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*Daniel Nascimento on*

Sexta Feira. O dia da exposição do Diego chegou e eu estava preso em uma reunião desde as 9 horas da manhã e agora são onze horas. A reunião era sobre o nosso próximo esquete, que eu escrevi semana passada, eu acho.

Eu já havia falado com os meninos, tínhamos acertado os últimos detalhes e agora eu estou aqui, conversando com toda equipe, sobre os lugares que podemos gravar, quem iremos chamar para fazer os outros personagens e assim por diante.

Assim como o fechamento dos lugares para a turnê do Improvável (sim, outra reunião sobre isso) mas dessa vez com o pessoal do financeiro presente e também sobre as vans que iremos utilizar. tudo mais. Uma enorme reunião.

E como eu faço parte da direção, teria que ficar. Na pausa para o almoço, mandei mensagem para o Diego, explicando que possivelmente não conseguiria chegar no primeiro horário, tomaria toda a parte da manhã. Ele compreendeu e disse que, não era problema. Uma das melhores alunas estaria lá nos últimos dois horários para explicar sobre, a princípio ela estaria no primeiro, mas um dos integrantes ficou doente e não iria, então tiveram que reorganizar tudo.

Tudo bem, pelo menos isso.

Respirei fundo e guardei o celular no bolso da minha calça preta, ajeitei a camiseta preta e fui com o grupo almoçar em um restaurante.
✨✨
Depois que retornamos, finalizamos a reunião. Olhei para o relógio, marcava 2 horas, tinha tempo para chegar. Mandei mensagem para o Fiyero avisando que eu estava indo. A reunião tinha sido no escritório, então pelo menos eu estava perto dessa faculdade.

Dei partida no carro, e fui direto para lá. Quando cheguei, estacionei em uma das vagas do estacionamento aberto. Ajeitei o óculos, conferi se eu estava pelo menos com meu celular e a carteira, coloquei minha bolsa debaixo do banco. Dei uma arrumada do cabelo e sai do carro. Estava tendo uma movimentação gigante de pessoas circulando, indo e saindo. Fechei a porta e tranquei. Conferi se havia mensagem do Fiyero no celular, e realmente tinha, me perguntando aonde eu estava. Mandei que estava no primeiro estacionamento, ele me mandou um okay e me mandou esperar. Olhei ao redor, e encostei no carro. Passados alguns minutos.

-DANIEL NASCIMENTO - Diego gritou se aproximando de braços abertos.

-DIEGO FIYERO - abri os braços, e nos abraçamos dando tapinhas nas costas, o típico abraço de homem.
-Tudo bem? -No afastamos e
começamos a caminhar, para seja lá aonde for.

- Eu to e com você? - Eu perguntei.

- Eu to ótimo cara -Ele deu um tapinha no meu ombro. -Vamos, irei te mostrar algumas exposições e depois vamos para a minha.

- Vamos lá -Falei ajeitando o cabelo- Ta dando tudo certo?

- Está sim, ainda bem, apenas um aluno não conseguiu vir hoje, porque ficou doente. Fora isso, tudo certo. Eu já tinha te falado sobre isso.

- Nossa, e ai? -perguntei.

- Tivemos que reorganizar os horários, agora os alunos estão trocando de turnos mas o grupo do aluno, tem uma garota que fará os últimos dois turnos.

- Meu deus

- Pois é, mas ela se prontificou para isso então acho que está tudo bem - Fiyero parou em frente uma sala - Aqui é de Arquitetura... - E então, Diego começou a me mostrar algumas coisas de cada curso que tinha exposto por ali, me explicando resumidamente e deixando os alunos apresentarem.

Apenas alguns me reconheceram, e foi algo bem engraçado de ver as reações e o nervosismo. Tirei algumas fotos com o pessoal, mas pedi para não espalharem tanto se não seria um caos, como se eu fosse tão conhecido assim.

O relógio marcava 15:30, e eu estava junto com Fiyero assistindo uma apresentação do grupo de Artes cênicas da faculdade. Aplaudimos de pé, eu acho que ainda verei eles sendo famosos por aí. Quando saímos, Diego me levou até sua exposição.

Quando cheguei na primeira bancada, não teve como não ficar surpreso.

-Olá Gabriela -Diego sorriu, e se aproximou. Fui junto com ele, parando ao seu lado.

- Olá professor - Ela sorriu, mas ainda estava lendo um papel na sua mão. Quando levantou os olhos e ela me encarou eu vi um tremor de leve passar por ela.

- Daniel Nascimento? -Ela perguntou, apontando para mim e realmente sua voz estava tremendo levemente.

- Gabriela Oliveira? -Perguntei rindo levemente, estendendo minha mão para ela cumprimentar, e assim o fez. Nos soltamos e Diego estava nos encarando confusos.

- Alguém pode me explicar? -Diego perguntou, sorrindo de leve da situação, com as mãos no bolso. Cruzei meu braços.

- Ela já foi no Improvável com a amiga dela, Mariana? -Perguntei, não me lembrando direito.

- Maria -Diego falou por mim

- Isso. E foi a Gabriela que tirou nossas fotos para a revista Think -Falei, encarando-a e ela estava quieta, possivelmente chocada com a situação. -Que aliás, ficaram ótimas, parabéns. -sorri e ela agradeceu.

- Nossa, que mundo pequeno -Diego riu - Bom, elas duas são minhas alunas.

- Coincidência -Concordei

- Cadê o Andy e o Elídio? - Gabriela perguntou.

- Eles não quiseram vir -Respondi- fotografia não é tanto a praia deles. Um pouco mais pro Andy, mas acho que ele estava com preguiça.

- Bem, vamos escutar a apresentação -Diego falou e deu uma piscadinha para Gabriela. Arqueei as sobrancelhas.

- Certo -Gabriela respirou fundo e começou a explicar sobre o tema do seu trabalho. Ela explicava tão bem, que eu não consegui focar em outra coisa a não ser na explicação. Ela gesticulava e apontava para o banner, assim como nos mostrava algumas fotos na pasta. Diego sorria orgulhoso,
e eu estava estranhando tudo isso. No final, Gabriela sorriu aliviada e finalizou a apresentação nos entregando um saquinho de M&M com um chaveiro de câmera fotográfica e um etiqueta com o nome da apresentação e o dia. Sorri e a aplaudi.

- Parabéns -Sorri- Ótima apresentação

- Obrigada -Ela sorriu nervosa.

- O que achou?- Diego me encarou.

- Eu achei interessante e incrível. Tudo foi explicado e, sério, eu amei de verdade -sorri- Espero que tenha tirado 10 nisso, porque menos que isso é inaceitável.

- Todos eles tiraram - Fiyero sorriu orgulhoso.

- Vocês ainda vão para a parte prática ainda? - Gabriela perguntou.

- Sim, ainda iremos. Eu estava fazendo um tour com o Dani antes de vir aqui.

- Ah, sim -ela sorriu.

- Bem, é isso ai - Falei - Vamos lá?

-perguntei ao Diego e ele concordou. Me virei para Gabriela de novo. Observando ela sair de trás da mesa, sorri e fui me despedir dela. Nos abraçamos.

- Obrigada por ter vindo -Ela sussurrou baixinho.

- Não precisa agradecer -Respondi no mesmo tom. Nos soltamos e ela foi se despedir do Fiyero. Em seguida, a deixamos lá e fomos assistir a parte prática.

- Você está interessado nela não é? -Perguntei ao Diego, que olhou para o chão.

- Acho que aqui não é o melhor lugar para conversarmos sobre isso, Nascimento - Ele me respondeu.

- Você sabe que isso pode dar merda, não sabe? - Questinei-o e ele assentiu levemente. Decido ignorar, para continuarmos o passeio.

Nessa altura do campeonato, eu estava morrendo de fome, eu tinha almoçado claro, mas já passou um tempo. Não sei como ainda não desmaiei aqui. Quando estava perto das 17 horas, houve um encerramento no palco principal do evento. Todos os professores subiram lá e eu fiquei no cantinho escondido observando tudo, já que meu amigo é professor. Dei graças que pelo menos de óculos é bem difícil me reconhecerem. Hoje, vez ou outra parávamos para tirar foto ou apenas para cumprimentar. Nesse momento, eu só estava pensando em um belo pedaço de pizza, acho que um não, dois. Ou até mais.

Meu nível de fome está no ápice.

Aguardei os agradecimentos acabarem e, enquanto isso, fui observando ao redor. Era bem louco pensar que há muito tempo atrás, eu fui tipo os estudantes que estão aqui hoje. Veja como a vida é louca, fui parar no palco sem querer. Observei algumas rodas de amigos e amigas que prestavam atenção e outros estavam conversando. As palmas estouraram e eu aplaudi junto. Fui me despedir de Diego, que estava cercado de alguns professores.

- Fala Diego, eu preciso ir -Me aproximei ficando ao lado dele.

- Muito obrigado por ter vindo, espero que tenha gostado. -Ele ergueu a mão e eu bati com a a minha o puxando para um abraço rápido.

- Não precisa agradecer, eu gostei de ter vindo, foi bem legal -Sorri, e acenei rapidamente para as pessoas que estavam por ali e sai rumo aonde eu imaginava estar meu carro. Estacionamento 1.

Conforme eu fui andando pelo corredor, percebi que a maioria das pessoas ainda ficariam por lá. Já que não estava voltando quase ninguém para o estacionamento. Comecei a pensar nos restaurantes que eu poderia passar e comprar uma pizza.

Continuei caminhando, até que escuto um barulhão de algo caindo e um palavrão alto em seguida. Me viro e me deparo com Gabriela, agachada recolhendo uma caixa de papelão, e algumas lembrancinhas espalhadas pelo chão. E o que eu imagino ser a bolsa dela jogada ao seu lado. Eu não pude ignorar aquilo. Voltei e me aproximei dela, ajudando-a recolher algumas lembrancinhas do chão que haviam voado para longe. Ela ainda estava falando sozinha ou devo imaginar que estava se xingando.

Quando coloquei as que eu tinha recolhido na caixa novamente, ela tomou um susto e se levantou rápido me assustando também.

- Meu deus! Você quer me matar do coração? -Gabriela respirou descompassadamente, com a mão no coração.

- Você quer me matar de susto?- Me levantei também, passamos alguns segundos recuperando o ar - Eu estou te ajudando.

- Ah -Gabriela concordou e se abaixou novamente recolhendo os últimos. - muito obrigada -ela sorriu e se levantou.

- De nada -sorri também- Você não devia estar lá dentro?

- Eu deveria estar, mas tenho que guardar as coisas ainda e queria adiantar -Ela deu ombros e pegou sua bolsa- os discursos são bem chatos, e a única pessoa que me faria companhia já foi embora a muito tempo.

-Entendi - Eu disse - E você tem coragem de vir aqui ''sozinha'' -fiz aspas no ar, já que ainda tinha uma ou duas pessoas, que estavam passando pela gente agora - nessas salas apenas para guardar as coisas?

- É o jeito -ela falou, observando ao redor e me encarando de novo- Se eu quiser me livrar de arrumar coisas maiores, tenho que fazer algo desde já. - Ela passou por mim e eu a chamei, ela se virou.

- Você quer ajuda? -Perguntei me aproximando dela, apontando para caixa. Já que ela segurava com as duas mãos e a bolsa pendurada no braço ainda.

- Não precisa, essa é a última caixa -ela sorriu e se virou novamente. E eu a chamei.

- Oi Daniel

- Tem certeza? Eu ajudo pelo menos a levar sua bolsa - Falei - não estou com pressa -Engoli em seco, afinal eu estava com fome. Mas esperei até agora, porque não mais um tempo.

- Eu estava aqui pensando que se você oferecesse de novo, eu iria aceitar -ela sorriu sem graça- Eu to esgotada e com fome.

- Eu também estou -Ri, pegando a caixa de suas mãos, ela agradeceu e fomos andando - principalmente com fome. Depois de sair daqui eu iria direto comprar uma pizza, minha única vontade no momento.

- Pizza! -ela exclamou - Nem me fala que minha barriga já está roncando -Gabriela parou na porta de uma sala e abriu mandando eu entrar. Entrei junto com ela.

- Pode colocar essa caixa ali no chão -ela apontou para o fundo da sala- Ao lado dessa vermelha. -Fiz o que ela pediu e limpei as mãos em seguida.

- Muito obrigada, Daniel -Ela sorriu, saímos da sala, ela fechou a porta e girou a tranca.

- É a segunda vez que você me agradece hoje -Fiz uma observação, e começamos a andar- Aliás, pode me chamar de Dani.

- Eu tenho essa mania de ser educada demais -Ela sorriu, olhando para o chão e me encarou em seguida. - Teve uma vez, que eu fui pedir meu lanche para o atendente do Mc, ai ele disse "Boa refeição" e eu acabei dizendo "você também" -Ela escondeu o rosto com as mãos rindo, e eu comecei a rir- É sério, não ri disso.

- Pelos deuses - Falei, depois de ter gargalhado- Você não é única. Eu moro em apartamento e, como sempre, tem os porteiros do prédio e eles revezam turnos. Uma vez eu estava chegando em casa, entrei pelos portões e o porteiro disse " boa noite, bom descanso'' e eu respondi "Para você também" sendo que o cara tinha acabado de entrar no turno noturno. -Rimos mais ainda- Eu morri de vergonha, porque a última coisa que o cara vai fazer é descansar. Ele vai trabalhar, de noite ainda. Isso é o que eu imagino, né. Se ele dormiu, ai já é outra coisa.

- Aiai -Gabriela secou as lágrimas, que só agora percebi que ela estava realmente chorando de rir. - São tantas situações que nem sei.

- Pois é -coloquei as mãos no bolso da calça. Estávamos chegando no pátio de novo - Eu to de carro, você quer ir comer pizza comigo?

- Tentador - Paramos perto da entrada do pátio, porque tinha uma porta ao lado que dava acesso ao estacionamento 1 - Mas minha mãe disse para eu não aceitar carona de estranhos.

- Ela está certa -concordei rindo de leve- Mas eu não sou um estranho, sou?

- Teoricamente não -Gabriela respondeu rindo - Para Maria, não. Para mim, sim.

- Ah, eu estou te dando uma oportunidade para me conhecer então -Estendi a mão, fazendo um convite silencioso. -Além do mais eu sei que você está com fome, você mesma me disse isso.

- Tudo bem -Sorrimos, ela aceitou minha mão. A puxei pela porta do estacionamento 1, nos soltamos e começamos a andar até meu carro.

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UNLIKELY - D.NOnde histórias criam vida. Descubra agora