Eu tenho sangue doce para novinhos, isso é fato. E tenho sangue doce também para relacionamentos complicados. Não sei o que acontece, eu realmente não procuro por isso, mas quando vou ver, estou lá, naquilo que as pessoas costumam chamar de "uma fria". Meu histórico de amores inclui alguns lindos, mas realmente preocupantes. E isso é surpreendente, visto que sou uma pessoa romântica, do tipo que lê romances de banca e suspira pelo casal. Já sonhei em me casar na praia, na igreja, no campo, num lindo salão, mas na prática, não tenho tido muita sorte. E vocês vão entender o porquê.
Mas antes de começar, deixa eu apresentar: sou Amanda, uma moça simpática, não muito fora dos padrões de beleza vigentes, a não ser, é claro, pela minha pouca altura, embora isso não é problema, bem pelo contrário. Fui para a faculdade um pouco mais tarde do que gostaria, acabei fazendo um curso de Licenciatura em uma das disciplinas da área de Humanas, mesmo não sendo o meu sonho e por fim, aos vinte e cinco anos, consegui uma vaga temporária numa escola estadual de Ensino Médio.
Lembro que no primeiro dia na escola eu estava muito nervosa e insegura, não sabia direito o que fazer na sala de aula. Quando tocou o sinal, olhei o número da sala e fui, minhas mãos e pernas tremiam. Os alunos começaram a me encher de perguntas, alguns eram bastante infantis e me importunaram ainda no corredor, diziam que eu parecia aluna e não professora, e outros mais estudiosos, especialmente as garotas, me receberam com entusiasmo. A maioria tinha entre dezesseis e dezoito anos. Era uma turma grande, mais de quarenta alunos e estava muito calor naquele começo de fevereiro, somado ao meu nervosismo, isso me fazia suar frio. Mas em poucos minutos consegui engatar um assunto com eles e passei um trabalho de grupos, o que eles fizeram sem problemas.
Forçando a simpatia, eu passava em todos os grupinhos explicando o que eles deveriam fazer e aproveitando também para conhecer o pessoal que me daria trabalho aquele ano inteiro. Alguns mais quietos, outros mais falantes, alguns bem estudiosos. E alguns bonitinhos, mas tão crianças que apenas me fizeram rir.
O último grupo em que passei foi um lá da frente, formado por quatro garotas e um rapaz. Digo rapaz porque ele parecia mais velho que a maioria ali, era mais encorpado e tinha até uma barbinha discreta. Era o grupo mais aplicado, quando cheguei eles já tinham adiantado tudo e estavam numa discussão interessante. As meninas eram muito avançadas no conhecimento e o rapaz também se esforçava, embora eu tenho notado certa dificuldade na compreensão.
E também notei outras coisas. Notei que ele tinha cabelos cacheados e presos, um piercing no lábio inferior e olhos atentos que passavam pelos meus peitos antes de chegar ao meu rosto. Se chamava Gustavo e me chamou para pedir explicações umas três vezes naquela aula, além de sair junto comigo para o corredor no intervalo. Se despediu de mim com um sorriso e disse que tinha gostado da minha aula. Mas eu tinha certeza que ele estava pouco se importando com a Revolução Industrial, ele tinha gostado era de mim.
Não voltei naquela turma por uma semana, mas soube pelos colegas professores que ela era uma das melhores do turno, com menos bagunça e alunos com bom histórico nos anos anteriores. Tive vontade de saber mais sobre o aluno peculiar, mas não perguntei a ninguém, apenas olhei seu nome completo e data de nascimento na ficha e, de fato, ele era mais velho que os colegas.
Quando voltei na semana seguinte, o Gustavo estava ocupando a primeira carteira à frente da mesa do professor, encostado na parede e com ar de desinteresse, usando um boné que escondia todo o seu cabelo. A aula foi tranquila, mas dessa vez ele sequer abriu o caderno e toda vez que nossos olhares se cruzavam ele sorria, um sorriso claramente provocador. Aquilo me desconcertou de imediato, tanto que eu podia sentir um calor na barriga e um leve tremor nas pernas, mas de forma alguma deixei transparecer, tratei de tira-lo do meu campo de visão e me ocupar com os alunos do fundo, aqueles que atrapalhavam a aula. Mas de rabo de olho eu via que ele mantinha o sorriso e sabia que eu o evitava deliberadamente.
Saí da turma sem olhar para trás pra não correr o risco de ele me acompanhar pelo corredor. Longe dele, respirei fundo e ri sozinha. Era sempre assim, por mais que eu quisesse despertar a atenção de homens mais velhos, eram os novinhos que vinham atrás de mim. Eu tinha mesmo o sangue doce para moleques.
Num dia em que eu chegava mais tarde e ficava na biblioteca fazendo planejamentos, vi o Gustavo passando no corredor e fiquei curiosa, ele deveria estar na sala de aula naquele momento. Sem conseguir me concentrar no que fazia, levantei e fui ao bebedouro, tomei água enquanto esperava, se ele tivesse ido à sala da direção, teria que voltar por ali. Como ele demorou, eu me repreendi por estar perdendo tempo e voltei à biblioteca, mas poucos minutos depois ouvi passos no corredor e o vi passar pela porta devagar, olhando para dentro. Apenas retribuí o sorriso e continuei o que fazia, mas ele parou, olhou para os lados e entrou.
— Professora — disse ele, sempre me olhando nos olhos e nos seios. Não fazia questão nenhuma de disfarçar.
— Gustavo... por que não está estudando, hein?
— Ah, problemas aí. Já perdi essa aula mesmo, depois eu vou.
— Então pega um livro para ler até que essa aula termine. — Tá, eu estava interessada, mas ainda era profissional e tinha que incentivar a leitura.
Ele pegou um livro qualquer e sentou numa mesinha próxima, mas não demonstrou nenhuma vontade de lê-lo, ficou folheando-o desajeitadamente, depois se levantou e colocou de volta na prateleira. Nesse momento entrou outro garoto, mas ficou longe de nós e o Gustavo ficou perto de mim puxando assunto.
— Você ainda lembra o meu nome... — ele comentou, com um sorriso provocante na boca.
— Pois é, é que é um nome bonito. Tenho dois primos que se chamam assim.
Ele não pareceu convencido, continuou a conversa, mas fingindo que escolhia livros.
— Você tem quantos anos mesmo? Nem parece professora.
— Eu tenho 25 anos e estudei bastante. Por que não pareço professora?
— Não, é que você parece mais nova. E é baixinha assim, bonitinha, parece meninas da sala.
Olhei para o lado e tive receio de que alguém estivesse ouvindo aquilo. Respondi sem sorrisos e sem parar o que fazia.
— Mas eu não sou uma das meninas, viu? Fique esperto. Olha como fala comigo.
— Eu sei, você tem vinte e cinco anos. Eu já tenho dezoito. E eu não falei nada demais.
Revirei os olhos, sem conseguir me concentrar. Se o sinal não tivesse tocado e o Gustavo saído da biblioteca, a conversa iria render mais do que deveria. Antes de sair, ele ainda lançou aquele sorriso que ele sabia que fazia efeito. Balancei a cabeça, tentando segurar o riso. Aquilo não era nada bom.
Confesso que a partir daí eu comecei a ficar ansiosa para vê-lo pelos corredores, quando fui à turma dele na semana seguinte e não o vi, fiquei frustrada. Tomando cuidado para não dar bandeira, comentei com a professora de língua portuguesa sobre ele e ela disse que o conhecia bem, que ele era um bom garoto até se envolver com drogas e por isso costumava faltar muito. E que ele tinha reprovado no ano anterior.
À menção às drogas me assustou um pouco, mas nem assim deixei de pensar no Gustavo, confesso que até revirei as redes sociais em busca de informações sobre ele e não encontrei nada. Não tinha coragem de ficar fazendo perguntas e por isso não sabia onde encontra-lo. Mas a imagem dele estava fresca na minha memória, a pele branca, os cabelos escuros sempre presos ou ocultos por um boné, o piercing, o sorriso bonito e o olhar safado. O corpo dele não era de adolescente, ele era homem, era alto, tinha músculos discretos nos braços, pelos no queixo, embora parecessem os primeiros. A voz dele quando falava comigo era rouca e calculadamente sedutora, o moleque estava me dando uma aula de sedução. Mas se eu tivesse uma oportunidade, ia mostrar ele o que era uma aula! Como dizia uma amiga, ele tomaria um chá que nunca iria esquecer.
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Paixão Perigosa (Completo)
ChickLitAmanda é uma jovem professora que logo no seu primeiro dia de aula conhece Gustavo, um garoto de dezoito anos bonito e inteligente, mas suspeito de envolvimento em atividades ilícitas. Sem pudor nenhum, ela se deixa levar pelos encantos do rapaz, at...