– E o que vai fazer na virada do ano?
– Bom, acho que nada – respondo olhando meu copo grande de Coca Cola sentada no balcão do bar. Sim, refrigerante. – Sei lá, devo ir pra casa maratonar algumas séries, ou ver mais um daqueles filmes de Natal da Netflix. Ela lançou vários.
– Que deprimente. Faltam um pouco mais de seis horas para 2019 e você vai passar o resto do seu ano gastando energia elétrica. Desperdício.
– Desculpa se eu não tenho um namorado novo para passar o réveillon – tomei um gole de Coca – mãe. Não tenho esse ímã para homens como você.
– Com certeza não tem. E não fale assim do Bill, você ainda não o conhece, eu sei que você disse isso para ofendê-lo e a mim também. Sei que vai gostar dele.
– Que bom que sacou a indireta – ouvi ela resmungando e imaginei a cara que ela devia estar fazendo no momento. – Eu gostava do Mário, porque terminou com ele?
– O Mário era legal querida, mas não era... Hum, espetacular. E você sabe que eu não mereço nada mais nada menos que alguém realmente espetacular.
– Admiro muito sua modéstia. Mãe vou desligar, acho que já vou pra casa, não vai dar para ver muitos episódios se eu continuar aqui.
– Ok querida, se prefere. Divirta-se e me ligue assim que o ano virar. Feliz ano novo!
– Feliz ano novo adiantado, mãe – respondo sorrindo, mesmo que ela não possa ver.
– Cheguei Lina – ouço o que parece ser um beijo bem estalado. – Quem era? – escuto bem baixo ainda na ligação.
– Natalia, te mandou um beijo e disse que está doida pra te conhecer.
Finalizo a ligação e começo a rir. A personalidade da minha mãe, apesar de ser algo que me irrite muito as vezes, é uma das coisas que mais admiro nela. Com certeza é única.
Me preparo para pagar a conta e aproveito que o garçom vinha apressado em minha direção.
– Aqui está – disse ele colocando um copo grande de cerveja na minha frente.
Tão rápido quanto ele chegou, ele foi e eu nem tive tempo de dizer que não tinha pedido isso. Comecei a procurar outro garçom para resolver isso quando algo chama minha atenção.
Era ele mesmo, tinha certeza. Estava sentado aqui do meu lado, com aparência destruída, não fisicamente, porque ele continuava lindo, mas sua expressão era de tristeza. A quanto tempo ele estava aqui? Como não havia notado antes? Como havia mudado. Bom, óbvio, última vez que nos vimos tinha anos, logo pararam de surgir notícias. Quem diria que uma pessoa que um dia você namorou depois viraria um estranho para você. E ali estava ele. Marcos Narciso. Depois de tanto tempo. Talvez até 10 anos.
Eu deveria falar com ele? Sei lá. Talvez fosse mais prudente só ignorar, e talvez falar um "oi" quando estivesse saindo.
– Oi Natalia.
– Oi Marcos – ou talvez conversar com ele.
– Isso é meu – falou e apontou para o copo à minha frente. Passei a cerveja para ele e ele deu um longo gole. – E aí? Novidades?
Pensei o que responder. Geralmente esse tipo de pergunta a gente faz àquelas que a gente tem convivência, mas que por acaso não tem se falado muito. Nós sumimos, por muito tempo. Praticamente minha vida toda é uma novidade para ele. Quando nos separamos eu ainda estava no Ensino Médio, agora estava para começar meu mestrado.
– Tudo vai parecer novidade para você. Como tudo seu vai parecer novidade para mim.
– Nem tudo – respondeu colocando o copo na mesa e me olhando.
– Oi?
– Fui na minha vó mês passado. Sua vó estava lá e acabou me contando algumas coisas de você, que terminou a faculdade, que vai começar o mestrado. Parabéns por sinal, eu tinha dito que você ia longe.
Ok, estava surpresa, isto sim era uma baita novidade. Me senti um pouco culpada, praticamente tinha esquecido da existência dele até poucos minutos e lá estava ele sabendo coisas sobre mim. Quase dá medo.
– Oh, obrigada. É, não sabia que tinha conversado com minha vó – nem que ela era fofoqueira.
– Sim, ela não deve ter falado por que quando fui lá estava com minha noiva e talvez ela tenha achado que você não fosse gostar mesmo já tendo quase 10 anos. – Uau, noiva. Realmente as coisas estavam mudadas. Não que isso interferisse em alguma coisa, já que atualmente ele quase não passa de um estranho. Ligeiramente bêbado.
– Ah, provavelmente. Lembro que até um pouco antes de eu entrar na faculdade ela insistia em que voltaríamos. Aposto que ela queria mais isso por ela e sua vó serem melhores amigas – Falei rindo, e ele deu um sorrisinho. Minha nossa o deixei sem graça. Isso não é o tipo de coisa que se fala para um ex que está noivo. – E sua noiva? Está aqui?
– Ah não, nós – passou a mão no cabelo e depois na barba e ficou olhando para frente, perdido – terminamos.
– Oh – muito constrangedor. – Se te faz sentir melhor, eu tinha marcado um encontro com um cara que conheci, mas ele nem apareceu – Por que eu falei isso? E como isso faria ele se sentir melhor?
– Por que isso me faria sentir melhor?
– Eu não sei, mas sei lá. Talvez você pensar que você terminou seu noivado é ruim, mas eu fui rejeitada em véspera de Ano Novo cara, quem faz isso? – Dei uma risada sarcástica. Realmente eu estava me sentindo horrível, mas tinha tentado não dar tanta bola para isso.
– Nós terminamos hoje Natalia.
Aun.
Eu não falar nada, acho que foi a deixa para ele começar a falar. E ele falou bastante. Como a conheceu, como decidiram ficar juntos e quando noivaram, há dois anos atrás. Ele falou tanto sobre eles, que eu já estava achando maçante, quando ele finalmente ele falou sobre o porquê do término. Segundo ele, tudo não passou de um mal-entendido entre os dois, o que o levou a ter uma briga com ela, e que a levou a terminar com ele. Realmente, era triste e imaginar que os dois estavam sofrendo agora por isso, era bem triste.
– Marcos! Faz alguma coisa! Recupera seu noivado! Você pode resolver isso. Se fosse algo que realmente não tem solução, você podia ficar aqui se afogando em lágrimas e em álcool. Mas pelo amor de Deus! Não perca seu relacionamento por orgulho bobo. Porque cá entre nós vocês dois são bem orgulhosinhos.
Eles iam voltar, eu tinha certeza disso. Não tinha motivo o suficiente para terminar aquela relação de tanto tempo, foi só calor do momento. Mas se eles iam voltar mais cedo ou mais tarde, porque não agora?
– Não começa o novo ano assim – falei colocando a mão em seu ombro. E então ele me olhou e algo se acendeu em seus olhos.
– Obrigado Lia – sussurrou enquanto me abraçava, colocou uma nota em cima do balcão e saiu correndo porta a fora.
De repente senti algo em meu coração, que me fez sentir feliz e esquecer que tinha sido deixada plantada. A ideia de que ajudei, fez meu dia valer a pena. E agora, eu poderia ir pra casa em paz, sabendo que não tinha sido tempo perdido ou desperdício.
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Véspera de Amor
Short Story5# lista de desejos - 04/07/19 Em plena véspera de Ano Novo, Natalia Fagundes, é deixada plantada num bar e quando ela pensa que sua virada de ano será um completo fracasso, uma série de eventos e encontros inesperados acontecem transformando seu Ré...