Dougie
Estávamos cometendo uma loucura!
Após viagem decidida e mochilas prontas estávamos a caminho do Brasil com um sorriso no rosto e o coração acelerado.O que estávamos fazendo era uma loucura total e idiota, mas a simples ideia de sair de dentro daquele apartamento e ir a algum lugar onde a presença de Paul não estivesse tão viva me dava uma certa sensação de alívio. Alívio pra respirar e não ser sufocado com aquela raiva horrível que tomava conta do meu peito.
Julie e eu havíamos estipulado um plano: assistir a um único pôr do sol e voltarmos cedo para casa no dia seguinte. A forma que falávamos dava a entender que estávamos indo ali, do outro lado da cidade o que era engraçado. Estávamos indo à um país totalmente desconhecido e diferente, sem termos a menor ideia do que poderia nos acontecer, apenas para podermos apreciar uma loucura que meu amigo não poderia mais fazer. Tudo poderia dar errado, mas no final de tudo estávamos sentados na poltrona de um avião, pousando em terras estrangeiras e observando o belo céu azul e sol que começavam a nascer no horizonte. Fiz questão de lembrar à Julie de todos os seus remédios e nós fizemos questão também de trazermos apenas uma mochila. Estávamos desembarcando no Rio de Janeiro,que havia sido a primeira cidade de destino disponível e era possível contemplar no rosto de Julie a mesma expressão assustada, excitada e estupefada que sem sombra de dúvidas também estava no meu. Ela parecia mais leve e só por isso essa viagem já havia valido a pena. O sorriso que ela estava dando enquanto olhava pela janela e tirava fotos com seu telefone era um sorriso que eu estava com medo de nunca mais ver. Ao desembarcarmos do avião ajustamos nosso relógio para o horário local e era apenas seis e oito da manhã. Embora eu me sentisse cansado e acredito que Julie também, conversamos e decidimos que iríamos aproveitar o máximo possível daquele dia. Teríamos tempo o suficiente pra descansar na volta pra casa.
- E agora, pra onde nós vamos? - Ela perguntou olhando através do vidro para o lado de fora. E antes mesmo que eu a respondesse a mesma abriu um sorriso. – Por favor, diga Copacabana. Eu sempre quis conhecer esse lugar. – Ela mordeu os lábios – Eu juro que se eu não tivesse com o pé quebrado eu ia procurar alguma mulher que sambasse e implorar para que ela me ensinasse. - Eu gargalhei com sua frase. – Paul sempre disse que queria conhecer essa cidade. – Ela terminou com um sorriso triste e respirou fundo, automaticamente repeti sua expressão.
-Podemos ir para Copacabana então. Já ouvi falar do lugar algumas vezes e posso tentar aprender a sambar no seu lugar. – Eu fiz uma dança sem ritmo e uma reverência exagerada e ela revirou os olhos.
-Você não tem ritmo nenhum. - Fiz cara de afetado, o que lhe arrancou um sorriso e então lhe estendi meu braço para que pudesse auxiliá-la a andar até a saída. Ao passarmos pela porta do aeroporto eu senti um calor que eu acho que nunca senti na minha vida e ao olhar para Juliet e sua expressão pude constatar que ela sentiu o mesmo.
-Bom, parece que as pessoas não estavam brincando quando dizem que esse é um país quente. – Ela disse retirou o casaco que estava vestindo e eu parei para fazer o mesmo, Chamando em seguida um taxista.
Entramos no primeiro táxi que parou e pedimos por qualquer hotel em Copacabana. Enquanto o táxi passava por uma orla, eu babava pelo amanhecer e pela visão mesmo que distante que tive do tão famoso pão de açúcar.
- Dougie, Nós poderíamos tentar visitar o que você acha? – Ela olhava pra mesma direção que eu.
-Eu acho que seria uma excelente ideia. Assim como eu também acho que deveríamos ir a praia. - Ela continuou com o sorriso aberto e ele me contagiava.Me fazia bem vê-la bem. Agora que ela já sabia que era ela a garota, eu já nem me importava mais de disfarçar a cara de idiota apaixonado. E ela parecia não se incomodar com meus olhares, muito pelo contrário, as vezes eu também me deparava com ela me encarando.Já estava passando a ser uma coisa natural entre a gente.
Ela havia me surpreendido com a conversa e com toda a sua sinceridade e eu havia entendido e por mais que não fosse o que eu quisesse, também não era o que eu esperava. Eu não esperava que ela falasse comigo sobre aquilo de forma nenhuma, muito pelo contrário, eu estava acreditando fielmente que ela simplesmente ignoraria, deixaria passar tudo o que tinha acontecido entre nós como se nunca nem tivesse acontecido, mas ela não havia feito isso, então eu estava feliz. Feliz e aliviado. Sua reação estava sendo totalmente diferente de tudo o que eu pudesse imaginar e o negócio era que ela estava totalmente imprevisível para mim. Por vezes eu a pegava com o olhar distante e com o queixo trincado, horas eu a pegava com os olhos cheios de água olhando pro além e em algumas outras vezes eu a pegava me encarando. Eu entendia todos aqueles sentimentos e como aquilo deveria estar sendo confuso pra ela e o meu receio sobre nossa aproximação havia passado a ser sobre o que ela pensava nutrir por mim. Nós dois estávamos passando por um momento delicado da vida, mas eu tinha certeza do meu sentimento por ela antes de tudo acontecer, ela porém não tinha certeza e talvez nem mesmo consciência de um sentimento por mim e agora que Paul havia partido tudo deveria ter ficado mais confuso e eu não queria de forma nenhuma me aproveitar de uma vulnerabilidade. Qualquer coisa que pudéssemos ter naquele momento seria extremamente impulsionado pela gama de sentimentos que eu tinha certeza que a confundiam , afinal, confundiam a mim também.
-Acabo de me tocar de uma coisa – ela se virou pra me encarar me pegando com aquela cara de bobo admirando seu sorriso, mas nem se tocando disso. Preciso comprar um biquíni.