[ Introdução ]
Alvorecer
Por _meninadojardim
⚜
"Nunca houve uma noite, ou um problema que pudesse derrotar o nascer do sol ou a esperança." (Bern Williams)
Senti a areia fria dentre os meus dedos dos pés, acariciando-os. Fechei os olhos – com força – por três segundos e, com um suspiro inesperado, meu peito rasgou-se.
Tinha corrido até ali sem sentir o domínio da hesitação sobre mim, porém, ao chegar na beira da praia, senti o poder da imensidão incerta encher-me de medos. Foi um alívio contido, que no início afagou a minha alma, mas que no final, já estava agarrando as minhas emoções.
As lágrimas molhavam o meu rosto, dançando soltas atrás de mim, enquanto minhas passadas ficavam cada vez mais firmes, cada vez mais velozes. Um, dois, três, meus pés ritmavam-se juntamente com as batidas do meu coração. Eu estava fugindo.
Quando ultrapassei os limites da calçada árida, parecia que o céu tinha se tornado chão. Meus pés beijaram a areia clara e seca, deixando que a minha pele se arrepiasse com a brisa carinhosa da madrugada. Eu estava sozinha no meio da beleza tão ludibriante da natureza.
Deduzi que estava fugindo de mim mesma.
Eu havia chegado a tempo de ver os primeiros raios solares da manhã ramificarem-se pelo azulado marcante e solitário do céu.
O sol estava nascendo.
E eu estava desejando – ardentemente – poder renascer.
Dei passos rasteiros até a beira do mar, ciente de todas as sensações que adornavam o meu corpo. Meus cinco sentidos deitados em harmonia sobre a perfeição da paisagem, só causavam em meu peito, a ilusão de ser alguém prestes a encontrar a paz.
Eu queria a verdadeira paz, aquela que o sorriso fácil acompanha, os braços adornam em calmaria e, o outro, é capaz de sentir. Eu buscava ser contagiada pela plenitude do céu e a firmeza do mar. Eu queria sentir a veracidade de uma vida feliz.
Remexi suavemente os dedos dos pés sob a areia úmida e pude senti-los subterrar com calma, quase em torpor. Ainda de olhos fechados, atentei-me aos movimentos sutis do vento ao meu redor, como um abraço gélido, mas reconfortante, em meus poros. Expirei e inspirei com obstinação, todo o ar que pude, sendo tomada de súbito pelo aroma inconfundível das folhagens saudáveis em concordância com o sal das gotículas de água que teciam o mar. Apesar de estar prestes a amanhecer do lado de fora, dentro de mim, só se via o arroxeado depressivo do pôr do sol.
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Relicário das Estações • Kim Taehyung
Fanfiction[ concluída ✔ ] Quatro estações podem renovar um amor. As folhas dos machucados do passado, caem. As sementes novas, em formato de esperança, são preservadas. As flores, mesmo tímidas e receosas, florescem no jardim esquecido, mal cuidado. E como um...