{3}

72 12 35
                                    

  Sempre achei essa casa grande demais para apenas quatro pessoas morarem

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.


  Sempre achei essa casa grande demais para apenas quatro pessoas morarem. Papai a comprou quando se casou novamente, doze anos atrás, com Luisa. Para uma criança de onze anos ter tanto espaço para brincar era como ganhar na loteria, mas tenho que admitir que passar pela adolescência morando em um lugar como esse, teve suas vantagens. Porém, nessas últimas horas me senti presa em um cubículo sem saída. As conversas lá embaixo e por todo o jardim repercutem pelos corredores até chegarem ao meu quarto e me fazerem bufar.

O anel pesa em meu dedo, todo esse tempo procurando e ele estava com Elisa e suas bonecas. Aquela criança só tem cara de anjinho.

De quem foi à idéia idiota de armar um casamento no meu quintal? Sua lindinha.

Cacetada!

Culpada.

Espio pela janela, algo que faço pela primeira vez essa noite e o vejo parado em pé em frente a todas aquelas pessoas sorrindo como se fosse o homem mais apaixonado do mundo. Reviro os olhos e continuo espiando todo o aglomerado de pessoas que agora se encaminham silenciosamente para seus devidos lugares. Avista Roselita, irmã de mamãe e me controlo para não correr para seus braços e mergulhar no aroma cítrico de seus cabelos, ela cultiva morangos e limões em casa e também é a melhor tia do mundo. Suspiro.

Alguém bate a porta e me encaminho para abri-la.

-Está na hora. –Papai fala a me estender a mão. –Assinto, embora encare o relógio na parede por alguns segundos a mais.

-Nunca casei uma filha na virada de um ano. –Ele fala enquanto descemos as escadas de forma cautelosa. –Existe um entusiasmo exagerado em sua voz

-Você nunca casou uma filha. –Falo, talvez até em um tom meio azedo.

-Cuidado. –Diz quando tropeço em meu vestido.

-Culpe o vestido, não á mim.

-O que há com você? –Pergunta parando em um solavanco.

Quase me estatelo no chão com esse puxão!

-Papai, o senhor quer me matar? Dios mio.

-Não me venha com essa, parece que você está indo diretamente para a forca. –Pauline Martinez, desembucha logo!

-Homem, não é hora de conversar. A hora tá passando. –Checo o relógio em seu pulso e noto que faltam apenas vinte e cinco minutos para a virada de ano.

-Não me importo, você vai me dizer o que está havendo agora. – Levanto meu rosto em sua direção e encosto o torço de minha mão direita em sua barba, acariciando e sentindo sua maciez.

-Papai, planejei esse dia desde os quinze anos. Nada pode dá errado. –Ele suspira e afasta minhas mãos.

–Se você não estiver feliz nós cancelamos tudo isso. –Franzo a testa.

Agora ou Nunca (Conto)Onde histórias criam vida. Descubra agora