lugar o garoto espancado? Amanhã ele estaria no lugar do rapaz que morreu por ser gay? Amanhã sua mãe estaria chorando por sua morte? O que aconteceria a partir daquele dia com a mente e com a vida de Peter, que mesmo sendo tão pequeno, tinha um coração tão grande e puro, a ponto de suportar as piores situações possíveis? Perguntas diversas surgiam na mente do rapaz, e ele realmente não fazia questão de responde-las.
Dias depois, ao entrar no banheiro masculino, Peter encontrou o garoto alto que o ameaçou. Olhos tristes, uma expressão estática e séria, uma jaqueta preta de couro e uma cicatriz no pescoço eram suas principais características. O rapaz misterioso carregava em seu coração uma dor que ele descontava nas outras pessoas, e isso era percebido apenas ao olhar profundamente em seus olhos tristes. As ameaças feitas por ele ecoavam na mente do Hale, que desde aquele dia estava tendo pesadelos em relação a isso, fazendo com que ele saísse discretamente do banheiro e seguisse pelo corredor, inseguro em relação ao que iria acontecer no futuro.”..........
Fantasmas do passado ressurgem constantemente na vida das pessoas. Eles assombram cada segundo da vida de um ser e a única solução para isso é enfrentá-los. Peter sabia disso e, naquela noite, em frente ao fast food, ele percebeu que já estava passando da hora de agir e de enfrentar os fantasmas do passado que lhe incomodaram por tantos anos.
Peter estava encarando o teto colorido de seu quarto, pensando no que poderia fazer, além de ficar esperando o alarme de seu celular indicar que ele deveria ir para o trabalho. Ele acordou muito mais cedo que o normal e, durante todo esse tempo, ficou lembrando de experiências totalmente desagradáveis. Sua vida havia tomado um rumo diferente do que ele havia imaginado na adolescência, e ele não via um problema nisso, pelo contrário, ele agradecia por ter saído de RedVille logo depois da formatura e ter viajado por tantos lugares, além de ter concluído a faculdade, mesmo sem seguir a profissão estudada. O Hale não tinha vontade de ensinar quanto é 2+2 para ninguém, e preferia mil vezes o aroma do café da cafeteria do que várias crianças gritando e fingindo ter interesse em Matemática.
Era um pouco cansativo, mas o trabalho na Lovely Coffee era maravilhoso, desde o salário até a tarefa de atender as pessoas e escutar seus pedidos. Não existia um dia sequer em que a cafeteira não estivesse movimentada, existia pelo menos uma pessoa lendo algum livro, estudando ou usando o computador ou celular enquanto bebiam café e comiam biscoitos. Depois de começar a trabalhar, Peter também aprendeu a fazer o melhor café de toda New York.
Depois de horas esperando, o som de uma música do David Bowie ecoou pelo quarto de Peter: seu alarme estava tocando, e isso sinalizava que ele deveria se arrumar e ir trabalhar. O rapaz praticamente pulou da cama e colocou uma blusa branca e uma calça jeans preta, tentou arrumar os cabelos e pegou sua pequena mochila azul, colocando seu celular e dinheiro.
O Hale preparou um sanduíche natural e colocou um pouco de suco em um copo; depois de tomar seu café da manhã, o rapaz saiu e trancou o apartamento, correndo até o metrô e entrando no mesmo, partindo em direção à cafeteria.
Uma hora e meia depois, Peter entrava pela porta da cafeteria, preparado para mais um longo dia de trabalho. Mas ele estava animado, pois mais tarde iria conhecer o apartamento de Chris e eles iriam assistir filmes juntos (Karyna, eu juro que se você pensar qualquer bobagem sobre isso eu paro de escrever essa fanfic).
Ao longo do dia, Peter anotou milhares de pedidos e atendeu várias de mesas, tentando ser o mais gentil possível, até mesmo com as pessoas mais rudes que passavam por ali. Sempre diziam que "gentileza gera gentileza", e o Hale ansiava por receber toda a gentileza que oferecia de volta. Sorrindo e tratando os clientes da cafeteria com muita educação, Peter sentia que seu dia ficava melhor, como se seus atos bondosos trouxessem um pouco de paz e calma em sua vida. Ele gostava de ser gentil, e isso era percebido por qualquer um.
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The Coffee Shop • pethoper
FanfictionChristopher, um prestigiado advogado de Nova York. Peter, um atendente em uma cafeteria. Seria este mais um clichê ou uma verdadeira história de amor?