Capítulo 1

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Boca Raton, 2 de junho de 2018.


Esperei o sinal soar, ansiosamente. A sala se encontrava quente, todos ali presentes estavam inquietos com o desconforto causado pelo barulho do ventilador velho e falho que insistia em rodar suas hélices com muito sacrifício.

Enfim o tilintar que indicava o fim daquele semestre, todos guardavam seus materiais em suas mochilas e saíam rapidamente, ansiosos com o início das férias de verão. Caminhei para fora da sala de aula, que mais parecia uma sauna com cheiro de suor e fui até meu armário, guardando alguns livros para que pudesse aliviar o peso do tecido que carregava em minhas costas.

Havia combinado de ir surfar com Ryan e Tyler depois da aula, mas ainda estava cedo demais para que fosse à praia direto, então fui dirigindo minha caminhonete até em casa, com o som alto e vento batendo em meu rosto. Os fios desgrenhados que entravam em minha visão estavam me perturbando, então os controlei do jeito que pude, colocando parte atrás da orelha. A música parou na emissora de rádio, dando espaço ao noticiário.

"Mais dois corpos foram encontrados na areia esta manhã, tinham sinais de estrangulamento e mordidas pelo corpo. O serviço de atendimento buscou os corpos e se comprometeu a nos comunicar assim que tivessem certeza do que ocorreu. Neste mês, foram encontrados mais de cinco corpos ao longo da costa, todos masculinos. A prefeitura não se pronunciou sobre o caso, apenas aumentou a vigilância nas praias onde aconteceram as mortes. Voltaremos com mais informações assim que possível"

Estranhei, confesso que estranhei, já que esse tipo de coisa não acontecia pelas redondezas há muito tempo, espero que não sejam tubarões em época de reprodução.

(...)

Cheguei em casa depois de pouco tempo de demora, largando a mochila em cima do sofá para que pudesse subir e pegar minha prancha, tirei a camiseta quase ensopada de suor no caminho para o sótão, onde ficava uma espécie de studio. Assim que adentrei no cômodo, abri as janelas e liguei o pequeno ventilador de teto, queria ventilar o lugar que ficou o inverno quase inteiro fechado antes que apodrecesse meus materiais.

Tirando a longboard do suporte, coloquei-a em cima da mesa para passar parafina na parte de cima. Dentre os preparativos do shape, ouvi meu celular tilintar algumas vezes seguidas, fui rápido até minha mochila, tirando o aparelho do bolso e suspirando pesado ao ver que as mensagens eram de Caitlin.

"Hey, Liam! Livre hoje?"
"Vou dar uma festa mais tarde, meus pais viajaram."
"Chama os meninos, me avisa qualquer coisa"
"Xoxo"

Apenas li as mensagens pela tela de bloqueio e voltei para o que fazia. Minha ex mandando mensagem não é uma pauta que quero abordar agora, não quando estou indo tirar o meu atraso do surf. Juntei, então, tudo o que precisaria, tirando todos os livros e cadernos da mochila para que desse espaço para coisas melhores, como: chinelo, toalha, muda de roupa, roupa emborrachada, óculos de sol etc. Peguei a prancha e coloquei a mochila nos ombros.

Desci as escadas correndo e ao chegar na cozinha, dei uma olhada na geladeira para pegar qualquer coisa que desse numa refeição. No fim das contas, fiz um projeto de omelete e uma bagunça colossal, sério, aquele negócio estourou e tinha ovo respingado até no armário, certeza que se a minha mãe visse daria um jeito de me esfolar. Tratei de lavar a louça e dar um truque na bagunça assim que terminei de comer, saindo de casa rápido antes que meus pais viessem almoçar.

No meio do caminho para a casa de Ryan, pude notar um trânsito mais intenso, provavelmente devido aos casos de morte nas faixas de areia, dei espaço à uma viatura e três ambulâncias. O mar deve estar bem revolto, não é o ideal quando se está voltando a surfar, mas pouco importa agora. Com o tempo, o engarrafamento amenizou, fluiu mais rápido do que eu imaginei e pude tomar meu caminho novamente, com os vidros abertos para que o vento acariciasse minha pele, e "para-sol" baixo para que a luminosidade não aborrecesse meus olhos, mas parece que não deu certo, porque tão rápido quanto um rasante, vi um corpo atravessar a avenida, cambaleante, mas ligeiro, se jogando ao mar com tamanha velocidade, que não pude descer a tempo para ajudar ou descobrir quem/o quê era.

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