Mau humor

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Então estávamos ali, mais uma vez diante de inúmeras câmeras. Isso já tinha se tornado algo confortavelmente normal. A euforia das fãs em uma pequena platéia de estúdio, em quase nada se compara às multidões dos lives, mas era igualmente gratificante.

Era importante sentir o calor da proximidade delas também. No ambiente pequeno e próximo, podíamos vê-las nos olhos e sentir o amor delas tinham por nós.

Cada um de nós dava o seu melhor. Em cada sorriso, em cada piada ou pequena brincadeira. Nós sabíamos que era por causa do eco dos gritos delas que nosso nome era tão requisitado, por causa do excesso do amor delas que havia uma razão para fazer tudo o que fazíamos.

Às vezes até nos esquecíamos de quem éramos e acabávamos falando uns com os outros como se estivéssemos falando para terceiros, como se tivesse sempre a câmera diante de nós. Até tirávamos uns com a cara dos outros por conta disso, por esquecer que nem sempre havia uma câmera diante de nós. Que nem sempre éramos o que devíamos ser.

Mas hoje, eu simplesmente não estava afim. Sorria simplesmente porque tinha uma câmera apontada diretamente em mim, respondia as perguntas apenas porque tinha uma pessoa falando comigo e, caso não respondesse, mais perguntas a respeito do meu humor seriam lançadas.

Já tinha alguns dias que eu estava assim. Tanto trabalho, tantas entrevistas. Será que eu já estou cansando disso tudo? Não pode, ainda é muito cedo para isso, é cedo demais para me cansar dos holofotes. Mas...

Nenhum dos sorrisos nos rostos animados em minha frente me deixava empolgado. O coro aos gritos, cantando as músicas da banda em diferentes tons e volumes nem chegava aos meus ouvidos saturados. O retorno em meu ouvido fazia minha cabeça quase rachar de tanta dor. Cantava apenas por cantar, sem prestar atenção às minhas palavras, sem cuidar do tom. Sem dar a mínima atenção ao palco.

Hoje eu estava simplesmente de saco cheio. Até mesmo pensar estava contribuindo para me deixar insano. Isso deve ser normal, não é? Pessoas normais às vezes acordavam em um dia ruim.

O problema era eu não era uma pessoa normal. Nós não éramos.

Para evitar todas aquelas luzes no palco, procurei algo que chamasse minha atenção pelo chão. Fios, caixas, pedestais e três monitores que mostravam o que a câmera capturava e estava sendo transmitido para as pessoas que assistiam a tudo em casa.

Todas as câmeras estavam em nós e aparentemente, tudo normal. Ninguém parecia perceber alguma alteração em mim. Ou quase ninguém.

Percebi um câmera man vindo em minha direção, certamente eu estava muito além do que renderia a ele boas imagens. Ele se parou bem em frente ao monitor ao qual eu estava atento, com uma cara feia e um sinal claro que eu deveria me preocupar com a câmera, e não com o chão. Apenas dei alguns passos além, de onde podia assistir a outro dos monitores.

Os meninos tacavam brilhantemente, sorrindo e se divertindo para entreter as fãs. Eu nunca tinha parado para observar a banda por esse ponto de visão.

Jin é claro, estava entre eles, mas diferente dos outros três, deixava seus olhos escaparem para minha direção entre uma virada e outra. Tudo tão discreto que eu até demorei um pouco para perceber, mas meus olhos sempre me puxavam para ele.

Eu via preocupação em seus atos, sem que isso afetasse a forma harmoniosa e delicada com segurava suas baquetas e fazia seu trabalhando, dando o melhor de si. Eu devia saber que ele perceberia qualquer pequena mudança em mim, e isso que ele nem era o mais observador de nós.

Mas alguma coisa nisso me deixava ainda mais sem vontade. Mais enraivecido.

Ele era apenas o meu melhor amigo ali, a pessoa com quem eu costumava contar. Uma amizade um tanto quanto colorida, eu tinha que admitir, tão tão tão colorida que sobrariam cores para preencher nosso arco-íres. Incolor e inacabado, eu não sabia quem de nós dois estava esperando para pegar os pinceis e as tintas para usufruir de toda cor dessa amizade.

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