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  A criatividade sempre fez parte dos Martinez, por isso me vi fascinada pelo mundo da arte aos três anos de idade

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  A criatividade sempre fez parte dos Martinez, por isso me vi fascinada pelo mundo da arte aos três anos de idade. - pequeno prodígio. - Mama dizia. Também foi por esse motivo, por querer algo intrínseco que escolhi casar na virada do ano, como uma analogia simbólica. Se despedir de algo velho e mergulhar em uma vida nova.

Estupidez.

 Estou presa no meu próprio quarto, cercado por familiares indesejáveis. Faltam cerca de duas horas para o ponteiro grande e o menor se encontrarem em cima do número 12, apenas duas horas para minha vida mudar drasticamente e tudo que sinto é o bendito vestido branco apertando contra minhas costelas e me roubando o ar. Cacetada.

- Princesa? - Papai bate à porta e respiro aliviada. Destranco a fechadura e permito sua entrada.

Ele me encara extasiado e sorrio convencida.

-Você está linda. - Fala seguindo para mais próximo em minha direção. Ele me rodopia uma e outra vez, fazendo o vestido rodado causar um efeito encantador.

Meu coração não rodopia junto. Ele nota para e me encara, agora vem à enxurrada de questionamentos.

-Fuja. - Ele diz sem prévia alguma de um sorriso.

-Fugir? -Pergunto confusa. -Para bem longe. - Enfatiza.

-O Senhor não deveria está me dando conselhos valiosos? - Questiono-o.

-Este é um grande conselho, alguns gostariam de ter recebido antes de se casar. Acredite em mim.

-O Senhor não.

-Eu não, em nenhuma das duas vezes. Só que eu sou um sortudo e conheci duas grandes mulheres, pelas quais me apaixonei e casei contente.

-Então, conselhos como esse não deveriam sair da sua boca. Eu quero ser feliz.

-Pelo contrário, você ouviu o que eu disse? Eu estava apaixonado nas duas vezes.

-Eu estou apaixonada. Conhecemos-nos há mais de seis anos e o casamento já estava nos planos.

- O amor não se é planejado, ele simplesmente acontece. -Encaro papai, seus olhos castanhos sempre me fornecendo um porto seguro, me sinto tentada a contá-lo tudo o que se sucedeu nessa última semana.

-Pai, eu...

Respira

Respira

Respira

-Não precisa me dizer nada, pequena elfa. Ele sorrir. - Sorrio em resposta.

-Esse apelido é antigo.

-Assim como você. - Dou-lhe uma cotovelada. - O único velho aqui é você, Senhor cabelos brancos. Tenho apenas vinte e três anos.

-Você sempre será minha pequena elfa. - Seus braços são movidos contra mim em um abraço apertado e me sinto tentada a falar que o vestido será amassado se continuarmos assim, mas não abro minha boca. No fundo, eu não dou à mínima se esse bendito vestido ficar completamente amassado.

-Não sou mais pequena. -Murmuro. - Ele gargalha soprando alguns fios soltos do meu cabelo.

-Seus saltos altos nunca me enganaram, sou o seu pai e sei seus segredos. - Me aperto mais contra seu peito, desconfio que ele não esteja apenas falando da altura de meus sapatos.

-Tenho que ir. -Diz me soltando. -Alguém precisa entreter as pessoas lá embaixo.

-Te encontro mais tarde? -Pergunto.

-Eu sou o cara que vai te levar até o altar, garota. É claro que você vai me ver. - Balanço a cabeça em concordância e sorrio.

-Isso é pra você. -Ele estica a mão me entregando uma caixa.

-O que é isso? -Pergunto curiosa estudando os desenhos na caixa.

-É da sua mãe. - Meu coração aperta e quase afundo meus dedos contra a caixa.

-Como? - Pergunto intrigada.

-Ela me deu antes de morrer, justamente para esse dia. Me fez prometer não te entregar antes disso.

-O que é?

- Eu não sei, nunca abri. Isso é coisa de mãe e filha. -Sorrio para a caixa.

-Queria que ela estivesse aqui.

Ela saberia o que fazer.

-Eu sei pequena. Ela também gostaria, mas de uma forma ou de outra ela deu um jeito. -Ele aponta para a caixa e a encaramos em silêncio por alguns segundos.

-Eu vou te deixar sozinha agora. - Depositando um beijo em minha testa ele me deixa.

Analiso as cores, as imagens aleatórias e só depois abro a caixa. Pego o primeiro papel e desembrulho com cuidado, uma carta, com uma caligrafia perfeita se mostra e eu começo a lê-la.

Meu pequeno prodígio,

   Com quantos você está? Eu me pergunto como deve ser seu noivo e a sua sogra, bem, isso não importa se você estiver realmente feliz. Você está feliz? Que pergunta boba, ninguém estaria infeliz no dia do próprio casamento. Minha Pauline, como eu gostaria de estar ao seu lado te ajudando na escolha do vestido, arrumando seu penteado e enlouquecendo porque toda a família do seu pai está reunida e isso nunca é bom, bem, a essa altura você já deve saber como eles são.

Ah, eu sei bem mamãe. Como sei.

Tirando os seus avôs é claro, Dona Virgínia e seu Nestor são uns amores, uns queridos.

Nessa altura você já deve ser uma mulher adulta e responsável, espero que você tenha conquistado tudo o que um dia almejou. Minha pequena, me dói escrever essa carta apenas imaginando como será esse dia, mas sabendo que nunca saberei esta maldita da doença me toma mais a cada dia. Eu ainda agradeço a Deus por ter vocês, Seu pai e você são tudo para mim. Lembre-se que sempre estarei com você e te apoiarei em tudo.

PS: Espero que o anel seja grande e cravejado de diamantes.

Amo-te, mamãe.

As lágrimas jorram pelos meus olhos, borrando a maquiagem impecável. A última frase de mamãe me faz encarar o dedo onde devia se encontrar o anel do noivado, ela ficaria feliz em saber que o anel continha um pequeno diamante cravejado. Fiquei feliz ao recebê-lo há quase dois anos atrás, apesar de ter o perdido há pouco mais de um mês, mas isto não me importa mais. Pego o papel colorido que se encontra na caixa e passo meus olhos por ele.

Desejos de uma Martinez para outra Martinez:

Franzo a testa.

Siga a lista de desejos: Coisas para fazer antes de se casar.

1. Beije um desconhecido.
2. Aprenda um novo idioma.
3. Viaje sozinha ou com uma amiga.
4. Pinte e depois mostre ao mundo.
5. Dance até cair em exaustão.
6. Se forme.
7. Arrisque pelos seus sonhos.
8. Ajude alguém.
9. Prove sorvete de pistache com manga.
10.

(O último é com você)

Eu não sei se mamãe avisou papai que deveria me entregar à lista separada, mas se ela contava com o jeito bisbilhoteiro dele, me dei mal.

Releio a lista e respiro decepcionada, eu não fiz nada dessa lista. Nem ao menos arrisquei comer manga com sorvete de pistache.

O celular alarma avisando que já se foram mais meia hora, dentre noventa minutos eu serei uma mulher casada.

Agora ou Nunca (Conto)Onde histórias criam vida. Descubra agora