Capítulo 1

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"A culpa da violência contra a mulher é da sociedade machista em que vivemos e da falta de leis mais severas para esse tipo de crime. Mas não podemos deixar de citar os comportamentos inadequados de ambos os sexos que incitam essa prática de crime. Essas condutas inadequadas são frutos da ausência de uma boa formação familiar, educacional e social."


Fazia mais de vinte dias que chovia sem parar. E como chovia! Segundo a notícia do jornal, a prefeitura da cidade Santa Rosa, no Rio Grande do Sul, decretou estado de emergência. Houve deslizamentos dos solos instáveis em algumas regiões, causando soterramento de algumas casas e pessoas. Tragicamente, houve mortes.

A síndica, Andressa Furtado, moradora do apartamento 1501, do décimo quinto andar, emitiu um comunicado por e-mail e WhatsApp, a todos os moradores que a rua (onde ficava o prédio chamado Sol Nascente, construído por volta no ano 90) seria a próxima a ser alagada por causa do limite do nível no rio e que os moradores poderiam ficar ilhados, como aconteceu nos anos anteriores. Não havia nenhuma previsão de quando vai baixar o nível do rio, já transbordando no centro da cidade e tendo alagamentos em algumas ruas, provocando caos e engarrafamentos. E tende a aumentar de forma alarmante.

Os moradores dos apartamentos nem quiseram correr risco de ficarem ilhados no prédio e fizeram suas malas para logo em seguida partir para as casas dos parentes ou amigos próximos para abrigá-los. Eles passaram por essa situação havia muito tempo e nem quiseram repetir a mesma experiência. Quanto a Telma, moradora do apartamento 703, do sétimo andar, não podia simplesmente sair do apartamento por um motivo: sua irmã mais, Lorena, que não tinha condição de sair do prédio pelo seu estado mental.

As duas irmãs mudaram para esse apartamento alugado havia dois anos. Era confortável com dois quartos, dois banheiros, sendo um que possuía banheira, amplas salas de estar e uma sacada com churrasqueira. A localização do prédio tinha tudo o que as duas irmãs precisavam. Era perto do supermercado, feira, padaria, farmácia 24 horas e banco. Tudo perfeito para Telma. Na verdade, não tanto perfeito como ela achava que seria. Havia uma preocupação constante com sua irmã.

Lorena permanecia sentada na poltrona inclinável, feito especialmente para ela devido a sua condição mental, e segurando um controle remoto. Ela observava fixamente a televisão em que noticiava sobre a crise econômica do Brasil. Ela ficava ali o dia todo, sem se importar com o tempo que passava correndo. A vida dela resumia assim: assistir e dormir. Às vezes, com muito esforço, Telma a fazia comer e beber, para ela não morrer de fome e nem de sede. E sempre tem sido assim dia após dia. A causa que deixou Lorena em seu estado deplorável era apenas uma: seu ex-marido Klaus. Seu nome nem merecia ser mencionado e nem lembrado pela tamanha atrocidade que fez com Lorena.

Klaus a violentou, tanto fisicamente quanto emocionalmente, e, para piorar ainda mais a situação, deu soco e pontapés, causando vários hematomas por todo o seu corpo, que por pouco quase morreu de hemorragia interna. Não fosse pela vizinha que ouviu o grito dela e chamou a polícia, Lorena estaria morta por estrangulamento. Klaus foi pego em flagrante por dois policiais, que, ao vê-lo tentando estrangulá-la, apontaram as armas para ele para salvá-la.

Depois desse fato ocorrido e com laudo comprovado pela perícia da polícia, Lorena conseguiu a Lei Maria da Penha. Klaus foi preso, porém, infelizmente, foi por pouco tempo e solto pelo advogado competente contratado por alguém da família, que pagou a fiança pela liberação dele. Porém, diante da Lei Maria da Penha, Klaus foi proibido de chegar perto dela. E caso chegue perto de Lorena, Telma era obrigada a chamar a polícia imediatamente. Agora, passando quase dois anos, Klaus nunca mais tornou a aparecer novamente para as duas.

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