operação 24

capítulo 01 - adeus

  Eu não tenho coragem de abrir meus olhos, mas preciso. Olho pro relógio de parede e são cerca de 9:00 da manhã, eu não sei que dia é, perdemos as contas disso a meses. Acordei na madrugada assustada ouvindo os gritos dos meus pais de Joah e Will, não tive coragem de levantar para ver o que estava havendo, mas eu deveria ter feito. Eles receberam a carta de admissão a umas duas semanas mas não responderam ao chamado do governo e agora não tenho ideia de onde eles podem estar. Você deve estar pensando que eu sou uma idiota de não ter ajudado, não te julgo porque eu também estou. 

 Nunca imaginei que chegaria a esse ponto, sozinha e completamente vulnerável, poucas vezes senti tanto medo, eu não sei o que fazer. Estou a minutos a fio deitada olhando para o teto sem coragem de olhar ao redor e ver o que fizeram com a nossa casa, com certeza reviraram tudo e levaram as pessoas que eu amo. Joah deve estar escondido em algum lugar, ele não tem 20 anos e está bem longe disso na verdade.

 Com muito cuidado retiro o cobertor que tampa meu corpo e levanto devagar, nunca se sabe se aqueles monstros ainda estão por perto, vou até a porta do quarto e abro com cautela, a visão que tenho é horrível! está tudo jogado no chão o sofá está de ponta cabeça, a televisão que por meses foi nossa única fonte de ligação com o mundo exterior está quebrada e na parede da cozinha uma pichação indica quem passou por ali 'O24' é o que está escrito, meus olhos enchem de lágrimas quando vejo aquilo. Como puderam ser tão covardes a esse ponto!?

 Desabo a chorar enquanto vou caindo de joelhos no chão revirado de papéis, na maior parte deles desenhos de Joah. Joah? quando me dou de conta saio correndo olhando em todos os cômodos a procura do meu irmão, ele é a minha única opção, tenho certeza que não levaram ele, aliás a operação procura pessoas acima de 20 anos, ele fez 15 a pouco tempo é impossível que tenha sido levado. 

 Minhas esperanças logo se transformam em mais lágrimas quando me dou conta de que ele não está em lugar algum, nenhum dos quartos, nem no sótão no porão e nem no jardim. Volto para o meio da sala onde desabo novamente em cima dos papéis revirados. Nunca nem nos meus piores pesadelos pensei que iria ficar sozinha em meio ao caos que estamos vivendo, tento procurar nos papéis alguma pista, alguma carta, alguma coisa que de para entender onde estão e quando voltam, mas como era de se esperar não acho nada. 

 Duas horas se passaram desde que estou procurando Joah nas casas da vizinhança, sempre a mesma coisa, bato na porta e espero cerca de um minuto se ninguém atende, o que aconteceu em todas elas, eu entro e procuro. Perdi as contas de quantas casas eu revirei, talvez dez, talvez mil, eu realmente não sei, mas não o encontrei. Voltei pra casa tropeçando por conta das lágrimas que me impediram de enxergar os obstáculos no caminho, é incrível quando paro pra pensar que a três anos atrás nós poderíamos ter impedido essa tragédia, mas o ser humano é manipulável, burro e inconsequente! Volto pra cama me cubro novamente e sou dominada pelo sono que luta contra o choro para saber quem vai tomar conta de mim. Enfim acabo dormindo.