Salles

2 - AMALDIÇOADOS

A pista de voo mais próxima ficava a pelo menos duas horas de viajem e já estava a quarenta minutos ouvindo Kley reclamar do novo disco da Taylor Swift, pensando bem, não parecia muito seu estilo mesmo.

_Podemos parar? – pedi mais uma vez enquanto me esticava para desligar o aparelho de som do carro.

_Por favor, criança – Kley insistia em me chamar daquele jeito – quando quiser algo, peça!

Ele se referia as várias vezes que retirei o sinto de segurança para alcançar a garrafa d'água, trocar de música e até mesmo abrir o teto solar. Os dois irmãos demonstravam algum complexo de superproteção comigo, era fora do normal. Em dado momento da viajem tentei abrir a janela, mas Falcon me repreendeu dizendo que era perigoso de mais, alguém podia me ver, então ligaram o ar condicionado e fecharam a janela novamente.

_Podem me explicar por que estamos dirigindo três carros se só existe uma Isabella? – perguntei ironicamente, mas a dúvida me perseguia desde nossa partida.

_Pra você ficar segura – respondeu Falcon, explicando – se o carro da frente avistar algum perigo ele nos avisa e da mesma maneira, se alguém nos seguir Isaac que está no carro de trás nos notifica.

_John tinha assim tantos inimigos? – perguntei um tanto preocupada.

_Apenas alguns.

"Nossa!" pensei, "me sinto muito mais confiante agora, obrigada!".

Continuamente eu manuseava a medalhão buscando algum detalhe não visto antes. Por dentro, em um dos lados ficava a foto do casal, no outro um pequeno espelho, talvez por não terem uma foto minha e quiseram fazer com que eu me sentisse da família. Não conseguiram. Mas toda vez que eu balançava o objeto ele emitia um som, com se algo estivesse preso nele.

_Onde estão as aves que vieram com vocês? – a pergunta causou certo desconforto no ambiente, que desejei não tê-la feito.

_Estão sendo transportadas em outro carro, não se preocupe com elas.

Depois de toda aquela viajem, o veículo finalmente foi manobrado sendo estacionado em algum lugar quase deserto, se não fosse por uma enorme pista larga, com fim. Não parecia ter sido construída para carros, então quase tive um ataque cardíaco ao avistar os veículos estacionados. Seis pequenos aviões estavam aguardando em um espaço destinados a eles. Saí do carro e observei os Finklers realizando cada passo como se aquilo fosse apenas mais um dia, como se jatinhos particulares transitassem pelas ruas normalmente.

O guarda que eu não conhecia apanhava minhas malas e as carregava para um dos jatinhos da frota, Falcon me fazia companhia enquanto Kley conversava com o piloto mais ao longe:

_Descrição como sempre – falou autoritariamente – garanto que a senhora Novak sabe recompensar tanto quanto o pai.

_Já deu tempo de se arrepender? – estava tão distraída admirando todas aquelas coisas que mal percebi a presença de Isaac as minhas costas. Tinha voltado a vestir seu terno e agora usava uma gravata azul, combinando com seus olhos, suas mãos enfiadas nos bolsos harmonizando com ar de diversão em seu rosto.

_Vai ter que se esforçar um pouco mais para eu desistir – retruquei.

_Vamos entrando, senhora Novak – pediu Falcon, tomando a frente. Estava quase me habituando ao novo sobrenome.