Just a Monday.

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Quando Ian finalmente chegou a casa havia se tornado um silencio constrangedor, carregado por breves falas decoradas e automáticas que preenchiam toda estranheza no ambiente.
Mais tarde já em seu quarto a Latina escutava a "discussão" de seus pais enquanto encarava o teto de madeira que por muitas vezes parecia mais interessante do que realmente era. As estreladas que brilhavam ali a lembravam o universo, suas possibilidades e todos os lugares aos quais poderiam se tornar sua rota de fuga algum dia.


Camila puxou os fones de ouvindo junto ao celular e livrou-se finalmente das vozes que ultrapassavam a parede, distraindo-se com o notebook em seu colo e trocando a vista das estrelas coloridas pelas paginas da internet.
Já fazia algum tempo em que a garota havia achado uma pagina onde fotos que chamara sua atenção, de coisas que a maioria das pessoas não notam ou realmente enxergam para capturar eram expostas, coisas simples que geralmente deixamos passar.
Havia desde um piano grande e preto a frente de uma vista pra praia, no que parecia uma casa a beira mar, até os olhos claro e sorriso de uma criança com uma joaninha no nariz. Outras mostravam prédios altos em uma paisagem noturna com todas as luzes acesas colorindo a escuridão, até mesmo um gatinho preto no colo de alguém, alguém que aparecia em muitas fotos mas nunca se revelava por completo.
Era fofo, contagioso, alegre e conseguia ser completamente anônimo.


Dizer que despertava seu interesse a pessoa ou as historias por detrás daqueles pequenos retratos era pouco. A última atualização era uma roda gigante, a luz azul estava se apagando e metade dela já continha uma luz verde, as estrelas no fundo iluminavam o céu sendo o único plano de fundo e a fazendo imaginar-se ali, no ultimo "carrinho" lá no alto podendo toca-lo. Não eram apenas fotos, eram quase como se pudessem transmitir sentimentos e aquilo era o lado apaixonante de tudo, o lado que a deixava com um gostinho de Quero Mais.


Naquele momento a musica Colors da Halsey passou a tocar e Camila voltou a olhar o teto com suas estrelas particulares, pensando em como seria estar mais próxima delas, poder tocar o céu e sentir as nuvens. Seriam como algodões doces ou como a névoa subindo a serra?
Não tinha o desejo de voar, mas tinha a imensa vontade de poder flutuar ali, ver os pontinhos da cidade tão longe se misturarem em apenas borrões de cores. Aquilo fazia sentido? Era como desejar uma passarela particular em meio à imensidão, um caminho de vidro transparente onde um passo em falso a faria cair.


A queda era algo que a atraia, sempre pensou em se sua vida passaria alguns momentos e se lembraria de coisas da infância que já não fazia questão, se seria uma queda em câmera lenta como os filmes de Holywood, se seria tão rápido como um piscar de olhos e der repente estaria dormindo.
A queda parecia ter o seu charme, de uma altura absurda, com o vento beijando seu corpo e causando aquele frio na barriga que apenas se sentia nestas ocasiões, aquele delicioso frio na barriga de quando se pega certa altura com uma grande velocidade.


Sem sequer perceber que havia fechado os olhos, abriu recebendo a luz do notebook em seu rosto outra vez, achando sua própria pagina onde em um pequeno post-it preto ela escreveu em letras brancas como as estrelas que tanto pensava "It could be everything grey if you not remember to put some colors."


Puxando um dos fones do ouvido, pode ver que a casa já estava novamente com aquele silencio que no fundo a confortava. Fechou seu note e desligou a música virando a atenção para a porta que se abria.
Seu pai entrava com uma caixa um tanto grande nas mãos com um laço enorme por cima do papel de presente a fazendo se sentar e sorrir divertida.
-Não achou que tinha esquecido certo?
Camila ponderou e sussurrou um "Talvez" para o mais velho que lhe entregou o pacote e beijou sua testa.
-Durma bem.
Sabia que ele estaria cansado, principalmente pelo clima após a discussão e não se opôs quando o viu sair, se concentrando em apenas abrir o pacote e encontrar suas duas coisas favoritas, um globo de neve e um livro.
Chacoalhou o globo sorrindo feito uma criança em pleno Natal e se levantou o guardando na estante suspensa de seu quarto, encaixando o livro junto as dezenas que havia na outra.

Connected.Where stories live. Discover now