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  Passaram-se duzentos e quarenta segundos desde que o alarme do meu celular soou, restam agora apenas oitenta e cinco minutos

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  Passaram-se duzentos e quarenta segundos desde que o alarme do meu celular soou, restam agora apenas oitenta e cinco minutos. Checo minha maquiagem no espelho, corrijo o que foi estragado pelas lágrimas, passo a mão pelo meu vestido que se encontra em perfeito estado. Droga.

O tic tac do relógio não cessa, pregado há quase um ano na mesma parede roxa do meu quarto.

  Desvio novamente minha atenção para o vestido, uma renda fina e sofisticada cobre todo o colo que abraça meus braços em uma manga longa e elegante, a cor branca escolhida a dedo reflete algo como virginal. Totalmente intocada. Isso é tão irônico, foi exatamente pra usar um vestido como esse que nunca cruzei a linha da cueca de Apolo. No entanto, enquanto aparentemente eu me preservava e escolhia feita uma boba o vestido dos sonhos, o grande idiota estava se atracando com a minha priminha em um motel barato de beira de estrada. Ela era minha dama de honra, o mais próximo de uma melhor amiga. Traidores.

  Eu devia ter desconfiado que algo ruim iria acontecer, o universo tentou me alertar. Se o vestido branco é visto como uma tradição, eu deveria ter levado em conta a superstição. Todo mundo sabe que o noivo ver a noiva antes do casamento traz mau presságio, dizem que os noivos ficam com azar e todo o casamento pode azedar. Talvez a culpa do mau caratismo de Apolo seja minha, provavelmente tudo isso deva está acontecendo porque ele me viu vestida de noiva antes da hora, e agora estamos condenados ao fracasso matrimonial. Ri quando vovó e minhas tias me alertaram sobre isso. -Ele não pode te ver se não o casamento pode dar errado. -Elas disseram. Até mesmo papai parecia acreditar nessa superstição. Apenas dei de ombros e continuei desfilando pela casa, até dá de cara com ele descendo as escadas. Pensando bem, eu deveria ter o questionado sobre o que ele fazia no andar de cima enquanto eu me encontrava no debaixo. Como ele tinha subido até lá em cima sem avistado, afinal?

Pressiono minhas unhas contra as palmas de minhas mãos, balanço a cabeça para afastar as lembranças que teimam em voltar daquela noite, mas é em vão, ainda posso ouvir o barulho das gotas de chuva contra o asfalto e os gemidos. Se eu fechar os olhos até posso sentir o cheiro nojento do perfume francês que estava naquele quarto.

   Era uma sexta-feira e eu tinha planejado contar para Apolo que sobre o desaparecimento do anel, estava tão culpada que mal estava dormindo. Falamos-nos pela manhã e quando falei sobre nos encontrarmos mais tarde ele disse que estava resfriado, era fim de novembro e chovia sem recesso e cai feito uma patinha, mas a culpa me corroía por dentro então decidi ir até sua casa naquela noite:

Chovia forte e eu estava nervosa em cima dos meus saltos pretos com flores coloridas, desenhados por mim e com um guarda-chuva que mal me protegia da chuva. Eu bati um, duas e três vezes e chamei pelo seu nome. A chuva piorou e quando a trovões começaram, peguei a chave extra debaixo do carpete e entrei. A casa estava toda escura, mas foi só subir os três primeiros degraus para ouvi-los, continuei subindo e segui para onde os barulhinhos vinham, o quarto dele, eu não bati ou recuei. De uma só vez empurrei a porta e os flagrei, meu adorado noivo totalmente despido sobre a minha tão estimada prima, foi um choque. Eu não gritei, não chorei, não bati, apenas fui embora sem escutar nenhuma explicação.

Eu não o perdoei como ele acha após o acontecido eu voltei pra casa e me tranquei no quarto, me mantive incomunicável pelo dia seguinte inteiro e quando resolvi sair já tinha decidido continuar com o casamento, não consegui falar para a tia Carmem o tipo de pessoa sem caráter que a filha dela se tornou, mas fiz questão de manter Eleonor bem longe de qualquer assunto sobre o meu casamento e a fiz falar para a família inteira que foi escolha dela não ser mais a minha madrinha de honra, vovô ficou encasquetada, mas relevou, desconfio que ela saiba o tipo de neta que tem e resolveu não intervir. Foi melhor assim. Enquanto a Apolo, passou de noivo relaxado para o homem mais dedicado e envolvido boa preparativos de casamento que já existiu. Ele me pediu desculpas e jurou de pés juntos que não cometeria mais tal erro, como esperado ele tentou se justificar colocando toda a culpa no meu Celi batismo e em como minha prima o provocou, tão inocente, como esperado eu não acreditei na sua inocência, mas eu tinha perdido muito tempo planejando todo o casamento para voltar atrás e também ele era o único cara com quem já namorei. Eu só optei por continuar, uma Martinez não desistia.

Pim,pim,pim...

O relógio apita, me trazendo para a realidade atual. Agora só faltam sessenta minutos.

Vou até o armário e pego minha caixa de sapatos favorita, retiro de lá o mesmo sapato preto de quando flagrei os traidores e os calços. Guardo o par prateado de scarpin que eu deveria usar hoje. Olho para minha cama, mas precisamente para a caixa que mamãe me deixou e percebo que ainda existem papéis e pequenos objetos para checar e assim o faço, mas sou interrompida por batidas na porta.

-Line, você tá aí? - Sorrio ao ouvir a voz fina e infantil atrás da porta.

-Quem mais estaria? - Pergunto para minha pequena que me olha com os olhos esbugalhados.

-Você parece uma princesa. -assim do me observando com a boca aberta.

-Você também. - Digo e ela sorrir.

-Eu sou sua dama de honra. -Ela diz entrando no quarto girando e pulando.

-Eu sei. -Observo seu rosto infantil e sorrio feliz por tê-la aqui.

-Mamãe disse que sou importante, as damas de honra precisam se comportar e andar de forma leve e precisa. -Dou uma gargalhada e dou-lhe um abraço.

-Que bom te ter aqui irmãzinha. -A aperto ainda mais em meus braços.

-Me larga, você vai me amassar toda.

-Não importa, eu estava com saudades.

-Você me viu hoje. -Ela reclama se desgrudando de mim.

-As pessoas sentem saudades quando amam, e você sua pimentinha é muito amada por sua irmã. -Começo a lhe fazer cosquinhas e ela logo se joga sobre minha cama rindo sem parar.

-Line, para. -Eu rio e quando ela está toda vermelha, eu cesso o ataque.

-Você é má, mas eu vim te devolver isso. Papai mandou. - Encaro sua mão e visualizo o que procuro por quase dois meses.

-Elisa sua...

Ela não me deixa terminar e logo sai correndo as pressas para fora do quarto.

Será o universo me dando um aviso?

Agora ou Nunca (Conto)Onde histórias criam vida. Descubra agora