Parte 1

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Antes de mais nada, quero começar essa história deixando bem claro que sequer estou vivendo na mesma cidade em que tudo aconteceu. Felizmente fui aprovado em uma Universidade de um Estado totalmente diferente do que eu nasci – o que, no final das contas, acabou sendo o que eu precisava. E antes que você se anime ou comece o serviço aí com as suas mãos dentro da calça, ou caso esteja pensando em começar a imaginar um final feliz numa história clichê, te deixo avisado desde já que sou hétero.

Lidar com a minha sexualidade e toda a confusão que se criou dentro da minha cabeça cheia de piadas machistas sobre mulheres numa quarta-feira à noite (o famoso "bate-coxa", como eu costumava chamar) talvez tenha sido o que mais me impediu de seguir em frente com algo que sequer teve um fim. Não me considero gay e muito menos preconceituoso, mas explicar para as pessoas que eu, que sempre fui popular com as meninas da escola e que, como dizem por aí, nem mesmo tenho "jeito de gay" (o que é uma frase com um preconceito implícito fortíssimo), estava apaixonado por um dos meus amigos do time de futebol, não seria nada simples. Eu sei, eu sei, é sempre preciso dar o primeiro passo. Mas, nesse caso, "dar" era o grande, pesado e volumoso X da questão envolvendo Matheus, o causador disso tudo.

Diferente da maioria, escola nunca foi um grande problema pra mim. É claro que o colchão quente nos dias frios e o ar-condicionado (irônica e metaforicamente comprado com muito suor) eram sempre mais convidativos, mas ir à escola me dava prazer simplesmente porque era o momento de encontro com os meus amigos – confesso que só mantenho contato com um dos quase 15 por sala – e principalmente porque eu sabia que ali era um território seguro: bons amigos, boas conversas, meninas lindas e o bom futebol das terças-feiras com o professor Hermano (o nome já inspirava competição). Embora Inglês nunca tenha sido meu forte, me virava bem nas outras matérias. Nunca consegui aceitar o fato de que a professora da língua do Tio Sam, carinhosamente chamada no diminutivo, "Paulinha", tivesse uma voz mais estridente que o barulho das cadeiras arrastando quando tocava o sinal de ir embora. Sendo bem honesto, talvez a voz dela tenha sido meu único grande problema dos dias de escola. Não sei se posso classificar o Matheus como um problema, mas com certeza posso garantir que a dor que ele me causava não era ruim e muito menos nos meus ouvidos – o buraco era, literalmente, mais embaixo.

Quando entrei no Ensino Médio tinha quase 16 anos. A turma foi a mesma do primeiro até o terceiro colegial – quando o Matheus matriculou-se na escola e passou a integrar a mesma classe que eu. Também tinham entrado outros 4 alunos, sendo 2 meninas e 2 meninos. Quando ele entrou para a turma, eu já tinha meu "grupo fixo" de amigos: eu, Murilo e Vitor (que eram irmãos) e Letícia. Éramos conhecidos como os "diferentões" da sala simplesmente porque não curtíamos ser o centro das atenções como grande parte dos outros 25 alunos da turma. Logo, o Matheus acabou fazendo parte do nosso grupo pelo mesmo motivo.

A situação que nos levou a uma conversa foi totalmente homoerótica. Quando eu contar, vão achar que é mentira e que estou copiando trechos de algum roteiro de filme pornô, mas não. A partir daí, foi quando as dúvidas sobre quem eu era passaram a me visitar todos os dias e passei a ser menos preconceituoso comigo e com os outros – já que, por mais que digamos que não, algum preconceito sempre acaba escapando em diversas situações.

Contos Coloridos: Pedro & MatheusOnde histórias criam vida. Descubra agora