Finalmente chegou o Natal, e é nessa data que todas as famílias se reúnem para a ceia. Pelo menos uma vez no ano, a família fica unida, pois os outros 364 dias os meus familiares ficam nas suas casas e ninguém quer conversa com ninguém. Pelo menos na minha família é assim. Todos os meus familiares só vinham aqui em casa no Natal e ainda fingiam que gostavam de mim, talvez até gostassem um pouquinho. Eles passam o ano inteiro falando mal da minha pessoa. Falam tanto de mim que minha orelha coça o ano todinho. Já estou acostumado, principalmente, com minha tia Tereza, que só vem aqui em casa pra dizer que nos adora, mas depois detona meu pai para as amigas.
No Natal, minha família fica toda reunida lá em casa. Aquela que o vizinho ousado invadiu para pegar uma enxada. Não gosto dele até hoje! Mas como é Natal vou dar um extra pra ele, por um dia. Inclusive, tenho certeza que ele vai para a ceia que meu pai irá preparar, pois meu pai é um ótimo cozinheiro e tudo vai ficar uma maravilha, como sempre ficou, e é óbvio que o cheirinho de comida vai chamar a atenção do vizinho.
Hoje é véspera de natal. A melhor parte não é a comida, mas a troca de presentes, em que nós compramos uma lembrancinha para uma pessoa da família. Quem não gosta de ganhar presentes? Apesar de que não tenho uma experiência muito boa com presentes. Ano passado, eu ganhei um porta-retrato com uma foto minha e meu primo rockeiro, não fotogênico e estranho, Defuntino. Até o nome da criatura é um pouco... diferente. Ele tem 20 anos, mas parece ter 11, ele é tão infantil. E tem um gosto peculiar: uma admiração por insetos. Espero que este ano eu ganhe algo que eu goste.
Sabe o porquê do natal ser a melhor festa? Porque é no fim do calendário e isso significa que o ano já vai acabar. Eu tive um péssimo ano, tive que orar muito para que acabasse o mais rápido possível. Pedi fervorosamente que o próximo ano seja mil vezes melhor, apesar de que sempre é a mesma coisa e eu volto a orar para que acabe. É como a Ariana Grande já disse: está ruim demais? Thank u next.
Ainda era meio-dia e meu pai já havia começado a preparar a ceia de natal. Ele preparava o arroz natalino e o famoso peru. Ainda bem que ele seria o cozinheiro, porque ano passado minha tia queimou o peru. Isso aconteceu quando ela parou em frente a televisão para ver o show de Roberto Carlos e deixou a minha ceia passar do ponto. Felizmente, este ano ela estará bem longe da cozinha!
Enquanto isso, eu e minha irmã, Letícia, íamos organizando a decoração da casa. Como somos preguiçosos, deixamos para montar a árvore de Natal no dia da véspera mesmo.
— Letícia, pega aquela bola de natal vermelha dentro daquele saco cheio de poeira. — falei enquanto organizava alguns enfeites da árvore. Ela estava esplêndida.
— Toma, Nicolas. — nem olhei para ela, apenas peguei a bola de natal.
— Nossa! Você é péssima para diferenciar as cores, não acha, Letícia? — Dei uma risada. Ela havia pegado a bola de cor amarela, e não a que eu havia pedido, que era vermelha.
— Eu que não vou vasculhar uma bola vermelha naquele saco empoeirado. — Ela já estava tampando o nariz e a boca com as mãos. Ela queria espirrar.
— Para que você foi nascer alérgica a poeira? Tenho que ter muita paciência! — Olhei de esguelha para ela.
Continuamos organizando tudo para a recepção da nossa tão amada família. A maioria viria para minha casa. Na família tinha uma tia escandalosa e barraqueira, uma avó altamente religiosa, um primo esquisito, uma prima piranha, um tio com sua mulher cola-cola, uma outra tia que come até demais e um primo gostoso, maravilhoso, sarado e bem dotado que quase ninguém da família sabe da sua existência, exceto eu. Mais tarde todos estariam aqui reunidos e felizes, assim espero. Seria um dia de folga para as fofocas sobre as nossas vidas, onde falamos só sobre coisas boas de cada um.
Cinco horas mais tarde, a minha família já estava batendo na porta da minha casa. A maioria deles vieram juntos, uma coisa boa, facilita o trabalho para o porteiro aqui, que não vai precisar ficar abrindo a porta toda hora. Na verdade, ainda falta uma prima que vai chegar de viagem. Todos muito bem arrumados com roupas novas que provavelmente haviam comprado para aquela ocasião. Senti seus perfumes misturados no ar, porém um deles se destacava que era o perfume da minha avó, era um cheiro estranho, um tanto forte para minhas narinas.
— Nicolas, meu menino lindo. Cadê Jorge? — Minha tia Madalena, a que come muito, me puxou pelas bochechas. Deixando bem claro que odeio quando ela faz isso. — Você está tão bem! Essa é sua roupa de Natal? — Ela me olhou de cima a baixo. Parece que ela odiou os meus trapos que usava quando fazia faxina ou organizava minha casa.
— Meu pai terminou a ceia e foi tomar banho. E não, tia, essa não é minha roupa de natal. — Dei um meio sorriso falso. — Podem entrar e ficar lá dentro no sofá. — Enquanto todo mundo se aconchegava, eu esperava meu pai sair do banho para que eu pudesse tomar banho também.
— Estou sentindo o cheiro da comida, estou louca para experimentar a ceia. — disse Luciana, a mulher cola-cola, aquela que só vive agarrada ao meu tio Igor, até parece que ele vai sair mundo afora e vai deixar ela a ver navios. — Cadê Letícia? Deve estar mais bonita que no ano passado. Uma mocinha linda.
— Letícia está trocando de roupa. — falei e fiz sinal para o corredor da casa, sinalizando que ela estava em algum dos quartos.
Ao passar pelo terraço, todos colocaram seus presentes embaixo da árvore de Natal. Já sabíamos para quem seriam nossos presentes, pois eram para as mesmas pessoas do ano anterior. Isso facilitava a dinâmica já que não era preciso perder tempo fazendo sorteio, mas era ruim apenas para mim, que sempre ganharia presente de Defuntino.
Na sala de estar, estavam todos sentados, conversavam sobre a desinteressante vida deles no ano que passou. Minha tia Madalena reclamava sobre uma festa de aniversário que ela fora e que não tinha comida o suficiente. Todo ano ela fala das festas, e a mesma reclamação: não serviram muita comida. Já minha tia e mãe de Defuntino, Tereza, falava que a vizinha passou o ano inteiro escutando música no último volume e não a deixava sossegada, nem dormir ela podia. Ela afirmava que já bateu na porta da vizinha para que ela abaixasse aquele som, pois ela não aguentava mais escutar a música que tocava toda hora. Ela cantou até um trechinho: "É o seu vizinho que quer comer o meu cuelhinho, é o seu vizinho que quer comer o meu cuelhinho". Meu primo, Daniel, o sarado, não falava nada, e Defuntino nem se encontrava na sala de estar, deve ter ido caçar no quintal o que ele tanto gosta: insetos. Minha avó, Josefa, falava do pastor que ficou chateado com ela, porque ela não pagou o dízimo. Vovó disse que o pastor havia dito que ela perderia as bençãos de Deus naquele ano e ela afirmou que perdeu algumas coisas vista por ela como bençãos do senhor, inclusive os poucos dentes que ainda restavam na sua boca. Meu tio Igor não falava nada também.
Minutos depois, alguém batia na porta. Lá vai o porteiro. Fui abrir a porta e vi a melhor coisa do dia, a chegada da minha prima, Ray. Ela estava radiante.
— O que tem pra comer aí? — Ela examinava o quintal. Ray é minha prima favorita, fico feliz quando ela vem me visitar, ela é bem parecida comigo em tudo.
— Priminha, tenho certeza que salsicha não tem. — Dei uma gargalhada e dei um abraço nela.
Nós entramos para a sala de estar, todos a cumprimentaram, todo mundo a adorava apesar de que também falavam muito mal dela, ela não tinha uma das melhores reputações. Ela tinha os cabelos castanhos iguais aos meus e a pele morena queimada pelo sol já que amava passar o fim de semana em praias. E apenas hoje decidiu que era melhor passar o natal com os familiares, mesmo sabendo que era mal falada nesse meio.
Mais tarde, depois que tomei um banho, todos estavam no quintal conhecendo o nosso vizinho, pois ele não iria ficar para a ceia devido a ter um compromisso na casa da sua sogra. Vai com Deus, querido! Depois, todo mundo entrou para a sala de jantar e se organizaram na grande mesa. Estava tudo muito organizado. Na mesa, eu tinha uma das melhores vistas, meu pai realmente superou este ano. Na lateral da mesa, colocamos os pratos, talheres e copos. Sobre a comida tinha que ter uma diversidade de coisas, senão tia Madalena, foi ela quem queimou o peru ano passado, sairia falando pelo mundo inteiro que não tinha o que comer. Logo, tinha uma fartura de comidas: bacalhau, salada, peru, arroz, bandeja de frutas...
Cheguei a mesa e sentei ao lado de Ray. Examinei toda a mesa e percebi que o único que não estava era Defuntino, pois ele estava sentado na poltrona perto da grande mesa. Eu acho ele bem antissocial. Nas duas pontas da mesa, estavam meu pai e minha tia Tereza. Leticia estava do outro lado da mesa na minha frente, estava bastante elegante, finalmente. Não tenho o que reclamar de nada, estava tudo muito refinado.
Antes de iniciar a refeição, todos nós oramos juntos. Pedimos por mais saúde e proteção no próximo ano que estava por vir. Quando acabou, todos abriram as tigelas e recipientes que depositavam toda a comida. Coloquei um pouco de cada coisa porque sou desses. Aspirei o aroma exalado daqueles recipientes, o cheiro estava muito bom. O peru estava tão bonito, tão suculento, tão douradinho, com certeza deveria estar uma delícia. Estou morrendo de fome e vendo aquela fartura de comida, fico com mais fome ainda, vai entender! O único que não colocou nada para comer foi Defuntino. Ele ficava escutando música de rock no fone dele. Meu primo era alto e bem magrinho. Tinha os cabelos longos, pretos, enfim, um estilo bem diferente do que se vê por aí. Todo mundo já havia lotado seus pratos de comida.
— Jorge, seus filhos estão enormes. Crescem rápidos! — Luciana dizia com grande admiração.
— É, meu grande orgulho. — Meu pai dava uma risadinha.
— Nicolas está um gatinho, deve chamar a atenção de muitas meninas daqui. Já tem uma namorada? — Madalena perguntava.
— Eu não tenho ainda. — contraí a mandíbula.
— Por quê, meu filho? Um jovem abençoado por Deus ainda não conseguiu uma namorada? — Minha avó, Josefa, falava curiosa.
— É porque ele é gay, vovó. — Estremeci e olhei para Letícia perfurando seus olhos.Como ela ousa? Olhei para o meu pai, ele estava tenso.
— O que você disse, Letícia? — Meu pai perguntava, cético.
— Eu disse que é porque ele...
— Não, ela disse que-que eu sou guy. É, gu-gu-y — Gritei, eu já estava pálido. —Depois que começou a fazer curso de inglês está se achando a Anitta, bem bilíngue. Guy é homão, eu acho. Eu acho não, eu te-tenho certeza — Eu gaguejava. — É foi isso que ela quis dizer. — Todos olhavam para mim. — Como eu sou um guy, homão em português, eu não consigo uma namorada, porque muitas meninas são caidinhas por mim, o que provoca ciúmes nas outras, é, é isso. — Quanto mais eu me explicava, mais piorava minha situação. Todos me olhavam torto, pois eles escutaram o que Letícia disse, mas preferiam não acreditar. Que continue assim.
— E no colégio? Os dois foram aprovados? — Tia Tereza perguntava para meu pai.
— Letícia foi aprovada. Mas...
— Eu não fui. — interrompi meu pai. — Tem algum problema nisso, tia?
— Nenhum, meu amor. Defuntino passou em todas as matérias da faculdade. — A boca dela se curvou num longo sorriso. — Qual você reprovou? — perguntou.
— Reprovei Língua Portuguesa.
— Mas o que? — Minhas duas tias falaram em uníssono.
— Meu filho, como você reprova em seu próprio idioma? — Minha avó falou.
— Não sei, talvez eu não tenha prestado atenção nas aula. — Percebe- se meu sobrinho. — Minha tia Tereza disse.
— Uma coisa — Daniel, o primo sarado, interrompeu. — Esse menino estranho, Defunto, sei lá, estuda? — Era a primeira vez que Daniel tinha visto Defuntino.
— Mais respeito com meu filho. E você só vai para a academia, não faz nada da vida. — Tereza começou a falar mais alto. Isso não era nada bom. — E você só vive fazendo barraco na sua vizinhança.
— Pelo amor de Deus, parem, hoje é Natal. — Minha avó gritava.
— Quem convidou esse menino? Ele deveria estar na academia, cuidado para não engordar viu, garoto? — Tia Tereza não ficava calada. Rebatia tudo e todos.
Nesse momento, meu pai batia na mesa para que se faça silêncio. No Natal, costumávamos ser mais unidos, porém nesse já começou mal. Ray estava ao meu lado rindo de tudo, nossa família era uma piada para ela.
— Olha, Nicolas, quem é esse sarado do outro lado da mesa? O que disse que Defuntino era estranho — Ela mordia o lábio inferior.
— Ray, eu não acredito que tu já está atrás de macho, e ainda por cima é nosso primo.
— Sério? Eu nunca nem vi essa peça aqui.
— É o Daniel, é nosso primo, foi a primeira vez que ele veio. Eu já o conhecia porque fui passar um feriado lá na casa dele. Ele é filho daquela tia nossa que só vive viajando para fora do país. Meu pai convidou ele para a ceia. — coloquei mais uma colher de arroz na boca.
Todos comiam delicadamente seus pratos. Quando algo bizarro começa a acontecer. Letícia está fazendo uma feição incomum. Nossa, era uma careta horroroza. Ela já é feia, fazendo isso fica mais feia ainda. Ela se contorcia toda, parecia ter nojo de alguma coisa que ainda não identifiquei.
— Minha filha, está tudo bem? — Papai já estava preocupado. Letícia balançou a cabeça em sinal de negação. Ela não estava bem.
— Meu Grande Deus, ela está sendo incorporada pelo Diabo. Repreende em nome de Jesus. — Minha avó se levantou, pegou a bíblia, chegou perto de Letícia e começou a recitar uma versículo bem alto para que os espíritos maldosos saíssem do corpo daquela menina. — Sai, Satanás, sai do corpo da minha neta, esse corpo não te pertence, procura algo melhor, Satanás. — Minha avó empurrava a cabeça da minha irmã para frente a para trás.
Era possível perceber que Letícia estava cada vez mais enjoada com aqueles movimentos de vai e volta. Parece até que minha avó enlouqueceu. Letícia tentou, mas não conseguiu manter na boca o que ela havia comido. Ela cuspiu tudo em cima de mim, que estava do outro lado da mesa. Dei um grito histérico que todo mundo tirou a atenção de Letícia e voltou-se para mim. Eu estava todo recheado de arroz e passas por todo meu corpo.
— Eu não acredito que você sujou toda minha roupa nova! — Tentei fazer voz grave para disfarçar o gritinho que eu dei. Acho que consegui dar pinta de másculo.
Eu estava com muita raiva da minha irmã. Agora está provado, ela só faz merda. Meus olhos queimavam, meus punhos ardiam, minha vontade era de quebrar tudo.
— Calma, Nicolas, ela estava se sentindo enjoada. — Meu tio Igor tentava me acalmar.
— Calma nada, agora eu quero saber o que foi que aconteceu para ela me sujar todo.
— É, o que aconteceu, Letícia? — Meu pai estava em pé ao lado dela e tentava socorrê-la.
— Fala, menina. O gato comeu sua língua? — Minha tia Tereza fazia uma pergunta retórica. Porém, meu pai a repreendeu com um olhar endurecido. — Pode falar quando puder, minha filha. Sua aparência está péssima, está parecendo o incrível Huck. — Ele realmente estava preocupado.
— Pai, as passas estão com um gosto horrível. — Letícia fazia uma cara de nojo.
— Eu comi e elas estão com o gosto normal. Isso é frescura. Fica com fome então. — Madalena franzia os lábios. Ela pegou uma passa de seu prato e mastigou. — Olha aí que delícia, muito gostoso.
O que Madalena não esperava era que a passa estivesse crocante demais. Esperávamos ela engolir para que pudéssemos ver se realmente estava ruim. Era como se ela estivesse comendo algum salgadinho de milho crocante, que a cada mastigada um barulho de algo resistente quebrando aparecia.
— Mas que merda é essa no arroz, Jorge? — Madalena cuspiu tudo no chão.
— Meu Deus, Madalena, agora o Diabo incorporou no seu corpo? — Minha avó estava com a testa enrugada.
— Claro que não, mãe. Isso no arroz não é passas. — Madalena apontou para a tigela de arroz.
— E o que é então? — Eu perguntei e olhei para minha roupa para ver se tinha alguma ali, mas eu já havia tirado.
Eles olharam para mim e depois nós fomos olhar para a tigela de arroz. Tinha algo estranho naquilo tudo. Meu pai afirmava que tinha colocado passas, mas parece que tinha um recheio a mais naquela refeição. No fundo da sala de jantar, alguém estava rindo exageradamente como uma criança que acabou de sair do colo do Papai Noel. Era Defuntino. Ele estava dando altas gargalhadas, dava altos pulos na poltrona, ele estava transtornado! Talvez ele sim esteja com o Diabo no coro!
— O que está acontecendo, Defuntino? — Tereza perguntava assustada. — Algo de errado não está errado. — Ray falou surpreendida com Defuntino.
— A senhorita está muito desatualizada dos memes, viu? — Zombei. Desistimos de dar atenção para Defuntino e voltamos para a tigela de arroz, todos juntos.
— O que é aquilo na nossa ceia de natal!? — Letícia observou algo andando pela borda da tingela de arroz.
Paramos para observar o que minha irmã estava vendo, e dentro da tigela estava o arroz branco, porém, o que não esperávamos era que um ser muito pequeno estivesse andando pelas bordas do recipiente. Suas pequenas patinhas faziam com que ele andasse muito rápido pela tigela de vidro. Ele era redondinho e pequenino, e ainda tinha uma carapaça resistente. Por isso Madalena escutou o barulho de algo duro se quebrando nos seus dentes. O mistério acabou.
— Eram insetos por todo o arroz! — Todo mundo gritou em uníssono.
Todo mundo começou a cuspir no chão, inclusive eu. Não acreditava que alguém havia colocado insetos dentro da ceia de Natal. Era inaceitável. Minha família toda estava agoniada e dando pulos pela sala de jantar. Luciana gritava feito uma louca dizendo que ia morrer envenenada. Igor tentava acalmá-la, mas também estava com nojo. Madalena segurava a língua e passava um pano nela, uma verdadeira nojeira. O nosso natal estava um caos. Eu peguei água para lavar toda minha boca e não conseguia nem pensar nisso que dava uma ânsia de vômito.
— Não só no arroz, como na farofa, no bacalhau, por toda a ceia! — Minha avó, Josefa, gritava desesperada.
O caos estava instaurado pela casa, mas apenas uma pessoa não estava extasiada: Defuntino. Ele dava altas gargalhadas e nunca parava. Era doente. Ele amava insetos e não duvido nada que tenha sido ele quem fez isso com sua própria família.
— Tia Tereza, interna esse doente! — Ray estava incrédula.
— Por que você fez isso, Defuntino? — Tereza gritava com uma feição horrível. Até eu tive medo.
— Nada fiz. Apenas. — Era melhor ele ter ficado calado, pois ele fala de maneira nada normal, muito devagar, talvez tenha fumado alguma erva. Ele age de maneira nada normal, ele ri de maneira nada normal. Ele é estranho e agora todo mundo tem ranço dele, talvez até a própria mãe tenha.
— Vamos para casa, lá vamos conversar e você vai me dar seu celular. Pode está com a idade que for, mas ainda lhe controlo. E se resistir para me obedecer quebro um cabo de vassoura na sua cara. — Tia Tereza cerrava os dentes.
— Não darei meu celular para você, mãe, como vou tirar foto dos piolhos que tem no meu cabelo? — Ele ajeitava seus longos cabelos pretos.
Tereza já estava envergonhada. Todo mundo com olhares acusadores. Defuntino não tem educação nenhuma, além disso é um moleque. Minha tia saiu na frente e Defuntino a seguiu. Ela iria embora.
— Tereza, você vai embora uma hora dessas? — Meu pai disse preocupado. — Nosso primeiro natal que é um caos. — Ele olhou o caos instaurado por toda a mesa.
— Vou sim, meu filho me envergonha e eu fico aqui? Eu vou lascar o cassete nele e vou colocar na água com sal para ele aprender. Esse cavalo velho fazendo esse tipo de brincadeira. — Ela olhava para Defuntino queimando de raiva. Deu um tapa no braço dele para que ele andasse para fora. — Me desculpem meus irmãos e sobrinhos, minha mãe me perdoe. E você também. — Apontando para Luciana. — Mas terei que ir.
O resto permaneceu lá em casa e como sempre começaram a falar da péssima educação que o filho de Tereza possui. Depois, trocamos os presentes, peguei o meu e senti que era uma caixa. Defuntino caprichou nesse ano, finalmente ganhei algo bom, talvez um tênis. Curioso, abri a caixa de papelão aos poucos, queria ter uma surpresa. E tive! Várias baratas mortas e nojentas estavam dentro da caixa. Dei um berro enorme na sala de estar e joguei todas elas no chão. Estavam vivas!
— Mata! Mata! — pulei em cima do sofá.
— Rapaz, você é um homem ou um rato? — meu pai dizia e, ao mesmo tempo, matava todas com a vassoura.
— Talvez seja uma largatixa... — Falei baixinho para que ninguém ouvisse.
Essa é minha família, esse é meu natal, essa é minha vida. Cada família tem algo singular, único. Momentos ruins existem em todas elas. A minha se desentende 364 dias do ano, apenas no Natal é mais tranquilo, até no Ano Novo tem briga. Mas essa é minha família e eu tenho que ser grato por ter uma. Tudo bem que isso realmente é chato, a união é um laço sentimental que admiro muito. Mas o que posso fazer? EU SEMPRE MEREÇO, SEMPRE MEREÇO...
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O que é aquilo na ceia de natal?
HumorO inesquecível Nicolas está de volta. Dessa vez, junto com toda sua família reunida para a ceia de natal. Juntos, são vítimas de um ocorrido fora do normal. Há alguma coisa na ceia de natal preparada pelo pai de Nicolas, Jorge; Nicolas e sua famíli...