Nada de cerveja barata

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 — Mandou bem — disse Rodrigo para Flávia — Esses playboys não sabem como tratar uma mulher.

— Não tenho um pingo de paciência com esse tipo. Eles acham que podem falar qualquer besteira e que a gente vai cair no papinho deles assim, fácil.

— Às vezes é melhor dar uma resposta seca mesmo.

— Bom, essa secura toda até me deu sede. Vou pegar alguma coisa para beber. Você quer?

— Tô de boa.

— Eu já volto — Flávia piscou para Rodrigo enquanto se virava para ir em direção ao bar.

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— Onde será que fica o banheiro desse lugar? — Ian olhava de um lado para o outro, mexendo a cabeça constantemente.

— Não acredito que você não foi ao banheiro antes de sair da sua casa, Ian — disse Renata com aquele tom maternal que Ian conhecia muito bem.

— Você me apressou, poxa. Eu tive que sair de casa correndo.

— Acho que você vai ter de entrar na casa e procurar o banheiro então — Renata apontou a casa de Letícia com a mesma expressão de quem indica uma casa assombrada.

— Eu já volto.

— Tenta não se perder — Renata sorriu para Ian antes de ele se virar. Ela não podia negar que achava fofo o modo como ele se comportava como uma criança de vez em quando.

Já Renata nunca havia se sentido tão adulta quanto agora. Afinal, estava em uma festa de verdade. As pessoas ao seu redor estavam tomando bebidas alcoólicas de verdade (nada de cerveja barata roubada da geladeira dos pais) e usando drogas de verdade. Das drogas Renata preferia se manter longe. Uma vez, ainda nos primeiros anos de adolescência, quando Renata perguntou para sua mãe o que era um "baseado", ela a fez prometer que nunca colocaria seus lábios em um. Porém, ela nunca falou nada de bebidas. E um golinho não ia fazer mal, né?

Renata foi em direção ao bar, pediu um copo "daquela bebida rosa", a mesma que uma garota loira de regata branca e shorts jeans havia acabado de pedir. Quando deu o primeiro gole, teve que se segurar para não cuspir tudo para fora. Era forte, bem mais forte do que ela imaginava. Nem mesmo o leve sabor de framboesa aliviou a ardência na garganta. "Tudo bem, Renata", ela pensou. "Pelo menos agora você sabe que não pode tomar tudo de uma vez". "O que será que é isso? O sabor do xarope para tosse que eu tomava quando era criança não é tão diferente disso aqui não".

Renata pensava e andava olhando para o copo decorado com um abacaxi de papel, o pensamento tão acelerado que nem percebeu quando tropeçou e caiu bem em cima de uma pessoa, a bebida voando para tudo quanto é lado.

— GAROTA, VOCÊ TÁ LOUCA?

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— GAROTA, VOCÊ TÁ LOUCA? — Letícia gritou antes mesmo de olhar para o rosto da menina que tinha acabado de encharcar ela com vodka e framboesa. O choque maior veio quando ela reconheceu o rosto surpreso de Renata.

— Renata? O que você está fazendo aqui? — as duas se olhavam com a mesma expressão de espanto — Eu não lembro de ter te convidado.

— Vo... Você não convidou — foi tudo que saiu da boca de Renata.

— Então o que você está fazendo aqui? — Letícia repetiu a pergunta, falando cada palavra separadamente, algo que ela sempre fazia quando estava realmente brava.

Uma série de pensamentos disparou como uma enxurrada na cabeça de Letícia. Tudo o que ela sabia é que a simples presença da outra ali significava uma grande ameaça para ela.

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Renata continuou sem responder, apenas encarando a mancha rosa na qual o vestido branco e curto de Letícia havia se tornado. A verdade é que ela não sabia como reagir. Queria rir. Rir muito, daquelas gargalhadas que fazem perder o ar. Queria chorar. Era a primeira vez que via Letícia de tão perto, que olhava ela nos olhos, depois de tudo...

— Você não vai falar nada, garota? — Letícia puxou Renata de volta para a realidade — Eu não acredito que você veio até aqui para me tacar um copo de bebida.

— Foi sem querer, eu tropecei.

— Você acha que eu vou acreditar nisso? — Letícia deu um passo para frente.

Nessa hora, uma pequena multidão já havia se formado ao redor das duas. Pessoas boquiabertas, esperando para ver qual ia ser o ataque final de Letícia.

— Ela tá falando a verdade, eu vi tudo. Foi um tropeço, nada mais — Um rapaz de cabelos castanho claro que Renata não conhecia falou. Ele olhou para ela e fez um pequeno aceno de cabeça, confirmando que ela estava falando a verdade.

— Quem é você? — Letícia falou para o rapaz.

— Rodrigo Oliveira, prazer — Rodrigo estendeu a mão para Letícia, que não a apertou.

Tiffany, depois de abrir caminho pela roda de curiosos, se aproximou de Letícia.

— Amiga, o que aconteceu? — ela perguntou, olhando chocada para a versão molhada-de-vodka de Letícia.

— Quem deixou essa gente entrar? — Letícia perguntou para a amiga, parecendo que havia esquecido que Renata e Rodrigo ainda estavam ali.

Tiffany não respondeu, tentando sem sucesso enxugar o vestido de Letícia com alguns guardanapos que estavam em uma mesa ali perto.

Quando Letícia estava prestes a se virar para sair do centro da roda, Rodrigo disse:

— Você podia ser um pouco mais educada, sabia?

Letícia encarou o rapaz sem conseguir acreditar no que havia acabado de ouvir.

— Você sabe com quem você está falando? — foi o que ela respondeu.

— Já vi que não vale a pena saber. — Rodrigo se virou e começou a andar na direção oposta.

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A roda de pessoas começou a dispersar e, com isso, Renata perdeu Rodrigo de vista. Ela até ficou na ponta dos pés para ver se via algum sinal dos cabelos bagunçados ou da camiseta cinza que vestia. Tudo o que conseguiu ver foram as absurdas entrando na grande casa.

Enquanto olhava a porta se fechar atrás de Letícia e Tiffany, Renata sentiu que alguém a observava de longe.

Diferente de Rodrigo, esse rapaz tinha cabelos escuros e bem cortados. A pele branca contrastava com o preto de todas as peças de roupa que vestia. Da bota estilo coturno à jaqueta de couro: tudo era preto. Ele começou a andar na direção de Renata, que, ao mesmo tempo que queria correr dali, sentia necessidade de ficar e descobrir o que ele tinha a dizer.

— A maioria das pessoas que eu conheço teriam ajoelhado no chão para pedir desculpas para a Letícia — ele disse.

— A... Ainda bem que eu não sou igual a maioria, não é? — Renata respondeu, não muito segura do que estava dizendo.

— Você se saiu bem. Quer dizer, nem pareceu que estava morrendo de medo dela.

— Eu não estava... Eu não tenho medo da Letícia.

— Tem certeza?

— Absoluta.

— Nesse caso, eu tenho uma proposta para te fazer.

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