(Cake) Teenage Dream

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I could fly a thousand oceans

But there’s nothing that compares to.

Tudo sempre havia sido excepcionalmente fácil para Luke Hemmings, era o que Calum Hood pensava enquanto examinava minuciosamente o ingresso que tinha em mãos, buscando entre os corredores a poltrona em que deveria se sentar para assistir o musical em que o melhor amigo era protagonista. Na cabeça de Calum, passava um milhão de perguntas. A mais importante era o porquê estava ali quando queria estar em qualquer outro lugar, com um milhão de outras pessoas, menos assistindo aquela peça inútil que nada mudaria em sua vida.

Se fosse sincero consigo mesmo – e Calum Hood nunca era – admitiria que uma parte ínfima até gostava de Luke. Uma parte que ele fazia questão de esquecer e fingir que não estava ali, sendo pacientemente sufocada pela incapacidade de Calum de conseguir admitir os próprios sentimentos. Luke, na sua sincera opinião, era um caso perdido. Ele tinha sua vida perfeita, sua personalidade perfeita, seus talentos incontestavelmente e irritantemente perfeitos. Calum era somente mais uma peça bem vestida, cuidadosamente colocada ali para fazer o papel perfeito de melhor amigo perfeito e confidente perfeito e todas essas merdas que ele não se importava nem um pouco. Se tivesse uma opção – qualquer opção, por menor que fosse – o abandonaria sem pensar duas vezes. Ou gostava de convencer-se disso todos os dias, porque o trazia algum tipo de conforto doentio.

Justamente por isso, Calum ensaiava em frente ao espelho, todos os dias, expressões que teria que fingir durante o tempo que passava com ele. Como quando Luke ganhara em primeiro lugar na feira de talentos da escola e correra para seus braços, orgulhoso, esperando palavras estúpidas de um sentimentalismo que não condizia com a personalidade de Calum. O moreno, entretanto, não pôde fazer nada além de abrir um sorriso fácil (e Luke nunca reparava no quão falso eles eram) e verbalizar o quão orgulhoso estava. Você é incrível, Luke Robert Hemmings, sempre soube que conseguiria. Meus parabéns.

Ele tinha tantos talentos e era tão inteligente que chegava a ser quase um insulto a todos os outros seres humanos do mundo. Além de ser tão perturbadoramente bonito. Ele sempre estava acima da média em tudo. E mesmo se ele não tivesse tido a chance de nascer rico, com certeza conseguiria juntar fortuna com o decorrer dos anos. Luke Hemmings nascera para brilhar. E mesmo com todos os luxos, mesmo com o talento nato que deveria ter se transformado em uma arrogância cega e desenfreada – porque até Calum que não tinha um tostão no bolso era dono de certa arrogância de quem está acima dos demais – não o era. Chegava a ser quase irritante a inocência que transbordava do melhor amigo. Ele constantemente chegava a ser bobo. Imprudente. Idiota.

E agora Calum estava ali, perdendo tempo naquele musical patético que Luke mesmo escrevera orgulhosamente todas as músicas. Ele ainda se lembrava da aflição nos olhos azuis quando a data finalmente foi marcada – e é claro que o Sr. Robert Hemmings mexeu os pauzinhos para que acontecesse o mais breve possível – e Calum, como o prestativo melhor amigo, passou horas dentro do quarto com ele, ajudando-o a decorar as falas e encenando com ele todas as cenas e com o violão em mãos, acompanhando-o em todas as músicas. E mesmo que Luke fosse minuciosamente perfeito em cada palavra, cada gesto, cada expressão, continuava a ensaiar todos os dias, com aquela determinação de quem quer estar sempre acima da média. Sempre.

As luzes se apagaram, finalmente, Calum suspirou. Fez-se silêncio entre todos os presentes e a cortina começou a ser lentamente erguida, gerando uma expectativa clara em todas as pessoas. Menos em Calum. Ele já sabia a história com uma perfeição que claramente dispensaria, assim como conhecia todas as falas e todas as músicas compostas pelo próprio Luke. Mas, enquanto as luzes brancas enquadravam o perfil abaixado de Luke, era de alguma maneira violentamente diferente. Ele estava dentro de uma vestimenta imaculada, de um branco tão puro quanto a sua própria pele ou à neve do lado de fora do teatro. Seus olhos estavam levemente delineados e os lábios outrora róseos injustamente desvanecidos.

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