Capítulo 2

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Era por volta das dez horas da noite que a chuva voltou com toda a força. Fazia um barulho infernal batendo nos telhados de metal da garagem do prédio. O céu parecia anunciar o fim do mundo de tantos relâmpagos e trovões, assustando bastante os habitantes das cidades. Telma foi lá fora, pela sacada, sentindo o forte vento contra seu rosto, e viu algumas ruas sendo alagadas. Alguns carros tentaram passar ali, mas sem êxito e tiveram que dar meia volta. Depois observou lá embaixo, para a sua rua sob as luzes amarelas dos postes, e viu a água enlameada saindo pelo esgoto. Ela sabia que logo alagaria tudo ali. Era questão de tempo para surgir a enchente nesse bairro. Exatamente como a síndica havia alertado. Ela deitou no sofá, vendo a televisão ligada onde passava um filme. Tentava dormir, mas não conseguia, preocupada com o tempo piorando lá fora.

Poucas horas antes do amanhecer, ela foi ver lá fora novamente, espionando pela janela da área de serviço. Viu a rua agora tomada pela enchente. Faltava mais um pouco para encostar nos cabos de energia dos postes. Se a água da enchente encostasse neles causaria um choque muito grande que podia desencadear a morte da pessoa ou animal que estivesse nadando ali. Um risco muito grande. Sabia que, em breve, a energia seria cortada para evitar que isso ocorresse. Voltou para a sala e fumou, sozinha, pensativa. Mais tarde, assim que alvoreceu, porém sem sol, a energia elétrica foi desligada, como era esperado.

Ela terminou de fumar seu cigarro e foi para o quarto ver sua irmã na cama, ainda dormindo, sem estar ciente sobre lá fora. Deitou na cama, ouvindo o barulho da chuva por um tempo até que a sonolência a pegou de jeito e adormeceu.

Ela acordou poucas horas depois, olhou para a sua irmã na cama e viu que ainda dormia pesadamente. Achou melhor não incomodá-la e saiu com cuidado da cama. Ela aproximou-se da janela do seu quarto e puxou a cortina escura para o lado, parcialmente. Tudo o que ela viu foi um vasto mar enlameado por toda a parte, com as casas e lojas totalmente submersas, exceto dos telhados. Em uma dessas casas submersas, a quase cinquenta metros de distância, viu um cachorro vira-lata, andando de um lado para o outro no telhado, acuado e latindo. Ah, não!, pensou ela. Ela começou a ficar triste, e ao mesmo tempo com raiva dos donos do cachorro terem ido embora sem levá-lo junto, deixando-o à mercê da sorte. Não suportando ver aquilo, que já era demais para ela, fechou as cortinas com as lágrimas quase enchendo seus olhos.

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⏰ Última atualização: Dec 14, 2018 ⏰

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