Capítulo I

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Minha mãe estava na sala, em frente à lareira, talvez ainda lembrando do que foi os Jogos Vorazes em sua vida, enquanto meu pai estava fazendo alguns pães ao lado do forno.

Vi pela janela meu irmão cacando gansos com seus amigos. Meu irmão era bonito, jovem, tinha 16 anos ainda, mas era um ótimo cacador. Quando pequeno minha mãe ensinara ele a montar pequenas armadilhas para esquilos. E hoje ele herda a chama que o tordo deixou apagar. Me culpo por não herdar alguma característica de meus pais.

- Fox, venha ver esse ganso! Olhe o tamanho... - Dylan grita para mim enquanto seus amigos me encaram- Venha rápido, sua lerda!

-Dylan, isso me enoja. Não gosto de ver um animal nessas condicões.

-Medrosa. Você fica lendo revistas o dia inteiro, saia de casa sem ser para fazer compras! - Dylan e seus amigos riem de mim, me irrito, mesmo sabendo que meu irmão esta certo. Alguma voz aparece no meio de risos-.

-Eu acho que Fox não precisa ver isso, é realmente nojento. Além de que as meninas são assim mesmo, não gostam de atividades ao ar livre.

Era Shawn, um dos unicos meninos que conheco que não me acha mimada e frescurenta. Ele era forte, moreno de olhos verdes, mais velho que Dylan, tinha 19 anos, a mesma idade que a minha. Nós ja estudamos juntos, ele era muito esperto, mas acabou mudando para um colégio perto de sua casa. Todas as garotas eram facinadas por ele. Inclusive eu.  Eu era apenas uma crianca, não fazia ideia do que realmente era estar facinada por alguém. Pessoas e pensamentos mudam, hoje não costumo pensar em menino, apenas em estudos sobre tecidos e manequins. Quero ser estilista no futuro.

Assisto no holograma pessoas da capital desfilando com visuais empantosos, e tento imaginar como elas seriam se eu modificasse seus trajes. A Capital gosta de exibir seus lindos tecidos e confecções aos distritos. Minha mãe diz que a arrogância daqueles que vivem na Capital não mudou desde a revolta de cada distrito. Por sinal, eu só fui saber que meu pai, Peeta Mellark, e minha mâe, Katniss Everdeen eram os lideres dessa revolta quando tinha 14 anos. Minha mãe tinha medo do que eu pensaria, mas eu reagi bem, finalmente entendi os demais olhares na escola, na praca, e em cada distrito. Todos ainda eram gratos aos meus pais.

Eu acho linda a história deles, o amor se manteve diante de qualquer situacão. Mesmo quando estavam lutando pela vida um do outro.

Resolvi sair de casa, para interromper meus pensamentos que voltavam ao passado. Nós, quero dizer, eu, meus pais, Dylan e Flick (nosso gatinho caramelo, que vive metade do seu dia fora de casa e a outra metade me fazendo companhia na cama) moramos em uma pequena vila , com poucas casas cinzas, algumas brancas e azuis, na qual apenas os mais importantes do distrito 12 vivem, mas nunca se comunicam, como vizinhos deveriam fazer. Ela leva uma placa grande escondida atrás de um ou dois galhos, seu verdadeiro nome: Vila dos Vitoriosos, o unico pedaço do distrito 12 que não foi distruido pelos bombardeios da Capital durante a rebelião. Hoje ela não tem mais esse nome, por sinal ela não tem nome, igual às ruas de meu distrito.

Saio de casa e prefiro nem olhar para meus "vizinhos", quero seguir reto, sem conversa, sem olhares. Sou culta, não mostro interesse por nada, ao não ser Flick, meu melhor amigo e meu confidente. É o unico que não me ve como uma pessoa inútil.

Passo por canteiros de flores e chego a um caminho de terra. É só seguir reto para encontrar a campina mais bonita ja vista. Me lembro correndo com meu irmão pelos dentes-de-leão. E mesmo 10 anos depois aquela campina não mudou nada. Gosto de ficar sentada na grama, enquanto penso na vida. Há uma floresta perto, escura e silenciosa. Nunca entrei nela, mas vontade não me falta. O que falta mesmo é coragem de enfrentar o que nem suporto ver morto. Essa é uma característica da lista que não puxei dos meus pais: a coragem. Minha mãe era capaz de fazer armadilhas para coelhos e esquilos inofensivos, para manter viva minha vó e minha tia, que sempre quis conhecer.

Fico pensando na vida, no futuro, menos em garotos. Sei que crescerei e esse medo de menino ira passar. Talvez meu medo nem seja por causa deles, acho que realmente tenho medo de me machucar.

Assim como aconteceu com minha mãe na época dos Jogos Vorazes. Ela amava Peeta, mas seu amor por ele era maior do que sua própia vida. E por isso sofreu graves consequências, como a morte da tia Prim, de Rue, e de seu estilista, conforme ela me contou. Para ela dói lembrar da morte dos três, principalmente quando ela se culpa por isso. Hoje ela sofre por conta de seu passado, lembrando dos Jogos e do que a Capital ja fez para ela. 

Acordo percebendo que dormi na campina e o céu ja está escuro. Saio correndo para casa, pois meus pais devem estar preocupados, ja que nunca saio de casa sem avisar e muito menos sozinha. Abro a porta fortemente, e estavam dois pacificadores na mesa, ambos conversando com meus pais e Dylan. Quando eles olham para mim sinto que estou prester a escutar um discurso de como avisar os pais quando for passear fora. E começa as perguntas...

-Fox, onde você estava? Quer me enlouquecer ainda mais?! - minha mãe me olha quase chorando -.

-Você é maluca de sair sem avisar e voltar depois de 4 horas?! Papai ligou para todos do distrito, chamou até alguns pacificadores profissionais da Capital.

-Me perdoem. Eu fui à clareira perto da floresta e acabei dormindo um pouco. Mas iria voltar logo...

-Glove (meu pai preferia me chamar assim do que Fox), vá ao centro do distrito avisar aos seus tios que você esta bem, tive que ligar para todos para avisar que havia sumido.

-Irei sim, pai. Me perdoe.

Ele sorriu para mim, e eu me senti pior ainda. Meu pai não consegue ficar bravo com alguem. Talvez isso seja algo que puxei dele.

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