o primeiro encontro

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Antes de começar ressalto a frase que por alguma razão é necessária: plágio é crime.

- Parem de insistir, por favor.
- Então conta logo! - disse a ruiva.
- Deixa de fazer suspense - acrescentou a loira, que revirou os olhos.
- Deixem de serem chatas, vocês duas! - bateu de leve a mão na mesa entre elas. - Para quê querem tanto saber?
- Fala!
- Ele te pegou de jeito e está com vergonha de confessar, é isso? - meio sorriso, a ruiva colocou uma mão no queixo - Ele foi quente? Como é que ele é?
- Não quero falar. Você conhece ele. As duas, aliás.
Desviou os olhos das amigas, ali perto uma mulher empurrava o carinho do bebê, uma velha e outras pessoas atravessavam a rua.
- Não era do rosto dele que eu perguntava - o olhar da ruiva sugeria muito. - Ele deve ter feito um ótimo serviço...
A outra riu, cobrindo a boca com as mãos.
- Foi só o primeiro encontro - colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha.
- Isso nós já sabemos...
- Detalhes!
- Hoje não, vou ficar com a lembrança só para mim, sim?
- Não! - disseram as duas.
- Bom, azar é de vocês e se forem continuar me importunando a respeito vou ir embora.
- Conta logo, todas nós sabemos que você está louca para fazer isso!
- Não estou não.
- Está sim! Está escrito nesse teu sorriso torto.
- Parem de falar sobre, isso aqui ja está parecendo uma sena de um romance adolescente. Muito chato.
- Sim, e como você é a personagem principal...
- E como só a protagonista sabe todos os detalhes...
- Eu não sei de tudo, como eu disse, foi só o primeiro encontro.
- Vocês se beijaram?
O sorriso cheio de dentes separou os lábios da vítima, os olhos luzidios como vidro iluminado, reduzidos a fendas.
- Sim - respondeu, virando o rosto, alterando a expressão.
- E como foi?
- Fizeram sexo depois?
As duas a olhavam com óbvio interesse.
- Nossa! Prefiro ir embora do que continuar essa conversa - pegou a bolsa e fez menção de que iria se levantar.
- Tudo bem - disse a loira. - Não precisa sair correndo, Princesa. Não precisa confessar hoje se não quiser...
- Mas faça isso amanhã, sim?
- Ou nessa semana ainda...
As duas riram.
- Como são bobas. - recolocou a bolsa junto com as das amigas. - Não sou obrigada, vocês sabem.
A conversa prosseguiu com outras palavras, ora ou outra voltavam a indaga-la sobre o encontro, mas mantinha-se irredutível, então, no indeterminado momento despediram se as amigas e cada qual foi para sua casa. Onde de quem os falo chegou. Não viu ninguém. Sem sair a procura, foi para o quarto. Hora depois, no espelho, seu reflexo: olhos castanhos, rosto redondo, bochechas fartas, os cabelos acaju úmidos cobrindo seu mamilo esquerdo, nua. Observou o próprio corpo de diversos ângulos.
- Tem gordura demais aqui.
Suspirou.
- Filha! - gritou alguém.
- Já vou!
Sem pressa se vestiu para ir ao encontro da pessoa dona da voz. Na cozinha, encontrou-a absorta na preparação do almoço.
- Que foi?
Levantou a cabeça quando a ouviu.
- Nada. Só queria saber como foi o encontro?
- AFF - ela deu as costas a mulher. - Não quero falar.
- Ei, volta aqui! Eu preciso saber!
Mas ela não voltou. No quarto fechou a porta. Foi ao encontro da cama. Deitou de barriga para baixo. Fechou os olhos. Passou minutos. Uma leve batida na porta.
- Posso entrar? - perguntou a voz conhecida.
- Pode.
Entrou. Sentou na cama, acariciou as costas da que estava deitada.
- Tudo bem?
Os olhos fechados, respondeu:
- Tudo.
Passou um instante, consolador.
- Quer me falar o que aconteceu?
Ela não respondeu logo.
- Mãe, eu tô sentindo cheiro de queimado.
A mulher pulou da cama.
- Já volto!
Permaneceu com os olhos fechados. Pouco distante, o barulho da cozinha, o movimento da rua, o vento sacudindo as folhas das árvores, os pássaros cantando. Não tão logo a pessoa voltou.
- Tudo pronto. Venha almoçar.
Ela levantou. Alongou os braços. Suspirou profundamente. Pegou o celular. Na cozinha os últimos pratos eram postos na mesa.
- Quem mais vem? - perguntou.
- O Igor.
- Ah, o que só vem aqui para comer...
- Não fala assim do teu irmão.
Logo se ouviu barulho no portão.
- Deve ser ele. Ele sempre chega na hora.
- Vou ver...
- Não precisa, mãe, senta aí, ele sabe o caminho...
Mas a mulher não deu ressalta ao concelho. Passou-se alguns segundos. Um jovem entrou em sena, acompanhado da mulher.
- ... disse estar chateada, e mandou dizer que vem outro dia, pediu desculpas.
- Ah, é uma pena, eu queria tanto conhecer ela.
- Tá namorando? - perguntou.
- Não pareça tão surpresa, sério, acha que sou feio?
- Claro que não - disse a mais velha, com a mão no ombro dele. - Mas você sabe que beleza não é tudo, né querido?
Todos sentaram à mesa.
- É. Mas ele ignora, aposto que é uma va...
- Mônica!
- Vamos almoçar então? - disse a adolescente.
- Sim, e depois quero saber tudo sobre o teu encontro. Quando teu irmão for embora.
- Que encontro? - perguntou o jovem, carrancudo.
- Tua irmã saiu com um rapaz ontem.
- Rapaz? - o olhar duro. - Quem?
- Não é da tua conta - disse a acusada, servindo-se. - E sinceramente prefiro não tocar nesse assunto por enquanto.
- Você não acha que é muito nova pra namorar?
- Ela já tem 16 anos, Igor.
- E ninguém aqui está falando em namoro...
- Então você está praticando pra ser puta?
- Igor!
- Responde a minha pergunta - disse, o olhar fixo -, por favor.
A menina revidou o olhar sem alterar a expressão.
- Não sou obrigada.
- Parem com isso vocês dois! Vamos comer como uma família civilizada agora. Chega de falar.

*** Eis o primeiro.

- Ellen Luca

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⏰ Última atualização: Dec 07, 2018 ⏰

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