Capítulo 01

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"O tempo passa. Mesmo quando isso parece impossível. Mesmo quando cada batida do ponteiro dos segundos dói como o sangue pulsando sob um hematoma. Passa de modo inconstante, com guinadas estranhas e calmarias arrastadas, mas passa. Até para mim." – Anahí




Anahí não via Alfonso há duas semanas. Só sabia que a empreitada de Ian havia sido executada com sucesso, e que Alfonso tinha ajudado de modo fundamental. Na verdade, ela não queria saber. Christopher viera até ela na noite em que tudo acabou, lhe perguntando se ela estava bem. Ela não lembrava como, mas terminou nos braços dele, chorando. Chorando porque seu casamento não deu certo, chorando porque sua bebê estava morta... Chorando porque, por mais doloroso que fosse, ela era obrigada a continuar. Madison veio no dia seguinte. Tentou conversar, já que eram mulheres, e Anahí só respondeu. Os dias que se seguiram foram exatamente assim, até que, em uma manhã, Anahí acordou e percebeu que não queria mais ficar ali. Sentia como se a cúpula a estivesse sufocando, ainda mais sabendo que Christopher e Madison só estavam ali por ela. Christopher se divertia com sexta-feira como podia, mas sem telefone, sem internet e sem liberdade, o tédio era inevitável. 



Anahí: Vou voltar a cidade. – Avisou, ao entrar na cozinha, indo em direção a geladeira. Ela parou na frente da mesma, olhando a dieta colada ali. 



Christopher: Desculpe? – Perguntou, alarmado.



Anahí: Não quero mais ficar aqui. – Respondeu, apanhando três potes de remédios de cima da geladeira. Vitaminas e anti-depressivos. 



Madison: Pra onde você quer ir? – Perguntou, sentada ao lado do marido na mesa.



Anahí: Honestamente, não sei. Vamos descobrir. – Disse, sem emoção nenhuma, apanhando um copo com água.


Christopher: Eu não acho que seja o melhor momento. – Comentou, com cuidado.



Anahí: Eu vou. – Encerrou, sem grosseria na voz... Sem nada.


A mão de Anahí tremia com o peso do copo, enquanto ela levava os comprimidos até a boca. Suas roupas estavam folgadas. Por debaixo da blusa, as costelas se contavam facilmente. O rosto estava magro, os ossos se destacando, os olhos sem cor e os lábios sem vida. Os cachos dos cabelos mal se mantinham, e esses tinham uma cor morta, estavam quebradiços. A tristeza estava, literalmente, matando-a. Partiram no dia seguinte. Christopher concluiu que, fraca como estava, brigar não adiantaria nada, só a enfraqueceria mais. Madison concluiu que assim seria melhor: Ela reconstruiria a vida dela, e eles dois estariam sempre perto, mas sem pressionar. Não funcionou muito bem. Foram a Paris. Anahí saiu pra passear, tomar um vento, tentar pensar... E Christopher imediatamente colocou meia dúzia de homens para segui-la. Anahí caminhou lentamente pelas ruas, as mãos nos bolsos do sobretudo, entrando em um beco, afastado, deserto. Dois dos seguranças, os que estavam mais perto, não tiveram tempo de recuar. Ela se virou, olhando os dois. Nem isso a animava, maldita fosse.



Anahí: Posso ajudá-los, senhores? – Perguntou, cruzando os braços e respirando fundo. 



XXXX: Perdão, Sra. Herrera. – Anahí se contraiu.


O Turista (Livro 03)Onde histórias criam vida. Descubra agora