Capítulo Quinto -
Promessas Quebradas
Durante seis meses a saudade que sentia pelo Takashi me consumiu, eu acordava todas as noites abraçado ao seu travesseiro, desejando infinitamente que fosse ele a estar ali. Eu já imaginava que seria difícil ficar sem vê-lo por tanto tempo, mas não podia sequer imaginar que esse seria o meu estado no final das contas.
Fazer coisa simples, como escovar os dentes por exemplo, haviam se tornado uma cachoeira de lembranças que despertavam a falta.
Me sentia como um doente, sem poder tomar o único remédio que poderia me deixar em plena consciência. Até ir para a patrulha tinha se tornado uma tarefa dolorosa, e eu não entendia o porque ele fazia tanta falta assim.
Me peguei suspirando novamente ao ligar a televisão, estava passando um de seus programas favoritos na hora. Normalmente ele vinha todo animado para ver, me chamava e obrigava a assistir com ele. Sem nem perceber exatamente quado, eu estava acompanhando a trama também.
Foi perto das nove ou onze da noite, eu não tinha certeza, quando o programa acabou. Eu estava deitado no sofá, segurando o travesseiro dele com o se fosse o meu bem mais precioso naquele momento. E de fato era, tudo que era dele havia se tornado uma preciosidade para mim.
O jornal começou, como de costume a essa hora apenas eu ficava na sala, já que Takashi preferia dormir e deixar para que eu lhe desse as noticias pela manhã. Uma matéria mostrava sobre tráfico de armas dentro dos centros urbanos, outra sobre alguém que infelizmente não resistiu aos ferimentos e morreu.
Mas uma matéria em específico chamou a minha atenção, tinha como entrevistado um dos cabeças da Patrulha, prestava desculpas as famílias das vitimas; eu não entendi, algo havia acontecido e eu não devo ter notado. Uma voz começou a falar, era a jornalista chefe, comentava sobre a trágica perda dos pilotos da missão Kerberos, por uma provável falha da equipe.
Larguei o travesseiro e, para ter certeza do que ouvi, aumentei o volume da televisão e me sentei no sofá já sério. Três fotos apareceram na tela, e logo na primeira eu pude sentir lágrimas escorrerem de meu rosto, era um choque. Levantei, deixando cair o controle e o travesseiro. Estampada naquela tela, ao lado das fotos de dois membros da família Holt, estava a minha família.
O meu mundo, a única coisa boa que eu tinha e queria manter. Meu coração já estava disparado à essa altura, e me sentia mal para respirar, ficar de pé era impossível.
Caí de joelhos olhando para a foto de Takashi naquela televisão, aquela legenda abaixo dos três, que culpava o piloto pelo desaparecimento dos demais, estava me deixando sem ar. As lágrimas molhavam meu rosto, se acumulavam em meu óculos e caíam como as gotas de água de uma cachoeira.
Meu peito doía, e tudo que sentia vontade de fazer era chorar mais e mais alto, gritar como se não houvesse mais amanhã para me preocupar. Queria que ele me ouvisse chorar, ele talvez assim viria correndo para me ajudar, e eu veria que estava apenas tendo um pesadelo horrível. Mas que ele estaria ali tentando me acordar. Gritei, e nada me impediria de fazê-lo.
- TAKASHI!!!! - eu gritava várias e várias vezes, apertando o peito, de joelhos naquela sala ouvindo as lamentações dos desenvolvedores da nave, do capitão e dos encarregados. Não me importei quando meu óculos caiu, não fazia diferença - SHIRO!!!!
Me senti um completo monstro, eu o havia mandado para aquela missão quando ele havia desistido de ir. Poderia ter o apoiado para ficar, e se eu tivesse? Ele estaria aqui comigo agora, estaríamos vendo as noticias juntos? A família Holt ainda estaria completa, com todos vivos e a salvo voltando para casa? Eu gritava, mais e mais alto, chamando por ele.
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Antes de Kerberos, Existia Nós Dois
ФанфикShiro tinha tomado sua decisão, e nada o faria mudar de ideia àquela altura, estávamos fadados a nos separar. E, embora eu não quisesse permitir isso, tudo o que podia fazer por ele era esperar, ansioso, por sua volta.