Os humanos só veem o que querem
- Se os humanos, gnomos de jardim querem ver, então gnomos de verdade jamais vão conhecer. - O mestre gnomo bufou assim que Alecrim perguntou se não estavam se arriscando demais ao catar os restos de gesso do Papai Noel destruído na noite anterior. - Afinal, humanos só veem o que querem. Sempre ajudamos um amigo. É nisso que os humanos de nós diferem. Pois eles só se preocupam com o próprio umbigo.
Alecrim revirou os olhos. "Amigo". Aquele Papai Noel aparecia durante alguns dias no ano e já o chamavam de amigo.
Aquele Papai Noel nem se quer era como eles. Gnomos de jardim falavam, sorriam e brincavam, quando os humanos não estavam vendo, já aquele pançudo de vermelho, só soltava um sonoro: "Ho Ho Ho", quando alguém apertava um botão.
- O que o senhor acha que aconteceu? Será que mesmo na noite escura ninguém percebeu? – Alecrim estaca nervoso, com medo de que alguém descobrisse que foi ele. Se tivesse unhas já estariam tidas roídas.
- Não seja assim tão precipitado, porque ainda nem todo mundo foi consultado.
Os gnomos e duendes, tanto os de barro como os de gesso, ainda catavam os pedaços do chão do jardim. Era uma cena que não combinava com as decorações de natal, as araras de barro tinham chapéuzinhos vermelhos, os cogumelos estavam circulados por pisca-piscas, joaninhas complementando os enfeites e até carnaubas brilhavam no tema do feriado.
Alecrim não sabia se era muito egoísmo, mas não sentia muito pela perda de alguém que nem se mexia.
Outro dia uns gnomos da Escola Estadual de Debaixo da Jabuticabeira, vieram dizendo que seu nome era de planta. "Ho Ho Ho", foi tudo o que o gordinho de barba branca disse. "Ora! Nome de planta? Mas o nome é meu! De planta só se for o seu!", ele respondeu na ocasião, mas logo o Papai Noel riu do seu jeito de rimar também, " Ho Ho Ho".
Ali em Teresina, no Jardim da frente da casa da menina Jessica, Alecrim não tinha muitos amigos, um dos únicos era um duende esquisito, que ele nunca descobriu o nome, e tinha uma missão esquisita de dar um ótimo natal para a menina que morava na casa, mas sumiu alguns dias atrás, quando uma tal de Beatriz lhe levou dali.