ciano

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Dedos afoitos resvalavam sobre capas endurecidas, ao que uma mente com pensamentos tão berrantes quanto o esmalte descascado de suas unhas zunia em fervor sobre aquele brilho em torno da figura atrás da estante, um tanto longe de seu corpo coberto por jeans. Longe o bastante para ele não conseguir ver os olhos, a melhor parte.

Sim, os olhos.

Ele sabia que eram azulados feito seu esmalte favorito, assim como seu doce favorito, um pirulito em formato de coração que comprava toda quinta-feira na loja de doces do senhor Dunet - um nome um tanto diferente para um senhorzinho com sorriso de pão quentinho.

Era assim que ele pensava.

Harry poderia ser considerado como a figura exótica da biblioteca. Ele era o único com uma jardineira, sapatos negros e meias que passavam um pouco da canela ali. Ele também era o único que tinha lábios devorados por um vermelho vivo e forte, brilhando e brilhando com seu gloss favorito e esplendor invejável. Harry não era estranho por conta disso, não, não. Ele não era, mas sim... Por conta de estar todos os dias ali, em pé, deslizando sobre as prateleiras, olhos esverdeados atentos e, ao mesmo tempo, tímidos feito um filhote.

E ele olhava. Olhava bem. A intensidade de suas espiadas entre os livros era firme, derramando curiosidade absurda e fúcsia do corpo pálido e alto o bastante e, às vezes, fechava os olhos e se agarrava a um dos livros, abrindo e aspirando o cheiro para seus pulmões necessitados, como uma droga. A melhor de todas.

Harry não sabe exatamente quando, mas se lembra perfeitamente do momento em que a estrela humana deslizara sobre o carpete amarronzado, se levantando como quem abraça o céu e remexendo as pernas não tão longas sobre o lugar, carregando a dureza antiga entre os dedos e adentrando o corredor de livros em sua frente, bem no outro lado.

A biblioteca parecia se silenciar ainda mais enquanto aquele garoto tão bonito e de áurea pura ajeitava os óculos, lambia os lábios ressecados e soltava o ar, antes de empurrar o livro entre os outros, os espremendo sem esforço algum e calmaria invejável. É belo e lento e Harry adora. Ele adora como o garoto parece tão centrado naquela ação, que nem ao menos o nota ali, espiando entre os livros, no outro lado da estante e com vincos nas bochechas fofas e sempre coradas.

Harry não tem culpa de ser tão apaixonado.

Então, depois do que o pareceu segundos, Anjo gira em seus calcanhares, passando por entre os exemplares de milhares de livros de poesia e saindo de seu campo de visão tão rápido quanto as batidas de seu coração se encontravam, indo embora da biblioteca como quem nunca esteve ali.

Harry ainda o sentia. Em todos os lugares, como o fogo sobre a pele. Era tão vivo e real que ele poderia tocar se fizesse bastante força.

Estendendo as unhas verde-limão, ele se inclina, apoiando o outro braço sobre a estante e arrastando um pouco sua língua para fora em pura concentração e determinação, porque aquele dia seria O Dia e ele deveria fazer o certo e Harry pega o livro, querendo abrir um sorriso com seus lábios cheinhos, mas o controlando.

Aquele era um exemplar de capa dura e negra e "Amar Sem Gritar" se destacava em um relevo prateado, derramando-se majestosamente pelo livro, serpenteando aqui e ali em letras desenhadas e bonitas, logo chamando a sua atenção sem esforços. Parecia tão simples, ao mesmo tempo, tão forte para um título. Harry respira, o ar adentrando em seu corpo deliciosamente, ao que o solta em seguida, antes de abrir na página marcada, estalando a língua no céu da boca e apertando os olhos.

"Não havia mar em seus olhos,

nem olhos em seu mar.

Deveria ter ouvido

Feel MeOnde histórias criam vida. Descubra agora