O Santuário

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Não demorou muito até encontrarem o carro que Dwight havia mencionado antes e Dylan pôde finalmente respirar tranquila e relaxar os músculos cansados, ao se sentar no banco do passageiro. Logo ambos engataram em uma conversa que ia sobre como as coisas funcionavam no tão falado Santuário para como conseguiram sobreviver durante esse tempo.

Dylan havia feito coisas as quais não se orgulhava, porém foram necessárias terem sido feitas. Ela morreria se não fizesse metade daquelas coisas. Era trágico, mas seria ainda mais trágico se ela tivesse deixado seus sentimentos falarem mais alto toda vez que precisou apontar uma arma para alguém.

Ainda garantindo que ela poderia ir quando quisesse, Dwight foi mais detalhista em como as coisas funcionavam na comunidade deles, eles estavam trazendo uma civilização para o mundo, de acordo com as palavras do loiro.

Dylan sabia que era arriscado, mas se ela estava disposta a tentar, ela também tinha uma ponta de esperança de que poderia dar certo. Fazia muito tempo que ela não tinha nenhum contato com outra pessoa viva, e isso pode começar a mexer com a sua cabeça. Ninguém foi feito para ficar sozinho e isso não quer dizer em questões amorosas.

Passaram quase uma hora até que ela pudesse começar a ver um grande prédio velho e sujo logo a frente, e conforme Dwight ia chegando mais perto ela começou a ver com mais clareza. Alguns carros parados na rua para dificultar o caminho de quem chegasse e ela podia ver que haviam pessoas dentro de cada um deles, mas assim que Dwight se fez reconhecível, logo o deixaram passar.

Ao estarem próximos o bastante, ela pode ver que os portões tinham alguns mortos presos em correntes ou em enormes estacas de ferro. Era uma quantidade significativa, porém se tornavam inofensivos já que a maioria deles já não tinha a mandíbula inteira. Dylan percebeu que aquilo era um mecanismo de defesa, um bem inteligente por sinal. O cheiro dos mortos presos ali afastavam grandes hordas do edifício.

Assim que o portão foi aberto e o carro entrou, Dwight pediu para que Dylan esperasse um momento para que ele falasse com seu superior, o que ela pode reconhecer como o homem com quem falara na floresta. Não demorou muito até um sorriso surgir por baixo do bigode escuro que o homem tinha, assim que ele olhou para o carro e a viu sentada ali. Logo Dwight já voltava e a conduziu para fora do veículo.

— Então eu vejo que a nossa proposta não foi completamente ignorada, não é? — ele disse ao sorrir carismático. — Simon — disse estendendo a mão para ela.

— Dylan — respondeu sorrindo levemente. Fazia tempo que ela não sorria para alguém e de certa forma, aquilo pareceu estranho para ela.

Simon e Dwight levaram ela para dentro do edifício que ela viu ser bem cuidado por dentro, apesar da aparência brusca por fora. Dylan também percebeu que a cada lugar em que passavam havia pelo menos três pessoas. Acredite, para ela isso já era uma enorme quantia. Porém nada conteve seu espanto quando chegaram em uma parte em que haviam dezenas de pessoas. Homens, mulheres e crianças. Chegava a ser coisa de outro mundo ver tanta gente junta e ela começou a se perguntar, como eles conseguiam prover para toda essa gente.

— Aqui é onde você troca os seus pontos — continuou Simon, depois de ter explicado como funciona as coisas no lugar, mesmo ela já tendo uma ideia já que Dwight havia explicado. — Simples. Chegue e apresente seus pontos, pegue o que quiser. Desde que esteja dentro do que você possui.

Concordando com a cabeça. Ela continuou observando as coisas. As pessoas levam a vida como se nada as pudesse atingir e isso era uma benção e uma maldição. Se essas crianças não aprendessem a se defender, como elas iam sobreviver se um dia precisassem sair?

Dylan foi acordada de seu transe quando viu todas as pessoas naquele pátio se ajoelharem, incluindo Simon e Dwight. Não querendo se destacar, ela logo os seguiu e ficou da mesma forma. Olhando por baixo da sua franja que caia sobre seus olhos, ela pode ver uma figura alta e esbelta parar ao seu lado. Logo Simon estava de pé e conversava com o homem que tinha uma voz grave e melodiosa.

— Podem voltar aos seus afazeres — disse o homem e com isso todas as pessoas se levantaram se seguiram a ordem dele.

O que Dylan não percebeu é que ele tinha os olhos grudados nela e quando ela se levantou e o olhou, ela sentiu as palavras ficarem presas na garganta. Era surreal como essas coisas só acontecem com ela. Conforme ele ainda a encarava, ela percebeu que ele esperava que ela se apresentasse.

— Eu sou Negan, eu mando nessa merda toda. E quem você seria, boneca? — disse com grande tom de questionamento.

— Dylan. Meu nome é Dylan — respondeu ao manter o contato visual com ele.

Logo ela pode ver uma onda de conhecimento passar pelos olhos castanhos dele. Ele também havia se lembrado dela. Sorrindo da mesma forma que sempre havia feito, ele acenou com a cabeça, mais em confirmação para si do que outra pessoa.

— Bom, Dylan, seja bem-vinda ao Santuário. Eu espero que nós possamos suprir as suas expectativas — disse e se virou para sair.

Dylan tinha a respiração presa na garganta e só percebeu quando escutou seus passos se afastarem. Era impossível que até no Apocalipse o destino a quisesse fazer de idiota. Porém todo o seu alívio foi embora quando a voz dele se fez presente novamente.

— Simon, coloque ela em um dos quartos do quinto andar — disse e logo depois deixou o local.

Assim que ela teve certeza de que ele já estava realmente longe, se virou para Dwight e Simon, que a encaravam com curiosidade. Decidindo ignorar os olhares de ambos, ela voltou a observar as pessoas abaixo. Logo Dwight se retirou dizendo que precisava ir a um outro lugar e após dizer a Dylan que a mostraria todo o lugar no dia seguinte.

Simon foi ligeiro em levá-la ao quinto andar e a direcionar aos quartos que haviam ali. Quando ele achou um que seria bom o suficiente, ele abriu a porta e deixou que a garota tivesse uma ampla visão do espaço. Uma cama com alguns cobertores, um pequeno frigobar, uma televisão e um rádio alguns livros e uma mesa de cabeceira. Sob a cama ela pode ver algumas mudas de roupa, porém logo notou que eram masculinas. Mas não reclamaria, fazia meses que ela vestia as mesmas roupas.

— Eu não faço ideia do que aconteceu, mas qualquer pessoa nesse lugar daria tudo para ter essa oportunidade. Não são todas as pessoas que conseguem um quarto individual, normalmente apenas os Salvadores conseguem e mesmo assim, não é da noite pro dia — Simon disse antes de se retirar. — Esteja de pé às sete — gritou do corredor antes de desaparecer.

Assim que ela percebeu que estava completamente sozinha, ela se sentou na cama e encarou o quarto em que se encontrava. Isso era ganhar na loteria esses dias. Vendo uma pequena porta que ela não havia percebido, ela logo se direcionou até lá e encontrou um pequeno banheiro. Quase gritando de excitação, ela voltou e se certificou de que a porta estava realmente trancada, até ir tirando todas as peças de roupa pelo quarto.

Ao abrir o registro e sentir a água quente tocar a sua pele, ela pode se sentir humana mais uma vez. Nunca havia se sentido tão feliz desde que tudo aconteceu. Apressou-se em tirar toda a sujeira do seu corpo, e como não havia nenhum produto capilar, ela usou o próprio sabonete para lavar os cabelos. E sendo honesta, nunca havia sentido sua cabeça tão limpa antes.

Depois de quase quinze minutos debaixo d'água, ela saiu e se enrolou na toalha que havia ali. Não se importando que seus cabelos molharam o chão, ela voltou para o quarto e logo vestia a camisa que estava junto da muda de roupa que vira cedo. Não se importando se estava usando roupa de íntima ou não, ela se foi até o frigobar que tinha ali e sorriu largamente quando encontrou dois sanduíches e algumas garrafas de suco e umas frutas.

Pegando um dos sanduíches e uma garrafa de suco, ela se sentou na cama e começou a comer. Dylan não se lembrava de quando havia comido algo tão saboroso nesses últimos meses.

Após comer e jogar a garrafa plástica na pequena lixeira que havia ali, ela se aproximou da televisão e viu que loo embaixo havia um aparelho de DVD, e sorrindo com aquilo, escolheu um filme qualquer que havia ali e deitou-se decidida a assistir até o final. Fazia quase dois anos que ela não sabia o que era todo o conforto que ela estava tendo. Mesmo decidida a assistir até o fim, o cansaço tomou conta de seu corpo e sem perceber, ela pegou no sono.

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