Parte 3

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Matheus estava muito irritado por conta da derrota do nosso time dentro da escola. Talvez nem fosse tanto por conta da derrota, mas por tudo o que tinha acontecido e o que ainda poderia acontecer: teve o Renato provocando e ele ficando nervoso por causa de namoro e com certeza teríamos os outros meninos da escola tirando sarro e achando que eram melhores que nós em qualquer coisa só por conta do futebol. Penso eu que é preciso ter coragem pra perder, mais do que pra querer ganhar.

Foi pensando nisso, no meu medo de perder o medo, que acabou acontecendo tudo o que aconteceu depois do jogo, no banheiro/vestiário. Foi preciso coragem pra perder o medo de tentar algo com o Matheus, e, ao mesmo tempo, seria covardia comigo não tentar algo simplesmente por medo de gostar e me sentir "mulherzinha", "boiola", "maricas" ou simples ou preconceituosamente "viado".

Quando voltamos pro banheiro/vestiário, a maioria dos jogadores foi embora e não quis tomar banho com todos os outros – muito provavelmente por medo de serem pegos olhando para a piroca dos outros e serem condenados por isso. O Matheus ficou, e acabou rolando mais uma briga com o Renato, mas dessa vez foi algo bem feio e que poderia ter resultado em uma fatalidade se eu não estivesse por perto. O único ponto positivo da briga foi que, sem ela, eu e o Matheus provavelmente nunca teríamos chegado às vias de fato como chegamos.

Estávamos só nós três dentro do banheiro. Todos de cueca boxer.

Renato – Você sabe que a gente perdeu por sua culpa, né?

Pedro – Renato, qual é, cara, chega. Já acabou, outro dia a gente joga de novo e resolve isso aí. Todo mundo perdeu, não fomos só nós três, não.

Matheus – Cara, nem sei se te respondo te xingando ou se simplesmente enfio um murro nessa sua cara. Se eu fosse você, ia embora. Não tô pra papo, não. Aliás, nem antes e durante o jogo eu estava, mas você fez questão de ficar me provocando como se ainda fosse um moleque de 10 anos que briga com o colega na escola por causa de um picolé.

Renato – Você é frouxo, sabe que futebol é assim. Um provoca o outro. Quem tem a cabeça mais fraca, se deixa levar. Se você se permitiu levar pelas coisas que eu te disse, é porque muito provavelmente eu te afeto mais do que você pensa, rapaz.

Renato se aproximou de Matheus.

Renato – Tô começando a desconfiar que você tá todo putinho aí porque tá querendo algo comigo, e não porque eu tô com a Isabela.

Pedro – Renato, sérião mesmo, cara, vai embora, já deu. Vaza. – fui me aproximando já prevendo o pior.

Renato – Posso te garantir uma coisa: com saudade é que ela não tá, viu. No fundo, no fundo, a gente sabe que ela tá pouco se fodendo pra namorado. Ela quer é isso aqui, ó (pegando no meio das próprias pernas), e, pelo que eu tô sabendo, até nisso eu sou melhor que você.

Os chuveiros estavam ligados e o Matheus empurrou o Renato com muita força no chão. Ficou em cima dele enquanto distribuía socos. O sangue escorria para o ralo e, depois de o Renato apanhar um pouco, tirei o Matheus de cima dele. Sou totalmente da paz e nunca me envolvei em nenhuma briga desse tipo. Não acho que violência resolva violência, mas também não sou Madre Tereza e, mesmo sem ter absolutamente nenhuma relação com a história, gostei de ver o Renato apanhando, no chão, enquanto levava uma surra física e psicológica sendo humilhado pelo Matheus.

Segurei-o por trás e prendi os dois braços, enquanto o Renato se levantava e o sangue escorria.

Renato – Mano, você tá fodido. Eu vou chamar a polícia e você vai se foder na minha mão.

Pedro – (enquanto o Matheus se debatia e tentava se soltar) Renato, larga a mão de ser escroto, seu merda. Vai denunciar o Matheus só porque ele te deu uns socos na cara? Cê provocou, cara. Vaza daqui, filho da puta.

Contos Coloridos: Pedro & MatheusOnde histórias criam vida. Descubra agora