8. Vincenzo e Ela

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Qual o preço a pagar para que a vingança seja feita? Eu ainda não sei, mas que é bom saboreá-la, sim, é muito bom. A vingança é um prato doce que se come frio. Não, não é sorvete, mas a sensação de bem-estar é semelhante. É quase como saborear a justiça, só que a diferença é que você paga qualquer preço pela vingança.

Michelly era seu nome, ela entrou aqui no escritório dois meses depois de mim, aqui no famoso site de entretenimento Butterfly. Eu sou Christine Moura, editora de uma das páginas do site sobre decoração e reciclagem doméstica. Você deve estar pensando como uma garota como eu conseguiu uma vaga tão boa assim? Bom, meu pai era o diretor e editor da página de esportes, ele fazia o que sempre gostou de fazer e ainda mandava em tudo. Meu pai sempre quis me colocar na empresa, mas eu nunca aceitei, era besteira para mim.

O meu negócio era "escutar rock, andar de skate e tomar cerveja", como dizia meu pai. Ele se esqueceu das drogas e festas. Ah é, ele não sabia disso até a polícia me levar para casa cinco horas da madrugada meu pai quase enfartou.

Eu estava me dedicando a esse emprego, estava há um ano. Eu havia me inscrito em uma faculdade de Web Designer. Já tinha a confiança de todos, tinha algumas amizades novas e saudáveis, larguei meus antigos amigos, as drogas, bebidas e festas, era uma nova mulher.

Até que ela entrou na minha vida.

No seu papo já desconfiei que ela jogava no meu time. Saímos algumas vezes, até ficamos, mas nada sério, deixamos claro que era apenas diversão, por causa do que podiam pensar de nós na empresa e na própria sociedade mesmo. Era secreto, óbvio, e acabou, até porque quando é secreto não pode ser duradouro, e eu terminei antes que começasse, não tinha porque continuar. Ela disse que me amava e ia contar para meu pai para nós namorarmos perante a sociedade, que é doente, que nem ela.

― Você é louca guria? ― minha paciência já havia se esgotado ― Eu não te amo, e não te quero mais!

― Enfrentarei tudo por nós duas! ― ela tentou explicar.

― Que nós? Eu sou eu e você é você. Separadas, como a água e o óleo!

Maldição. Maldita hora em que fui dar bola para aquela garota. Ela falou com meu pai sobre "nós". Eu tentei desmentir, mas não adiantou. Eu me esqueci de falar sobre um dia que ela me dopou e nos filmou transando na banheira do quarto do meu pai. Claro, ele ficou bravo comigo, só não me mandou embora da empresa porque ele achou que não fosse motivo o suficiente e eu estava recomeçando uma nova vida. Mas ela estava disposta a acabar comigo caso não ficasse com ela.

Michelly disse que realmente me amava. Amor doentio. Ela começou a sabotar meus trabalhos no site, o que foi a gota d'água para meu pai. Ele tomou de volta o meu carro e minha matrícula na faculdade.

― Por que fez isso? ― perguntei a meu pai, que estava sentado tranquilamente em seu escritório.

― Porque foi necessário, você saiu do controle, de novo, parece uma criança mimada!

― Pai! Pelo amor de Deus ― supliquei ― você não vê que é uma armação daquela vagabunda?

― Não. Eu vi muito bem você e aquela vagabunda transando na minha banheira. E sabe de uma coisa? Pareciam bem íntimas.

― Pai ― tentei explicar a meu progenitor ― ela me dopou, sabe que faz muito tempo que larguei essa vida. Eu até comecei a sair com um cara da faculdade.

― É? E quem é ele? Um de seus namorados de mentirinha? ― ele perguntou em tom acusatório, se referindo aos rapazes que eu fingia ser namorada.

― Não pai, é um cara legal, ele está estudando psicologia e ele me ajudou com esses transtornos, drogas e tudo mais. Pai, eu larguei dessa vida, acredite em mim!

Foi quanto meu pai começou a abrir os olhos e a ter confiança em mim, ele sabia que eu estava falando a verdade, podia ver em meus olhos que desta vez era sério. Voltei para a faculdade, ele devolveu meu carro e estou trabalhando em desenvolver sites para empresas. Isso fazia seis meses, aproximadamente, desde a última briga. Tirei os piercings até.

Estou morando com Vincenzo ― o cara que eu estava saindo ― há três meses, e estamos bem. Quem diria. Eu até tinha esquecido o que aconteceu, mas essa vaca começou a mandar e-mails para meu namorado sobre "nossas aventuras", muita coragem, mas ele já sabia de tudo, então simplesmente ignorou. E eu não iria deixar barato.

Em um dia chuvoso e barulhento por causa de trovões eu fui ate o apartamento dela. Ela tentava me beijar me pedindo perdão do que fez. Como foi legal olhar nos olhos dela, lacrimejados de arrependimento, de amor.

― Eu prometo que sairei da sua vida para sempre! ― A vi fazendo figas em quebra de promessa atrás de suas costas através de um espelho. ― Mas não faça nada de mal a mim!

― VO-CÊ ES-TÁ MEN-TIN-DO! ― gritei pausadamente enquanto golpeava o espelho atrás de Michelly. Ela soltou um grito de susto. ― Você vai sair da minha vida e vai ser agora!

Só pude a ouvir sussurrar "Eu te amo Christine" enquanto eu pegava a arma atrás de minha cintura. Saquei uma pistola a. 40 a 9 mm com silenciador e apontei para sua testa, engatilhei e atirei bem no meio. Foi muito rápido. Seu sangue, impuro, começou a escorrer do buraco da bala enquanto ela ia deslizando pela parede. Ela caiu no chão. Pálida, fria, com a mesma feição de tristeza de momentos antes de eu atirar nela.

Michelly não se dava com os vizinhos, e como não é um bairro "bom", todos do prédio se tornaram suspeitos. Eu voltei para casa, tomei banho por um longo tempo, vesti um babydoll vermelho e me deitei.

― Onde você estava querida? ― me perguntou Vincenzo beijando carinhosamente o topo da minha cabeça.

― Resolvendo uns negócios ― respondi.

― Eu sei que nunca sentira por mim o mesmo que sente por ― ele queria dizer algo, mas não em voz alta ― você sabe ― eu interrompi.

― Eu te amo Vincenzo. Você me ajudou a me tornar a mulher que sou agora. Tenho uma dívida com você, para sempre.

― Então você aceita meu pedido de casamento?

― Pedido de casamento? ― perguntei sem entender.

― Sim ― ele se vira para pegar uma caixinha de veludo vermelha, abre-a expondo um lindo anel de brilhantes ― Christine Moura, aceita ser minha mulher, casando-se comigo? ― A emoção tomou conta de mim, mas respondi com um sorriso enorme e lágrimas nos olhos.

― Sim, aceito ser sua mulher!

Ele se arrumou na cama para colocar o anel em meu dedo, depois me aconchegou em seus braços e fizemos amor até pegar no sono com o som da chuva.

Ele e Ela - Contos de Encontros RomânticosOnde histórias criam vida. Descubra agora