No final do expediente, Alfred estava enfurecido com a mãe, ele saiu do estabelecimento, Kyra saiu logo atras, ele virou e olhou pra ela rapidamente, mas aprofundou o olhar no sentido de agradecimento, mesmo sem falar nada, ele revirou-se e atravessou a rua em uma faixa na esquina, do outro lado ficava um bicicletário, apesar do frio, valia a pena pedalar naquelas condições.
Havia pouquíssimos raios solares em Zurique, Alfred pedalava em um ritmo ameno, mas seus pensamentos eram como os batimentos de um rato, ele estava se aproximando da casa que ele morava junto com a mãe.
Ele parou na porta e pensou no que poderia falar, buscou naquele momento uma "paz" interior, ele entra, la dentro estava bem aquecido, o cabide para os casacos, o cheiro da casa era agradável, mas aquela altura isso não era o importante para Alfred.
- Boa noite querido! O jantar está pronto!- disse Sophi agradavelmente
- Boa noite mãe- disse Alfred
- Como foi o trabalho hoje?, novos projetos?- perguntou Sophi
- É... eu e a Kyra estamos trabalhando em algumas novidades, mas esta dificil consegui a concessão das universidades pra pesquisa.
- Vai melhorar não se preocupe- disse Sophi compreensiva.
Alfred olha a mãe, e se senta na mesa que ficava abaixo de um lustre moderno.
- Bom... eu estava precisando conversar justamente com a senhora...
- Hm... você querendo conversar... quanto tempo não é mesmo...
- Porque você pediu pra Sy me mandar pra... Africa mãe?!
- ... Vá por mim, vai ser renovador para você...
- Renovador? A senhora acha que manda em mim mãe?...
Sophi olha diretamente nos olhos de Alfred
- ... Você não quer ir... diga que eu falo com a Sy... Saiba que automaticamente você esta me pedindo pra desistir de você...
Alfred fica cabisbaixo, o silêncio responde muita coisa.
- Pelo menos a Kyra vai comigo.
- A Kyra vai?- perguntou Sophi surpresa.
- Sim, na verdade eu só não sei pra qual país eu vou realmente.
- Nigéria!- disse Sophi.
- Porque... Africa?
- Eu sei que você, nem eu, nem os europeus em geral, gostamos dos... Africanos, mas o periodo que eu estitive la eu percebi que na maior parte dos casos, a culpa não é de quem vem para a europa...
- Como assim mãe?
- Filho, você só vai entender quando estiver la...
Alfred a partir daquele momento passou a refletir sobre as diversas possibilidades e leques que a Africa poderia proporcionar a ele e Kyra também.
Ele estava aéreo, a mãe dele sentou-se ao lado dele, ele nem percebeu, ela tomou o prato dele e pôs comida.
-... Alfred... a comida ja está aqui!- diz ela num tom amável.
- Obrigado mãe... a única pessoa que eu posso confiar... certo?- disse Alfred olhando para mãe com os olhos carregados de lágrimas.
- Claro filho!- disse ela o abraçando.
Mais tarde naquela mesma noite Kyra voltava para o apartamento que ficava mais próximo a um parque, Kyra estava lembrando dos momentos que esteve com Alfred e Fernan, os três eram absolutamente inseparáveis, mas Fernan sempre teve um ódio do passado enquanto estava vivo, o que "Sy" teoricamente fez a ele, ele a odiava profundamente, ele fez de tudo para tentar resolver as pendencias do passado, o ódio dele o cegou tanto que ele nem percebeu que a culpa não era dela, o que custou a vida dele.
Ela pensava estas coisas enquanto observava a fina chuva que caía sobre as arvores do parque que dava pra ver da janela da casa dela, ela então decide ir até o parque, que em um dia de trabalho normal naquele horário estava vazio, ainda tinha um agravante... um frio de 5°C a noite... Ela se agasalha, põe um gorro cinza, uma blusa bem grossa, uma calça fina e outra bem grossa, tênis preto e um sobre-tudo azul bem escuro, ela desce e diz pro porteiro que não demoraria e sai, havia poucos carros, e a fina chuva finalmente parou, ela anda pensando sobre sua viajem para a Africa, olha alguns casais de namorados sentados nos bancos, alguns jovens universitários fumando para se aquecer, ela continua andando até que acha um lugar mais calmo e senta em um dos bancos, de repente...
- Minha mãe sempre me trazia nesse banco...- diz Alfred, que estava sentado num tapete no gramado atrás do banco em que Kyra estava sentado.
- Alfred? O quê que você está fazendo aqui? A essa hora?- pergunta Kyra assustada
- Como eu ia dizendo... minha mãe sempre me trazia aqui quando eu era menor, eu ficava observando esses casais, e me perguntava, será que um dia eu iria encontrar alguém que eu pudesse confiar e amar?...
- ... Alfred!... Você pode confiar ainda...
- Kyra! Eu encontrei essa pessoa, era Fernan, Eu confiava minha vida a ele, ele foi o maior amigo que eu ja tive, e amigos podem se amar mais do que irmãos Kyra, você sabe...
Ele se levanta e senta ao lado dela.
- Alfred! Olha pra mim! Pensei que podia contar com minha família... mas eles não me aceitam por não ser Islâmica, uma pessoa que vem da Síria e não é Islâmica é uma vergonha pra família e pro país... eu não posso confiar na minha família Alf!
- Eu só estou assim Kyra porquê... eu tenho medo de confiar na única coisa que me sobrou Kyra...
- O que é então Alf!?
- Você!- diz Alfred olhando nos olhos de Kyra profundamente
Kyra se assusta e fica sem palavras, os dois trocam olhares e ...Paaf!
VOCÊ ESTÁ LENDO
Ponto de Vista III: Realidade Aumentada
Misterio / SuspensoEm um mundo frio, a desconfiança reina, em um mundo objetivo, não há tempo para reflexões. Depois de tantos acontecimentos, Alfred está perdido dentro de si mesmo, não há amor, nem compaixão, o passado nesta altura, parece tão presente que parecem s...