primeiro e único pulo

208 28 11
                                    

obra da incrível jojo, dêem amor para depois de você.

Mais um caso sem graça resolvido, mais um dia nesse apartamento vazio e escuro, mais uma garrafa esvaziada. Tudo por sua culpa, Victor. Você morreu, e eu, bem, permaneci.

Permaneço e quebro as promessas que fiz para você, de viver e de correr rápido, rir alto. Mas, veja pelo meu lado, você não está aqui para beliscar meu braço quando erro em algo, não está aqui pra rir de mim e me chamar de incompetente, não está aqui para me testar e atiçar meu melhor.

O terraço é frio na madrugada, e consigo ver Londres inteira daqui de cima. Você gostaria da vista, Victor. Consigo escutar tudo, o som abafado de um copo caindo no chão, as ambulâncias circulando pelas ruas, os bares fechando, tudo.

Olho pro chão da rua, pequeno e inofensivo. Penso na dor do impacto, no meu sangue no chão, e penso nos motivos para não cair. Ainda tenho motivos, suponho. Resolver casos, por mais simples e fácil ele seja, ainda me excita, ainda é bom. Fumar e sentir meu corpo flutuar, sentir minhas preocupações irem para o espaço. Irritar meus irmãos, passar dias sem comer e trabalhar mais rápido, depois me deliciar com minha comida favorita.

E não quebrar a promessa. Não poderia quebrá-la, não poderia ser tão egoísta a esse ponto.

Olho para a rua mais uma vez, dou os ombros e giro meus calcanhares para descer. Em segundos, bato em algo e estou no chão. Não sei que chão, só escuto um zumbir alto e algo quebrando. Meus ossos, talvez. O local que estou não é gelando e a dor não foi grande, não estou na calçada.

O último barulho que escuto são gritos e, logo depois, sirenes.

×

As sirenes machucam meus ouvidos, sinto que estou preso em algo, minhas costas doem, meu ombro queima, não sinto minhas pernas. Estou vivo. Não falhei com Victor, estou continuando minha vida. Escuto pessoas conversando, mexendo em mim, cutucando minhas veias. Não consigo pará-las, permaneço imóvel.

Percebo, depois, que mordi minha língua quando cai. Não consigo movê-la, parece enorme dentro da minha boca.

— John? Verifica a pressão mais uma vez, por favor.

Senti algo em mim, não sabia identificar, era gelado e, logo em seguida, dedos envolveram minha cabeça, acariciando a minha nuca.

— Tudo vai ficar bem, querido.

Ele falava baixo em meu ouvido, em outra ocasião, renderia arrepios. Senti conforto, John passou segurança naquele momento, e eu apreciava isso.

Consegui abrir meus olhos, tudo parecia brilhante e movimentado. Vi John, seus olhos estavam fixos em mim, vi a sua companheira, ela dirigia rapidamente.

John tenta me explicar como fui parar ali, mas nada se encaixa, eu só lembro de estar pensando em Victor, e segundos depois, acordar em uma ambulância barulhenta. Eu caí de um telhado? Meu rosto está gelado e vagamente me dou conta de que estou começando a tremer.

— Ele está entrando em choque, John.

Acordo novamente. As dores diminuíram, seria morfina? Não consigo ver muito, está tudo embaçado, mas ainda vejo o vermelho brilhante e John.

— Você consegue mexer os dedos dos pés, Sherlock?

Não me esforço muito para mexer, consigo na primeira tentativa. É algo, a motorista fala.

— Estamos chegando, tudo bem?

Sinto mais uma onda de dor, como mil agulhas penetrando em minha carne, meus ossos quebrando repetidas vezes. Eu só sentia dor e mais dor.

John segurou minhas mãos e uma outra paramédica aplicou algo em mim, fiquei mais sonolentos e grogue. Só queria dormir e que aquilo passasse.

— For fafor, não me lharga.

— Eu não vou, Sherlock.

me before you - johnlockOnde histórias criam vida. Descubra agora