O Retrato do Pirata A

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A brisa gelada agraciou a figura do jovem príncipe na janela do quarto, a expressão de tédio o fazendo esperar que o tique-taque incessante do relógio o colocasse no profundo sono até que o Sol nascesse na manhã seguinte.

Caso parasse e prestasse atenção em algo além do vento, poderia facilmente escutar os telefones tocando no andar de baixo, seguidos das vozes do pai e da mãe entrando em negócios com multinacionais.

Aquilo que faziam deixava Akashi enojado. As inúmeras mentiras que espalhavam para tudo e todos, com a naturalidade de um adulto.

Ter a sensação de ser seu próprio dono deveria ser ótima, mas a ideia de se tornar tão imundo quanto seu responsável era desesperadora. – Ser criança não deve ser tão ruim enquanto puder ser livre.

– Então por que não fica como uma para sempre?– suavemente a pergunta chegou a si, e o ruivo respirou fundo abrindo os olhos, ao longe o movimento da capital.

– Como se isso fosse possível.– riu amargamente, e então olhou para o lado.

A poucos centímetros de si estava um garoto, aparentemente de sua idade, em pé na ponta do vaso de flores que lá estava. O garoto sorria, não sabia identificar como, e começou a rir com a maneira que o ruivo se afastou, tropeçando e quase caindo de cabeça no chão.

Seijuro se levantou do susto tomado, se preparando para correr caso o menino tentasse algo. Ou algo mais importante, como ele tinha chegado lá e como conseguia manter o equilíbrio daquela forma. Abriu a boca para falar, mas antes que algo dissesse o azulado tinha parado em sua frente, a mão sobre seus lábios e com a outra livre fez sinal de silêncio com os dedos, em seguida apontando pra sombra que passava debaixo da porta de criados trabalhando. – Não gostaria que soubessem que ainda está acordado, não é mesmo?– sussurrou agora com a face inexpressiva, e por mais que a vontade de vociferar ordens para que ele tirasse as mão de si e distanciasse, surpreendentemente fez o que o menino de olhos azuis disse, encantados pela cor tão, ou mais, profunda que o céu.

As pessoas foram-se embora de perto do cômodo, e o azulado sorriu. Ele saltou para trás, sentando-se na poltrona perto da janela. – Sou Tetsuya, nome estranho não?– iniciou um assunto de pouca importância, na cara que esquecia a situação que se encontravam.

– Como está aqui?– o ruivo preferia sair quarto, correr e chamar os seguranças, até mesmo a polícia caso não dessem conta. – Não me importo com seu nome, o que faz aqui?– lançou-lhes questionamentos, em passos lentos aproximando da porta do quarto, os olhos atentos de Tetsuya o seguindo por mais discreto que fosse e sorrindo novamente.

– Quer ser uma criança? Torno seu sonho realidade mais rápido que imagina, Akashi-kun.– ele endireitou a postura, vendo o leve interesse brilhar no outro. – Se dizer algo a algum adulto não terá como eu fizer, por isso não mexa nessa maçaneta.– leu os movimentos do ruivo que parou apreensivo.

– Isso não pode acontecer, é irreal.– Akashi seguiu em passos firmes para a cama, não obedeceria o menor, não por enquanto. – Vá embora.

Tetsuya apoiou-se com uma mão na cama e subiu com o joelho, ficando frente a frente com a face do ruivo. – Só se você acreditar.– encostou suas testas, vendo-o corar. – Quer ser uma criança para sempre? Ou quer se tornar adulto imundo, cercado de gente como ele, e futuramente você?

Akashi permaneceu calado engolindo as palavras, e Tetsuya sorriu mais uma vez retirando-se para a janela e pula na mesma ponta do vaso de antes.

– Ei! Vai se machucar dessa forma!– Seijuro levantou-se de uma vez, deixando o cobertor cair enquanto corria para o azulado. – Nem pense em pular!– ordenou, o vendo balançar.

Portrait of the Pirate AWhere stories live. Discover now