solstício de verão

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é chegada a aurora;
o fim da hora azul.
início do amanhecer náutico
junto à hora dourada.

acordei cedo, um gesto quase involuntário. preparei café. um amargo café. puro e essencial.
observo atentamente os detalhes minuciosos de meu jardim, desde as gotículas de água nas flores, resultantes do orvalho, até o lento despertar mundano.

bebo rápidos goles de café. está quente! terei que aguardar mais um pouco.

pássaros sibilam desejos oriundos e longínquos;
traçando com exímia expressão sua cantilena.
ora, que maravilha!

adiante, por entre o firmamento do horizonte, há um forte tom de azul em contraste com a cor de pêssego esmaecendo em tons suaves, rasgando o véu celestial.

Não possuo conhecimento simplório de coisas que vão além de minha percepção da realidade, e sentado numa cadeira de balanço, tento imaginar as diversas tendências de comportamento nos alojamentos.
pequenas residências que compõem a sociedade efêmera que vivemos.

saio de meus devaneios e volto a observar a natureza ao meu redor.
mas para ser sincero, nunca os deixo.

enquanto encontro-me sentado, sinto diversas sensações e emoções.
posso ser tudo. e o sou.
o céu,
as aves; livres em seu voo.
as longas raízes das árvores;
tão compostas como almas.
o sútil erguer-se do sol;
todas estas coisas interligadas.

em um minucioso instante, sou nada. mas não um nada qualquer. O nada.
aquele que se expandiu e formou o(s) universo(s), e como sou nada, não há forma existente. Ou imaginável. há o breu.
a comissão cindida de todos os astros. expandindo-se-à.
deitado no seio materno da vida. rodando por túneis cíclicos de voltas infundadas sobre a essência do cosmos.

e durante este intervalo de tempo, formulo duas estórias: uma sobre um coelho pensante e outra sobre um menino cheio de respostas, porém sem perguntas.
é, eu sei. sou confuso. nem queira adentrar na caótica orquestra de minha mente.

deixemos de lado os pensamentos convexos e não lineares e voltemos à focar na ascendência solar.
afinal, hoje é o solstício de verão!
o astro-rei encontra-se em sua total plenitude, com raios luminosos carregados de vitalidade e esperança.
único dia do ano em que a luz sobrepõe a escuridão.

tomo um longo gole de café.
está morno. perfeito!

é chegada a aurora;
fim da hora azul.
término do amanhar náutico
junto à hora dourada.

dia, enfim.

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