Prólogo

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Esperei até a lua estar no centro do céu para sair da Casa Principal. Não queria de jeito nenhum que Kley e Falcon descobrissem minha filha.

Me ajoelhei diante da porta com a barra dourada iluminando o escuro corredor do segundo andar. Peguei a carta do casaco e a joguei por de baixo da porta fazendo-a parar dentro da sala de Madeleine. Depois disto corri o mais rápido que pude para o bosque, atravessei-o em minutos, para mim era fácil, eu era um lobo e não qualquer lobo, eu era o alfa.

Parei diante de um penhasco tão alto que nem mesmo minha visão aguçada podia enxergar o fim.

Esperei-a por horas, de companhia tinha apenas a lua minguante.

_ Pai!? – Ouvir chamar a alguns metros e corri para ela, em resposta recebi o abraço mais desajeitado da minha vida.

Quando finalmente me afastei pude observar com clareza sua face; pele clara, cabelos curtos, um pouco mais compridos na frente e ondulados em um impressionante tom de castanho dourado exatamente como os meus quando jovem e olhos cor de areia.

_Como é bom te ver minha pequena – falei enquanto acariciava seus cabelos.

_Faz muito tempo – disse como se tentasse buscar em sua mente as memórias da última vez que nos vimos – estive pensando muito sobre nós, pai.

_Esteve? – o rumo da conversa me preocupava.

_Aprendi muito com as bruxas, me treinaram o suficiente para ser uma ótima estrategista.

_Aposto que será tão boa quanto sua mãe um dia.

_Não é o suficiente para mim – respondeu pensativa e continuou – pai, preciso que me apoie, preciso que seja meu pilar para crescer e me tornar grande, não como minha mãe, mas como o senhor.

_Se está falando em governar o vale, Kara, não alimente esperanças, não irá acontecer.

_Esqueça ela! – falava aumentando a voz gradativamente, com raiva – Posso ser mais do que ela jamais seria, nem ao menos sabe de nossa existência. E para quê? Apenas para ser uma rainha horrível.

_Não tenho essa autoridade, minha filha – realmente não tinha, e mesmo que tivesse, não ousaria quebrar as tradições.

_Do que adianta ser rei e não poder fazer o que quiser? – questionou minha filha com ódio em sua voz.

_E quem lhe disse que desejo esquece-la? Ela é minha filha tanto quanto você!

Já sabia que Kara vinha alimentando um ódio doentio de sua irmã, mas não tinha noção de que poderia chegar ao ponto de querer tomar o trono, querer ser algo que ela não era. Meus planos para elas era incrível, talvez as duas poderiam selar o fim da rivalidade entre as raças, algo que não fui capaz de fazer.

Eu estava errado. Fui ao chão por um feitiço. Normalmente estaria atento ao lado de uma bruxa, menos quando esta era Kara, quem espera ser derrubado pela filha?

Acordei acorrentado a uma árvore, tentei libertar-me, mas fui interrompido por alguém que disse:

_São de prata, não perca seu tempo, pai – Era Kara, mas algo em sua voz tinha mudado, estava mais fria, calculista, como se a muito tempo esperasse por aquela oportunidade.

_O que pretende com isso? – Não podia acreditar que depois de tantas conquistas, tanto sacrifício e de tantas luas eu morreria pelas mãos de uma menina que não tinha a metade do meu tamanho – Os lobos caçarão você!

_Que venham! – exclamou com orgulho – pretendo fazer com eles o mesmo que farei com você.

_Seu reinado não irá durar – Queria ter certeza em minhas afirmações.

_Vai durar mais que o seu, papai. Últimas palavras? – Seus olhos brilhavam em dourado.

_Quando Isabella te matar, vai ser eu quem vai vir te buscar.

A última coisa que vi foi a lâmina cortando o ar em direção ao meu pescoço.

SallesWhere stories live. Discover now