Uma decisão... Uma despedida...

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A música da mídia fala sobre ir embora e deixar pra trás alguém que se ama, assim como o texto.

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Ei, me perdoe novamente. Eu me odeio sempre que esqueço de tomar as malditas pílulas. Eu odeio quando eu acordo aos gritos e você acorda assustado com essa cara de animal encurralado.

Me perdoe, porque às vezes nem é exatamente um esquecimento. Eu simplesmente escolho não as tomar porque me convenço de que finalmente estou bem. O dia foi maravilhoso, ou o pôr-do-sol aqueceu meu coração de tal forma que eu realmente acreditei que os demônios que me rondam durante o sono finalmente se entediaram de mim.

Mas não. Eles não cansam de lutar todas as noites dentro da minha mente na tentativa de dilacerar a minha paz e acabar com o meu descanso. Malditos eles. Maldita eu. Fraca, arrogante e egoísta. Não me contento em atentar contra a minha paz. Acabo por roubar a sua também com essa minha inútil tentativa de queda de braços infernal. Me perdoe.

Peço perdão também por te preocupar tanto. Você diz “me conte o que foi” ou “nós podemos conversar sobre isso, apenas diga”. Mas não é simples assim, querido. Eu não estou depressiva ou com nenhum tipo de síndrome social. Eu talvez nem saiba explicar o que se passa durante meu sono que me enche de tanto pavor e me faz precisar entorpecer a essência dos sonhos. Eu só posso dizer que consigo ficar bem após o susto com os meus próprios gritos. Mas admito que sinto um tipo de medo visceral. Algo que me faz olhar em direção ao escuro e temer que algo me olhe de volta.

Então faço mil atividades diárias para sobrepor estes pensamentos amedrontados. Inconscientemente, admiro meu corpo tentando manter a paz na minha mente, tentando defendê-la do mal. E mais uma vez sinto que já estou bem e que sou forte o suficiente pra enfrentar meus demônios.

Mas a noite vem e eu sinto medo dos meus sonhos. Eu sinto medo do que vou enfrentar naquela noite, e na noite depois daquela. Então pego a caixinha de pílulas e espero o torpor. Rezo a qualquer deus que a dose seja finalmente a suficiente pra dormir sem sonhos e acordar sem a fadiga pós-anestesia.

E todas as manhãs eu levanto disposta a não sentir mais esse medo, mas quando anoitece e o meu corpo está cansado demais pra defender a minha mente, eu simplesmente perco o controle. O medo vem e eu engulo a pílula e me vou.

Me perdoe por toda essa coragem inútil da manhã, se quando a noite cai eu não consigo lutar honrosamente. Eu sinto que deveria juntar este ínfimo de coragem e partir pra bem longe de você, em nome de todo amor que eu sei que sinto. Estes demônios são meus. Este inferno é meu. Essa dor amortecida, que só vem durante o sono, é minha. Você não é obrigado a lidar com tudo isso que eu sou. Você é a luz que me resguarda do mundo. E em nome da sua paz, eu vou resguardar você de mim.

Eu te amo. Me perdoe. Volte a dormir bem.

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Não é uma carta de suicídio. É só uma pessoa deixando alguém que ama, porque acredita que faz mal pra essa pessoa.

Terror Noturno [oneshot]Onde histórias criam vida. Descubra agora